Iago Pedro, tem 22 anos, é surdo e acabou de concluir o curso em Letras Libras pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), sendo o surdo mais jovem a se formar da turma de 2019. O jovem também foi a primeiro surdo a ser escolhido para ser orador da turma e realizar o discurso solene durante a colação de grau que aconteceu na noite de segunda-feira (05), no Cine Teatro da UFPI.
Para a mãe de Iago, a conselheira tutelar Cláudia Pires, é gratificante saber que todos os esforços valeram a pena com a realização pessoal e profissional, afinal foram anos de dedicação e cuidado para que Iago pudesse estudar. O ato da formatura consolidou toda uma vida de dedicação, muito esforço e serviu como um reconhecimento por todo esse empenho.
"Como mãe do Iago estou realizada, agradecida a Deus. Eu nunca precisei cobrar para ele estudar. Desde pequeno ele sempre foi esforçado, queria fazer diferente, falava que ele tinha os direitos deles e que as pessoas tinham que olhar respeitando e não como coitadinho, mas como um surdo inteligente e capaz. De fato ele é tudo isso, está se formando agora com 22 anos, no fim desse mês já se torna especialista em Letras Libras", afirmou.
O estudante piauiense deu uma lição de superação e perseverança com seu discurso, mostrando que as diferenças não são barreiras para o aprendizado. A expectativa é que o exemplo de Iago sirva para que outros surdos também possam conseguir realizar seus sonhos.
“Eu tenho um sentimento de orgulho, estou muito feliz porque sou uma pessoa capaz e tenho muita segurança, minhas experiências de trabalho e, agora, com a formatura, serei professor. Por isso meu discurso foi montado para ressaltar que a inclusão é um direito e que devemos respeitar todas as deficiências. Além disso, destaquei a importância que a família tem no desenvolvimento do surdo para ter uma comunicação melhor e uma troca de sentimentos”, destacou o jovem, que falou à comunidade surda através da Libras e contou com um intérprete que reproduziu o discurso para os ouvintes que acompanharam a solenidade.
Inclusão
Há três anos, Iago foi aprovado em um teste seletivo da Secretaria Estadual de Educação, onde atua como instrutor no Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas Surdas (CAS), que tem o objetivo de promover uma educação inclusiva, e não pretende parar com os estudos e na capacitação de surdos e ouvintes. Ele deseja ingressar no mestrado, seguir para o doutorado e atuar como professor efetivo da UFPI.
“Eu agradeço muito minha mãe que sempre me ajudou e incentivou. Eu tive muitas dúvidas, mas minha mãe sempre me mostrou os caminhos certos e depois da especialização não vou perder mais tempo, estou focado no meu mestrado e eu desejo e sonho ser professor da UFPI. Agora meu foco vai ser mestrado na minha própria linguagem e, no futuro, quem sabe, eu não vou ser um doutor? Porque aqui no Piauí não tem surdo próprio do Piauí com mestrado e doutorado, por isso que meu futuro eu almejo concluir meu mestrado e doutorado”, adiantou.
Cláudia Pires, que se especializou na Língua Brasileira de Sinais, fez todos os cursos do CAS e se tornou atualmente intérprete de Libras. “É uma batalha contínua e eu lamento muito em observar que o desenvolvimento de um deficiente depende muito do apoio familiar. Se a família não é base, ninguém desenvolve, não é só o surdo, mas qualquer deficiência, então eu me dediquei, abri mão de tudo para cuidar do Iago, aprendi, sou especialista em Libras e agora me tornei intérprete”, finaliza.