A trilha new wave embala o sobrev?o do helic?ptero que se aproxima da serra da Miseric?rdia, no cora??o do sub?rbio carioca. O filmete elaborado pelo governo do Rio para apresentar as obras que o PAC (Programa de Acelera??o do Crescimento) prev? para quatro favelas opera um milagre gr?fico e transforma o amontoado de casebres nas encostas do morro em bairro arejado.
Na imagem futurista do telef?rico que unir? o asfalto ao cume dos morros do Complexo do Alem?o, os moradores s?o brancos e arrumadinhos. Em poucos segundos, as vielas apertadas, encharcadas de ?gua das chuvas e de esgoto, as ribanceiras e as casas mal acabadas se transformam em ruas pavimentadas, em escadarias com grades de prote??o e em vistosos pr?dios p?blicos.
A pe?a cinematogr?fica demonstra que os projetos do PAC foram concebidos para provocar a "revolu??o" prometida pelo presidente Luiz In?cio Lula da Silva em quatro conjuntos de favelas Complexo do Alem?o, Manguinhos, Pav?o/Pav?ozinho/Cantagalo e Rocinha, onde vivem, conforme a fonte, entre 146 mil e 252 mil pessoas.
? a maior proposta de interven??o urban?stica em favelas da cidade, e possivelmente do Brasil. Ser? R$ 1,075 bilh?o vindo da Uni?o (75%), do Estado (20,5%) e da prefeitura (4,5%). O valor ? praticamente o mesmo que a administra??o municipal investiu desde 1993 em 143 comunidades com o programa Favela Bairro (US$ 600 milh?es) e mais do que o Estado colocou na despolui??o da ba?a de Guanabara (R$ 632 milh?es) em 13 anos.
O vice-presidente da Faferj (Federa??o das Associa?es de Favelas do Rio), Jos? Nerson, duvida, no entanto, da transmuta??o prometida pelo governo. "S? vendo."
O presidente Lula (PT), que esteve no Rio h? uma semana para dar in?cio ?s primeiras obras no morro do Cantagalo, o governador S?rgio Cabral (PMDB) e o prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), t?m um grande desafio pela frente: convencer os l?deres comunit?rios e os moradores que o pacote de obras de saneamento e urbaniza??o n?o ? apenas uma jogada pol?tica para explora??o eleitoral ou mais um remendo e fonte de novos problemas.
O medo maior dos moradores ? em rela??o ?s remo?es, um trauma na hist?ria habitacional do Rio. Isso explica o discurso de Lula, quando prometeu que nenhum governador "enxerido" mandar? a pol?cia remover os moradores.
O vice-governador, Luiz Fernando Pez?o, gestor das obras, considera a desconfian?a pior do que os enfrentamentos que poder?o ocorrer com os traficantes que dominam as ?reas escolhidas.
"Muita gente acha que a gente vai fazer mais uma obra qualquer e ir embora sem cumprir o que prometeu. A maior preocupa??o ? com remo?es. H? uma desconfian?a generalizada."
Vitrines
Os dois conjuntos de favelas do sub?rbio receber?o as maiores verbas: no Alem?o (12 favelas) h? promessa de investimentos de R$ 602 milh?es e, em Manguinhos (oito favelas), de R$ 328,4 milh?es. Elas nunca viram tanto dinheiro.
O principal projeto no Alem?o ? o telef?rico, inspirado na experi?ncia bem-sucedida de Medell?n, e que deve absorver cerca de 25% do or?amento. Pelo projeto, as cabinas suspensas percorrer?o 2,8 quil?metros e ligar?o a esta??o ferrovi?ria de Bonsucesso a plataformas em cinco morros, com capacidade para transportar por dia 30 mil pessoas.
Em Manguinhos, a obra de maior impacto (30% da verba) prevista ser? a suspens?o dos trilhos da ferrovia numa extens?o de 1,7 quil?metro ao longo das favelas.
Sob os trilhos, um parque de 246 mil metros quadrados inspirado n?o mais na Col?mbia, como est? na moda, mas, segundo o arquiteto que o planejou, Jorge Mario J?uregui, nas Ramblas de Barcelona.
As interven?es nas outras favelas seguem os mesmos princ?pios. Primeiro, facilitar o acesso com o alargamento das principais ruas, implos?o dos muros que isolam estas comunidades do resto da cidade e integra??o aos meios de transportes coletivos. Junto, amplia??o das redes de servi?os e a constru??o de pr?dios p?blicos que marquem a presen?a do Estado. E, por fim, nov