Penitenciárias não possuem estrutura adequada para as detentas mães em Teresina

Ser mãe não tem o mesmo sabor quando se está atrás das grades. Muitas presidiárias pagam duplamente pelo crime que cometeram

LIGAÇÃO | Presidiárias convivem pouco tempo com os filhos | José Alves Filho
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Símbolos máximos de amor imensurável, as mães são a unidade principal da constituição familiar. Presentes em todos os momentos, para elas os filhos são uma extensão de si mesmas e sempre os verão como eternos bebês que precisam de carinho e proteção.

Mas as curvas da vida nem sempre possibilitam que o seu amor seja manifestado plenamente, como as mães que vivem a dura realidade do sistema prisional. Privadas do convívio diário com a prole, a sua vida não tem a mesma alegria.

É o caso da jovem Adriana Tavares, de apenas 26 anos. Presa duas vezes por tráfico de drogas, ela sabe bem o que é ter um amor interrompido, pois teve dois filhos na prisão.

?Dei à luz na cadeia nas duas vezes que fui presa. Passei seis meses com ela, mas precisei entregar para minha sogra porque não podia passar por aquilo?, conta. Adriana é mãe de cinco filhos e conhece como ninguém o sofrimento de criar um filho por trás das grades.

Ela divide cela com outras três mães e dorme com a filha em um colchão. A felicidade inexplicável de acompanhar os primeiros passos e palavras iniciais do filho se perde no vazio de não poder compartilhar a emoção com os pais, filhos, parentes e amigos.

?É muito diferente, na rua a criança pode correr, brincar com outras crianças e conhecer o mundo como ele é. Aqui dentro é outra história, meu bebê passa o dia inteiro dentro de um cubo. Ela já está querendo andar e correr, mas não pode fazer isso?, lamenta a mãe.

A detenta foi condenada a dez anos de prisão em regime fechado e fez a opção de entregar a guarda do filho para a sogra. Essa é a segunda vez que ela faz isso e prefere que os filhos não a visitem de jeito nenhum.

Quando a criança começa a andar, as portas da cela se abrem e a mãe é transferida para uma espécie de regime semiaberto. Um alívio que jamais saldará os momentos de amor que ela compartilharia com os filhos e família, pois Adriana será impedida de acompanhar a criança no primeiro dia de aula ou até mesmo de passar os próximos dia das mães ao lado dos filhos.

Mas ela prefere entregar os filhos a outros para evitar o constrangimento de criá-los atrás das grades. ?Não quero que eles cresçam sabendo que a mãe está presa, pois ele vai virar piada na escola. Por isso prefiro entregar para quem cuide melhor e tenha condições de dar uma vida boa e livre desse constrangimento?, desabafa.

A situação piora porque os rebentos crescerão distantes dos pais, já que o marido de Adriana também está preso na Casa de Custódia. Ela continua a receber visitas íntimas e corre o risco de engravidar novamente, pois o marido não usa preservativos e ela nem sempre toma o medicamento contraceptivo.

Mas ela não deseja isso nem para o pior inimigo. ?Deus me livre de ter outro filho aqui dentro. É muito difícil e não quero que ele passe por isso?, confessa.

No Dia das Mães, Adriana tem uma mensagem para entregar. ?Espero que minha mãe me perdoe por tudo o que fiz, pois ela não merece. E que ela dê para meus filhos que estão lá fora o mesmo amor incondicional que deu a mim.

E para todas as outras mães, peço que parem e pensem um pouco para não caírem no mesmo erro que o meu, pois assim não serão obrigadas a punir o filho por um erro de que ele não teve culpa?, diz.

Quando o filho está do lado de fora

Michele de Carvalho foi vítima de uma fatalidade. Após se divorciar do primeiro marido, com quem tinha dois filhos, encontrou um namorado "barra pesada", palavras suas.

Membro de uma gangue que espalhava o terror na cidade de Barras, certo dia se deparou com a notícia de que ele havia matado outra pessoa. Ela garante que não sabia de nada, mas mesmo assim foi acusada de ser cúmplice do assassinato.

Foi quando o mundo de Michele caiu. Mãe coruja de duas crianças, com 8 e 11 anos na época, hoje a amarga a saudade de não poder abraçar e beijar seus anjinhos.

A tristeza ganha tons amargos porque o filho mais velho a rejeitou logo que foi presa. "Ele chegou a me visitar duas vezes, mas certo dia falou que não tinha mais mãe e pediu para eu nunca mais procurá-lo quando saísse daqui", lembra.

Com a filha foi ainda pior. Elas eram unidas como unha e carne e a dor da separação foi um baque maior para a filha do que para Michele. Mais que mãe e filha, eram amigas e confidentes. Hoje a filha visita a mãe quatro vezes por ano e cada vez parece ser mais difícil.

"Toda vez que a vejo fico triste por saber que perdi as melhores fases da vida dela. E sempre que me vê é um chororô, mas nosso coração fica cheio de alegria.

Ela me conta tudo sobre a vida dela, como está indo no colégio e fala confidências. A última coisa que me disse é que queria namorar. Quase caí para trás, mas me recuperei e disse que estava muito cedo para ela fazer isso", relembra.

A dor de passar mais um Dia das Mães longe da filha é um peso imensurável para Michele, pois é uma saudade que não tem tamanho. Mas o tempo na cadeia a transformou e ensinou a ser mais mulher.

De detenta rebelde ela se transformou em exemplo a ser seguido: começou a estudar, tem bom comportamento, faz bordado e hoje trabalha na panificadora da penitenciária feminina.

O bom comportamento rendeu recompensas, pois no próximo feriado Michele terá permissão para passar os feriados junto da família. Hoje ela se sente mais madura e pronta para poder dar um longo abraço na filha. "E acima de tudo, recuperar o amor do meu filho", finaliza.

Penitenciárias não possuem estrutura adequada para mães

O ambiente hostil onde esses filhos são criados parece coisa de cinema, mas nem uma película descreveria com propriedade a sensação de criar um filho por trás das grades.

Apesar da Lei de Execução Penal nº 11.942/09 garantir que as penitenciárias femininas devem ser dotadas de berçário e as mães devem cuidar e amamentar seus filhos por no mínimo 6 meses de idade, a realidade é diferente do que está proposto por decreto.

Na Penitenciária Feminina de Teresina, os recintos penais não dispõem da estrutura necessária para a criação adequada de crianças. Berçários podem ser uma realidade, mas o restante continua a ser uma realidade distante.

A diretora Geracina Melo convive diariamente com a falta de estrutura do sistema prisional e reconhece a falta de estrutura das cadeias. ?Felizmente, seremos beneficiados com uma unidade materna infantil, que deve chegar em breve?, conta.

Sobre as dificuldades diárias, ela admite: é difícil. Mas ela gosta do que faz e não mede esforços para dar um pouco de dignidade àquelas mulheres que já perderam tudo e perderão também o amor e companhia do filho, que um dia partirá para longe dos braços amorosos de sua mãe.

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