A divulgação das informações preliminares sobre o acidente com o voo 447 da Air France, que matou 228 pessoas em 2009, nesta sexta-feira, pelo BEA, sigla em francês para Escritório de Investigações e Análise, responsável pela investigação do acidente, foi interpretada como ?mais do mesmo? por familiares brasileiros das vítimas. No entanto, parentes de vítimas acreditam que a descrição do relatório divulgado hoje mostra que os passageiros sofreram durante a queda.
Para Maarten Van Sluys, que perdeu a irmã na queda do avião, a precisão dos acontecimentos minuto a minuto fizeram com que muitos familiares pudessem recriar a queda do avião. "Recebi ligações de pessoas chorando. Foi possível recriar esse cenário, o que é muito trágico, e entendemos que os passageiros sofreram muito durante a queda, pois não teria havido despressurização da aeronave e os passageiros estariam conscientes. Nós gostaríamos de ter as informações completas. Preferia saber de tudo, mas de uma vez só".
Segundo o BEA, ao contrário da versão que vazou na imprensa há dez dias, culpando os pilotos pelo acidente, a análise das caixas-pretas recuperadas mostrou que o problema inicial foi uma falha nas sondas de velocidade no avião da Airbus.
"Falaram muito e não disseram nada. Como a opinião pública não aceitou a ideia de que a culpa era dos pilotos, eles vieram com essa história", disse Nelson Faria Marinho, presidente da Associação de Vítimas Brasileiras, ao UOL Notícias. Ele perdeu um filho no acidente.
"Vieram com a preliminar mais suave, não culpando mais os pilotos. Fomos informados de que o relatório oficial em junho, depois da feira de aviões que acontece na França?, disse Marinho ao citar um evento do setor aéreo que acontece nos próximos dias na França, e do qual a Airbus é um dos principais expositores. Para ele, qualquer informação mais comprometedora poderia prejudicar o desempenho da empresa na feira.
"Todos os pilotos com quem conversamos afirmam ter havido negligência da Air France. Não confio em nada do que eles falam. Como eles vão levantar coisas contra eles mesmos?", completa ele.
Para Sluys, as informações divulgadas hoje, apesar de um pouco mais conclusivas, não trouxeram fatos novos.
"Essa interpretação [da falha nas sondas de velocidade] não é nova. Essa política do conta-gotas está dentro da estratégia do BEA na divulgação de informações sobre o caso. Ele [o relatório] é mais conclusivo sobre os intervalos de tempo dos acontecimentos, o tempo da queda do avião e os diálogos finais", disse Sluys.
"A notícia boa, se é que podemos chamar disso, é que não foi feita nenhuma formalização de culpa aos pilotos, pois para nós eles foram vítimas da falha do avião", completa.
Com relação ao final da investigação, Marteen se mostra mais otimista. ?Ainda que demore, acredito que a verdade pode tardar, mas não vai falhar nesse caso, devido à notoriedade que ele adquiriu. La na França, por exemplo, os pilotos dos sindicatos com quem temos contato me dizem que não se passa um dia sem que esse acidente não seja comentado, lembrado?, diz.
Ainda segundo os familiares, nenhum contato foi feito com as famílias das vítimas brasileiras sobre os exames de DNA para identificar os corpos encontrados, 29 até agora.