Os pais de duas meninas descobriram na delegacia que as filhas sofriam abusos sexuais por parte do motorista de van de transporte escolar que as levava até o colégio, em João Pessoa. Na época do crime, elas eram apenas uma criança e uma adolescente. A mais velha, hoje com 18 anos, ia e voltava da escola com o mesmo motorista por 15 anos. A mais nova, com 11 anos atualmente, conviveu com Paulo Renato Svendsen Maciel por cinco anos. Ele está preso e foi condenado a 52 anos e seis meses de prisão.
Apesar dos anos de abuso, eles só souberam do caso ao comparecer à Delegacia de Crimes contra a Infância e Adolescência de João Pessoa, para buscar informações sobre violência contra outra vítima. Eles contaram que a esposa do motorista disse que o marido estava sendo acusado de praticar violência contra outra criança e, por isso, pediu para que o casal assinasse um documento dizendo que conhecia esse motorista e que ele era uma boa pessoa.
Para entender melhor a história, os pais foram até a delegacia. Quando chegaram no local, descobriram que a acusação era de violência sexual e que a filha deles era uma das vítimas, após elas contarem o que havia acontecido.
Eles dizem que o homem, que já foi vizinho da família, foi motorista de transporte escolar por mais de vinte anos. “A gente conhecia ele há muitos anos, nossa filha mais velha começou a andar com ele quando era muito pequenininha, ainda na pré-escola”, disse a mãe das vítimas.
A denúncia do Ministério Público foi entregue à Justiça em julho de 2017. No mês passado, Paulo Renato foi condenado a 52 anos e seis meses de prisão. O mandado de prisão já foi cumprido e ele está preso.
A delegada da infância e juventude, Joana D’arc, lembra que, na maioria dos casos, quem comete o abuso sexual contra uma criança é alguém que já convive com ela. “O maior número de abusos sexuais é de padrastos, pais, são pessoas da confiança da vítima, depois vêm professores, motoristas de vans, vizinhos, amigos íntimos, pessoas que têm aquela confiança e no meio do caminho estupram a vítima”, declara.
O casal, que tenta reestruturar a família, disse que foi somente após a filha menor falar sobre os abusos à delegada que a mais velha tomou coragem e decidiu contar.
“Ela passou muito tempo calada, sofrendo, não disse nada a ninguém e tinha medo que ele ficasse com raiva, e fizesse alguma coisa com a irmãzinha mais nova e acabou que aconteceu com as duas. E a pequenininha não tinha ideia do que estava acontecendo, quando ela começou a relatar, o que estava acontecendo, todo mundo ficou emocionado, o depoimento foi muito forte”, revelou a mãe.
“Quando ela começou a falar e pedir desculpa por não saber que o que tinha acontecido com ela era errado, é muito ruim, você não tem noção da dor, do sofrimento”, desabafou o pai das meninas.
A psicóloga Ariadne Bezerra, que acompanha o caso, lembra que as vítimas mudam o comportamento depois que passam pela violência sexual. “Elas geralmente ficam introspectivas, mais isoladas. Geralmente, quando são adolescentes, se isolam, e os pais acham que é característica da adolescência. Elas se isolam, chegam a fazer cortes, tentar mutilação, o choro fácil”, alerta.
A delegada Joana D’arc lembra da importância de denunciar. “É um crime hediondo e deixa sequelas psicológicas, então a gente tem que ter o máximo de atenção e fazer uma investigação profunda, para que esse sujeito não venha se livrar da Justiça”, explica.