A bolsa de valores brasileira, a B3, opera em forte queda nesta segunda-feira (22), após o presidente Jair Bolsonaro ter anunciado na noite de sexta-feira a indicação de um novo presidente-executivo para a Petrobras e com agentes financeiros enxergando aumento relevante de risco político no país, principalmente de ingerência governamental em estatais.
No começo da tarde desta segunda-feira , o Ibovespa caía 5,27%, a 112.194 pontos, pressionado pelo tombo nas ações da Petrobras, que têm peso de 10,27% no índice.
Perto do mesmo horário, as ações ordinárias (PETR3) derretiam 20,30%, a R$ 21,60, e as preferenciais (PETR4) tinham baixa de 20,01%, a R$ 21,86.
A queda era similar na Bolsa de Nova York: na Nyse, as ADRs (American Depositary Receipts) da Petrobras recuavam 21,94% perto do mesmo horário.
Segundo levantamento da Economatica, com o tombo nas cotações, a Petrobras perdeu em poucas horas nesta segunda-feira mais de R$ 72 bilhões em valor de mercado. Na sexta-feira, a petroleira já tinha encolhido R$ 28 bilhões.
Os papéis da Eletrobras e do Banco do Brasil também eram negociados em forte queda: os primeiros caíam mais de 4%, enquanto as ações do banco desabavam 11,62%.
Na sexta-feira, o Ibovespa fechou em queda de 0,64%, a 118.420 pontos, acumulando baixa de 0,84% na semana. Na parcial do mês até sexta, o índice acumulou avanço de 2,92%. No ano, a queda estava em 0,49%.
Cenário
As atenções dos investidores se voltam para a mudança no comando da Petrobras e temores de intervenção do governo federal na política de preços de combustíveis e na gestão de estatais.
Na noite de sexta-feira, Bolsonaro anunciou a indicação do general Joaquim Silva e Luna, atual diretor da Itaipu Binacional, para a presidência da Petrobras, no lugar de Roberto Castello Branco, gerando muitas críticas. Para que a troca na presidência da Petrobras seja concretizada, a indicação ainda precisa do aval do Conselho de Administração da Petrobras, que tem reunião prevista para esta terça-feira (23).
No sábado, Bolsonaro disse que precisa "trocar as peças que porventura não estejam funcionando". E que, "na semana que vem, teremos mais", sem dar mais detalhes. Bolsonaro também disse no sábado que vai "meter o dedo na energia elétrica", e que, "se a imprensa está preocupada com a troca de ontem, na semana que vem teremos mais", destaca a Reuters.
A decisão e Bolsonaro de trocar o comando da Petrobras repercutiu negativamente entre investidores, com vários analistas cortando a recomendação dos papéis, bem como reduzindo preços-alvo.
A XP Investimentos, por exemplo, cortou a recomendação para os papéis da Petrobras de "neutro" para "venda" no domingo, em relatório sob o título "Não há mais como defender".
"As declarações recentes do presidente acendem um enorme sinal amarelo – senão vermelho ao cenário político local", afirmou o estrategista Dan Kawa, da TAG Investimentos, em comunicado a clientes.
Na cena doméstica, os investidores continuam de olho também nas discussões em torno de mais gastos com auxílio emergencial para a população vulnerável, em meio às preocupações com a saúde das contas públicas e rompimento do teto de gastos - considerado a âncora fiscal do país neste momento.
Pesquisa Focus do Banco Central divulgada nesta segunda mostrou que os analistas do mercado elevaram a estimativa de inflação em 2021 para 3,82%, acima da meta central, que é de 3,75%. A expectativa para a taxa Selic no fim de 2020 subiu de 3,75% para 4% ao ano. Já a projeção para a alta do PIB (Produto Interno Bruto) de 2021 foi reduzida de 3,43% para 3,29%.