Cinthia Lages
Enviada a Shangai
Por 28 RMB (que apelidamos de “Ribamar” e que é uma variação do yuan, moeda oficial), eu comprei um sorvete de green tea. Até aí, nada demais! Afinal, com a temperatura beirando os 35 graus e Shanghai em alerta, à espera do tufão Lekima, que se aproximava da Tailândia e deveria chegar aqui rebaixado tempestade tropical, o dia estava quente e úmido. Mas essa sorveteria, em especial, atraia mais clientes do que as outras, na região do Yu Garden, complexo que reúne a monumental arquitetura chinesa, datada de aproximadamente 1559, e que se transformou num ponto de encontro diário de cerca de 50 mil pessoas. É que o delicioso sorvete (sim, chá verde, e realmente surpreendente) é servido por um robô. Eficiente e ágil, ele seleciona o sabor entre quatro opções, coloca num copo de papelão, pesa e me entrega, encantador. Pronto, ganhou a cliente nem tão fã assim do gelado todo trabalhado no açúcar.
Nas lojas de brinquedo, entre jogos e bonecos, as crianças escolhem as máquinas que falam, brincam, ajudam no aprendizado e ainda custam pouco (em torno de 159 reais, os modelos menores). Já o climatizador que ajuda a suportar o dia tem design semelhante às duas inteligências aqui citada. E, claro, são motivo para selfie.
Sim, a China é o futuro! Mas para países da América Latina e estados dispostos a romper as barreiras que nos separavam da potência asiática, a China é a ponte para o futuro. E nesse pacote, o Piauí se inclui.
“Temos todo o interesse em fazer negócios com a China. Queremos que invistam em nossos projetos, que financiem e nos vejam como parceiros comerciais” . É o que o governador Wellington Dias repetiu nas 36 reuniões e visitas que fez a empresas de infraestrutura e tecnologias, bancos, fundos de investimento e governo durante os cinco dias de sua viagem ao país asiático.
Uma delas foi com John Jiang, vice-presidente da CGN, China General Nuclear Power Group, Yong Zeng (CGNEI) e Yong Zeng (William Kwok). A Companhia que prospecta e expande a produção de energia eólica e solar no mundo, anunciou, em Pequim, sua intenção em participar do próximo leilão da Aneel, para energia solar em Ribeira do Piauí, Lagoa do Barro, Queimada Nova e Paulistana , investimentos que chegam a 2,5 bilhões de dólares. Há também o interesse em exploração de gás na Bacia do Parnaíba.
Durante o encontro, realizado na sede da empresa, os executivos se mostraram empolgados com os estudos que apontam o estado, como produtor de energias limpas. A presença do governador e integrantes da equipe aumentam a confiança para a expansão dos negócios da Companhia. “O Piauí já é uma realidade. Temos investimentos, estações em operação e crescimento na geração de energia solar e eólica. Ou seja, estamos no lugar certo, na hora certa “, diz o secretário de Mineração e Energia, Wilson Brandão que, ao lado da superintendente de Parcerias e Concessões do Piauí , Viviane Moura e o secretário de Governo, Osmar Júnior, integraram a comitiva piauiense na China.
O convite foi feito pelo GRI Club, responsável pela organização do GRI China-Latam Infra Summit & Week 2019, uma plataforma que conecta executivos seniores do setor de Infraestrutura que atuam no mercado da China e países emergentes, fortalecendo o relacionamento entre os tomadores de decisão que buscam negócios, parcerias, promoção de projetos e networking de alto nível.
Piauí e São Paulo mostram potencialidades na China
Já em sua 4ª edição, o GRI China-Latam Infra Summit & Week 2019, que aconteceu em Pequim e Shanghai, incluiu apenas dois governadores. Além de Wellington Dias, João Dória, de São Paulo. Para eles e os demais participantes, investidores e executivos de instituições internacionais, foi montada uma agenda extra de reuniões estratégicas e visitas técnicas após as palestras que marcaram os dois primeiros dias, no The Península Hotel, na capital chinesa. O objetivo: reforçar os laços construídos entre investidores, operadores e empresários dessa indústria.
