O uso de mergulhadores profissionais pelo tráfico para esconder drogas em navios está se espalhando pelos portos brasileiros. Em 2019, foram apreendidos 360 quilos de cocaína colocados em embarcações por meio deste procedimento. No ano passado, esse número saltou para quase três toneladas.
Perigo e Risco
A operação é realizada geralmente à noite e o pagamento pode alcançar até R$ 300 mil. No entanto, o risco é elevado, e já houve casos de contratados para o serviço que morreram durante a execução.
Nos portos de Santos (SP), Vila Velha (ES) e Pecém (CE), os mergulhadores ocultam tijolos de cocaína em estruturas submersas de graneleiros e cargueiros. A droga é geralmente colocada em caixas de mar, que captam água usada como lastro ou para resfriar motores.
Apreensões
O Porto de Santos lidera as apreensões, com mais de duas toneladas encontradas no ano passado. Em 2019, a cocaína retirada das caixas de mar representava 2,4% do total de apreensões no maior porto do Brasil. Quatro anos depois, o percentual saltou para 30%.
São Paulo, devido ao Porto de Santos, é o estado com mais apreensões (4.711kg) de cocaína em cascos de navio, seguido pelo Rio de Janeiro (815kg), Espírito Santo (649kg) e Ceará (483kg). Outros estados também registraram apreensões significativas, como Rio Grande do Sul (364kg), Santa Catarina (414kg), Paraná (204kg), Pará (85kg) e Amapá (155kg).
Especialistas apontam que a diversificação dos portos utilizados reflete uma estratégia da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) de buscar novos locais para escoar drogas, em resposta à fiscalização no Porto de Santos. Segundo Daniel Hirata, coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF), outro fator é o investimento de outras facções criminosas.
Um relatório da seguradora marítima Proinde, de abril deste ano, indica que mais da metade das apreensões em caixas de mar contaminadas no Brasil ocorre fora do país (53%). Graneleiros, que transportam produtos agrícolas e minério de ferro, são menos fiscalizados que cargueiros, tornando-os alvos preferenciais.
Fatalidades
Um relatório de 2023 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) destaca que o processo é extremamente arriscado, com altas chances de fracasso devido a acidentes ou mau tempo.
Morte na Austrália
Uma operação ilegal resultou na morte de pelo menos um brasileiro em maio de 2022, na Austrália. O capixaba Bruno Borges foi encontrado morto nas águas de Newcastle, ao lado de 54 quilos de cocaína. Borges e o paulista Jhoni Fernandes da Silva haviam viajado clandestinamente ao país para recolher um carregamento de cocaína.
Desaparecimento e Prisões
Jhoni Fernandes da Silva está desaparecido. Em maio, uma caminhonete usada pelos criminosos foi desenterrada em uma área de mata de Newcastle. No mês seguinte, uma perícia foi realizada em uma casa no subúrbio de Sydney, onde se acredita que Jhoni tenha residido após a morte de Borges.
O empresário do ramo de turismo e operador de iates James Blake Blee foi preso em um aeroporto dois dias após o corpo de Borges ser encontrado. Ele é acusado de contrabandear US$ 20 milhões em cocaína e trazer ilegalmente a dupla em um veleiro da Indonésia. No fim de 2023, Blee admitiu ser culpado das acusações e aguarda julgamento, previsto para agosto.