Parentes do casal de PMs assassinado em um massacre que chocou o Brasil no ano passado falam pela primeira vez sobre o caso. Para a polícia, a tragédia da família Pesseghini foi causada pelo filho de 13 anos, que também morreu. Mas o inquérito não está concluído e novos indícios põem em dúvida a versão oficial.
Uma gravação revelada hoje mostra a troca de mensagens carinhosas entre mãe ? a cabo da PM Andreia Bovo ? e filho ? Marcelo Pesseghini ? mortos na chacina da Brasilândia, na zona norte de São Paulo ? em agosto de 2013. O áudio estava guardado em um dos celulares do adolescente ? apontado como único suspeito da matança.
Sete meses depois que cinco pessoas da mesma família foram encontradas mortas dentro de casa, os investigadores ainda não conseguiram concluir o inquérito.
Pela primeira vez, os avós paternos do garoto Marcelo Pesseghini, que foram ignorados pela polícia, aceitaram falar com uma equipe de reportagem.
Maria José e Luiz Carlos são pais do sargento da Rota, Luís Marcelo Pesseghini, e não querem mostrar o rosto. Mesmo com medo, encontraram forças para revirar um caso cheio de dúvidas.
Para a polícia, o neto deles, de 13 anos, atirou no pai, na avó e na tia avó maternas e por último na mãe. Ele também teria usado o carro da família e dirigido até a escola, onde assistiu às aulas normalmente. Mas os avós dizem que ele nunca soube dirigir.
Colegas de escola prestaram depoimento dizendo que o menino queria ser matador de aluguel e que revelou que pretendia assassinar os pais. As fotos da perícia colocam o adolescente na cena do crime, a arma usada na chacina estava na mão dele e não há vestígios técnicos de uma outra pessoa no local.
Os avós também defendem o neto que, segundo eles, nunca soube atirar e que nunca teve contato com arma de pai e mãe.
A advogada contratada pela família exige novas análises. No inquérito completo há lacunas que precisam ser preenchidas.
Ingressos de cinema provam que a família passou a tarde em um shopping center ? o que contradiz o depoimento de uma testemunha chave do crime: um colega de trabalho de Andreia que afirmou em depoimento que houve um churrasco na casa da família no início da tarde de domingo ? no qual ele estaria presente.
Outro detalhe causou estranheza à advogada: há uma ligação da cabo da PM feita do celular para o telefone fixo da mãe ? registrada as 21h. Isso indicaria que Andreia Bovo não estava dormindo na residência horas antes do crime.
O mistério não acaba aí. Andreia contou para os parentes que na semana da chacina havia perdido o molho de chaves da casa ? local do massacre ? e essas chaves continuam desaparecidas.
A polícia diz que a investigação está em andamento porque aguarda laudos dos Instituto de Criminalística e a quebra de sigilo telefônico.
Já os parentes das vítimas querem falar. Eles não conseguem entender porque, até hoje, não foram ouvidos formalmente.