Militares das Forças Armadas começaram a entrar nas ruas de acesso às comunidades do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, desde o fim da madrugada deste sábado. A movimentação começou por volta de 5h. Caminhões e jipes do Exército passaram pela Avenida Brasil e Linha Vermelha e, em seguida, pararam nas principais vias. Policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) dão apoio à movimentação. Não há registro de confrontos, e o clima é de tranquilidade. Todos os veículos que passam pelas vias estão sendo revistados. As forças federais deverão permanecer por mais de três meses no local.
Na Rua Teixeira Ribeiro, um dos acessos à comunidade Nova Holanda, onde aos sábados é montada uma feira de alimentos e de produtos de construção, os comerciantes demoraram a montar as barracas. Robertinho de Belém, vendedor de eletrônicos, estima que o público da feira tenha caído 40%. Ele chega a faturar R$ 800 por sábado.
? Cheguei a ligar para os amigos para saber se teria feira. O pessoal fica com medo né? Mas está tudo na paz ? disse.
Na Rua Sargento Silva Nunes, na Nova Holanda, e em outras vias do Parque União, moradores mantêm a rotina e saem para trabalhar. Eles não acreditam que haverá confronto.
? Pode tirar o colete (à prova de balas), não vai ter tiroteio não ? disse um morador ao repórter.
Apesar da tranquilidade, os moradores ainda não sabem se a ocupação surtirá o efeito esperado.
? Acho que as coisas vão melhorar, sim. Mas só o tempo vai dizer.
A mudança oficial de comando será às 9h no local onde foram hasteadas as bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro. Os militares vão assumir as operações de busca a criminosos, drogas e armas. Equipes do Exército e da Marinha, com o apoio da Aeronáutica, vão se dividir nas favelas de acordo com o território ocupado anteriormente pelas facções criminosas. A Brigada de Paraquedistas do Exército deve ficar com o patrulhamento da Nova Holanda e do Parque União, antes ocupados pelo Bope.
Já os fuzileiros navais e uma parte do Exército ficarão na Vila dos Pinheiros, Vila do João, Salsa e Merengue, cujo chefe do tráfico era o bandido Menor P, já preso. O Exército estará na Roquete Pinto e na Praia de Ramos. Tanques darão suporte às tropas. A Marinha está participando da ocupação com 500 fuzileiros navais. Cerca de 200 PMs vão continuar na Maré.
Na sexta-feira, o clima nas favelas era de tensão e medo. Um morador disse que o tráfico permanece no local:
? Traficantes armados circulam pela Salsa e Merengue.
Denúncias anônimas de moradores estão ajudando a polícia a encontrar esconderijos de armas e drogas. São bilhetes e sinais passados discretamente porque a população das comunidades ainda convive com traficantes armados. Nesta sexta-feira, um policial contou que, à noite, a movimentação de bandidos, na região conhecida como Divisa, é grande:
? A situação não está sob controle.