Em meio a times cada vez mais enxutos e à crescente pressão por resultados, até mesmo os profissionais responsáveis pela gestão de pessoas, que têm como objetivo manter o bem-estar nas empresas, estão enfrentando altos níveis de esgotamento. No entanto, de acordo com a 2ª edição da Pesquisa Profissionais de Recursos Humanos 2023, conduzida pela consultoria Mercer, um perfil específico é particularmente afetado pelas doenças mentais.
De acordo com a pesquisa, que envolveu 333 profissionais de recursos humanos de diversos níveis de carreira, perfis e setores de atuação, constatou-se que o grupo de profissionais de recursos humanos mais afetado pelo diagnóstico de doenças mentais é composto por mulheres (73%), casadas (66%) e ocupando cargos de gestão (71%).
Tradicionalmente, o público feminino tem maior representatividade nos cargos de gestão de pessoas. No entanto, segundo Marisabel Ribeiro, diretora Executiva de Talent Strategy Brasil da Mercer, existem outros fatores que contribuem para que as mulheres sejam mais afetadas psicologicamente, tanto no segmento de RH quanto em outras áreas. Um desses fatores é a disposição das mulheres em falar abertamente sobre saúde mental, sem tabus, o que as leva a buscar ajuda profissional mais facilmente do que os homens.
“Quantos homens não apresentaram e não se atentaram a contento ou estão com os primeiros sintomas de burnout e ainda não sabem? Podemos estar frente a um comportamento de “menosprezo” ou “autocuidado” aqui”, afirmou a executiva.
No entanto, Marisabel reconhece que é importante levar em consideração questões adicionais, como a dupla jornada enfrentada pelas mulheres e a maior pressão sobre elas para realizar tarefas domésticas. Esses fatores adicionais podem contribuir significativamente para o maior impacto psicológico observado nas mulheres, tanto dentro como fora do campo de recursos humanos. “Essa questão da dupla jornada, e as preocupações e organizações da rotina da família, como, por exemplo, as decisões que precisam ser tomadas no dia a dia, ainda exige da mulher um papel mais predominante no gerenciamento familiar, mesmo com alguns homens hoje assumindo esse papel de forma mais efetiva”, acrescentou.
Mulheres também representam maioria das demissões em RH
O estudo realizado pela Mercer também revelou que o gênero feminino corresponde a 63% dos profissionais que pediram demissão, com 64% dessas mulheres pertencentes à geração Y (com idades entre 26 e 40 anos). Além disso, 81% das mulheres que deixaram seus cargos estavam atuando na área de remuneração e bem-estar. Esses dados evidenciam uma preocupante tendência de saída de profissionais femininas, principalmente nas áreas mencionadas.
Assim como em outras carreiras, a pandemia da Covid-19 e os desafios que ela trouxe ao mercado de trabalho foram apontados como fatores que agravaram os quadros emocionais dos profissionais de gestão de pessoas. De acordo com a pesquisa, 67% dos profissionais de RH que relataram problemas psicossomáticos afirmaram que sua condição piorou durante a pandemia. Isso destaca o impacto significativo que a crise sanitária teve sobre a saúde mental desses profissionais, exacerbando os desafios que já enfrentavam anteriormente.
“A pandemia gerou um aumento do trabalho para todos. E o RH foi protagonista das ações dentro das empresas para se adaptar a essa nova realidade. Isso foi complexo e cansativo para os profissionais”, diz Marisabel.
Para a especialista, é possível ver ganhos no cenário, apesar do esgotamento dos profissionais. “O RH sai desse período de pandemia deixando claro a sua força e relevância dentro da organização. Ele deixa de ser visto como uma área de apoio somente, passa a ser enxergado como uma área estratégica. Mas também fica o alerta sobre como estamos preparando essas pessoas que são a chave para o sucesso da organização”, finalizou.