Segundo o governador Wellington Dias, o Piauí sinaliza várias frentes de atuação para atração de investimentos. Além da energia renovável, indústria na qual o Estado já é o 5º maior do país, há produção de alimentos, segmento que necessita de infraestrutura para logística de transporte e comercialização e o meio ambiente. Esses investimentos podem acontecer com financiamento de empresas da China ou através de parcerias público-privadas. Nesse contexto, o encontro com o presidente da CGGC, Lin Xiaodan, do qual esteve presente o embaixador do Brasil na China, Paulo Estivallet, foi animador para o Piauí.
Com 10 mil projetos de PPP em Carteira e 5,8 mil em execução, o Programa de Parcerias Público-Privadas da China começou em 2014 e trabalha com a perspectiva que também é aposta do Programa Piauiense, que é melhorar serviços e qualidade de vida para as comunidades.
“Era uma agenda muito esperada exatamente pela experiência e resultados do que a China consegue fazer em áreas como o Meio Ambiente, que é nova para nós “, explica Viviane Moura.
Para o governador, a aproximação também foi positiva com aceno positivo. Tanto que o Estado foi convidado para participar da Conferência Anual de PPPs que acontece em outubro.
“Governador mais Verde do Brasil “
Energia gerada a partir dos ventos e do sol, produção de alimentos com escoamento naval e ferroviário, possibilidade de oferta de ativos verdes, extração mineral sem agressão ao meio ambiente, o Piauí é um atrativo para o mundo dos negócios. E o “ produto” é tão valioso que levou Shouxing Sun, executivo da gigante de Energia Hanergy, a dizer, durante a reunião com a comitiva piauiense que Dias é “ o governador mais verde do país”. Estava criando um apelo interessante para a divulgação internacional do Estado, que tornou-se uma necessidade a partir da Missão China, oferecido aos possíveis investidores.
O Estado vai implantar até 2030, mais 49 GW de energia solar e eólica. Trata-se da previsão de novos leilões de energias renováveis.
Outra empresa de Energia, a China Energy também abriu as portas para conhecer o Piaui através dos dados disponibilizados sobre a geração que envolve o Estado. E a atuação delas transcende os limites do imaginável, como a geração de energia geotérmica em regiões com atividade vulcânica intensa, ou a produção através do uso de miniplacas de energia solar em mochilas e bicicletas.
Tecnologia nos serviços públicos
A Internet 5G é uma realidade no dia a dia dos chineses. Nesse setor, algumas empresas chinesas revolucionam o mundo. É o caso da Huawei,que oferece produtos e serviços para dois terços da população brasileira. O Brasil foi um dos primeiros mercados escolhidos pela empresa quando iniciou seu processo de internacionalização. E segue ampliando essa participação com muitas possibilidades. A oferta de tecnologia de banda larga fixa para redes de fibra óptica para empresas e órgãos públicos, instituições financeiras e de educação, transporte público e concessionárias de energia compõem essa carteira de projetos. Além dela, outra importante empresa de tecnologia, a ZTE, recebeu o governador e os demais gestores do Estado. Com 100 escritórios no mundo e 80 mil funcionários, a ZTE atua no Piauí onde é parceira da GlobalTask, concessionária do Piauí Conectado, que está implantando a rede de fibra óptica para cobrir 86% da população piauiense com tecnologia chinesa.
“A ideia é ampliar essa rede de conexão criando uma versão para o Nordeste”, diz o governador Wellington Dias.
Além disso, com produtos e serviços já existentes no mercado, é possível utilizar a Internet rápida para o monitoramento de cidades, a telemedicina e para a mobilidade. Para todas essas áreas, já existem projetos que o estado apresentou, com a ajuda de um vasto material mostrando dados e resultados obtidos para o desenvolvimento, traduzido para o mandarim. Em um ato de cordialidade, numa das últimas agendas da viagem, em Shanghai, a comitiva piauiense foi recebida com uma calorosa mensagem de boas-vindas em Português, numa das maiores empresas da China. Como na vida, nos negócios, a cordialidade costuma dar bons resultados!