A educação a distância no Piauí vem mudando a realidade de quem tinha apenas um sonho de ter em mãos o diploma de um curso superior. A tecnologia está contribuindo para uma educação de qualidade, bem como para a universalização da educação superior no estado. Atualmente, são mais de 10 mil alunos beneficiados com os programas Universidade Aberta do Piauí (Uapi) e Universidade Aberta do Brasil (UAB).
Essa é a modalidade de ensino que mais cresce no Piauí. A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) é o órgão mantenedor do ensino a distância no estado, no qual iniciou as atividades em 2007 em parceria com as instituições de ensino superior (IES) públicas, ofertando cursos de graduação para 10 polos. Com a Superintendência de Ensino Superior (Supes), a Seduc passou a planejar e construir polos presenciais de EaD em mais municípios do Piauí.
O Núcleo de Educação a Distância (Nead) da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) está em 155 municípios piauienses, sendo 120 destes no programa Uapi, ofertando o curso de Administração, e 35 no programa UAB, que oferta sete cursos de graduação e 13 de pós-graduação.
O Sistema UAB é um programa instituído pelo governo federal com a ideia de reduzir as desigualdades na oferta de ensino superior, é de responsabilidade da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e conta com 50 polos nos municípios piauienses. Desses, 37 são de responsabilidade da Seduc/Supes, como mantenedora da estrutura física, tecnológica e de gestão de coordenação; e 13 polos de responsabilidade de prefeituras/Instituto Federal do Piauí (IFPI)/Universidade Federal do Piauí (UFPI). Em 2019, estão sendo ofertados os cursos de História, Espanhol, Matemática, Administração Pública, Inglês, Português e Pedagogia.
No Piauí, a dificuldade na disponibilidade de professor nos municípios do interior do estado impulsionou a iniciativa de proporcionar educação superior à população de locais distantes e isolados, assim a Uapi surgiu com a mesma proposta da UAB. Criada pelo decreto nº 16.933 de 16 de dezembro de 2016, é um programa de ensino voltado para o desenvolvimento da modalidade de educação a distância com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no estado do Piauí, por meio de estratégias de inovação tecnológica.
O secretário de Estado da Educação, Ellen Gera, destaca que o Piauí é um dos estados que mais tem avançado na oferta da educação, seja ela na educação básica como também na educação de ensino superior. “O acesso escolar tem sido uma das frentes de trabalho prioritárias do governo Wellington Dias, que iniciou em 2003 um trabalho de expansão da oferta da educação no nosso estado e ações importantes foram implementadas. O sistema da UAB, sozinho, não seria capaz de levar a universalização da oferta para todos os municípios, por isso foi institucionalizada a Uapi, em 2017, um programa genuinamente piauiense, mantido com recursos do Estado; um sistema que tem como grande objetivo universalizar a oferta de ensino superior nos municípios do Piauí, com a meta de fazer com que seja o primeiro estado brasileiro que tenha a oferta de fato de vestibular em cada um dos municípios”, diz o gestor.
A superintendente de Ensino Superior da Seduc, Maria de Lourdes Lopes, explica a diferença das metodologias da UAB e da Uapi. “Enquanto que na UAB temos dois tutores para chegar até o aluno, o professor conteudista e o tutor, que leva o conhecimento da disciplina aos polos presenciais de 15 em 15 dias, aplica a prova e faz o acompanhamento durante todo o processo, tanto por meio da plataforma quanto nos encontros presenciais e tem esse papel principal no contato instituição-aluno. Já, a Uapi tem o mesmo formato em termo de estrutura, plataforma e conteúdo, porém o que difere é o uso tecnológico, que já é utilizado na educação básica, na educação profissional e na EJA desde 2012. Vendo o sucesso dessa metodologia, pensou-se em fazer o uso da mediação tecnológica na educação universitária e, nesse caso, quem ministra as aulas é o próprio professor conteudista, não tem o tutor fazendo a interlocução, o professor tem acesso direto ao aluno”, frisa a superintendente.
A implantação se deu em forma de parcerias, em especial com a Uespi, e com um conjunto de ações que leva aos municípios do estado um ensino superior de qualidade. A instituição está integrada ao Sistema da UAB e possui autorização da Capes/MEC para funcionamento dos cursos e polos.
O projeto prevê três etapas, como detalha o prof. me. Vinícius Oliveira, coordenador pedagógico da Uapi. “Na etapa um, selecionamos 60 municípios e fizemos um vestibular, esses já fizeram o primeiro período do curso e estão finalizando o segundo período. Na segunda etapa, foram novos 60 municípios, esses estão terminando o primeiro semestre. É importante frisar que a terceira etapa não vai mais envolver o curso de Administração, pois fizemos um levantamento em parceria com o Conselho de Administração sobre a demanda de profissionais no mercado. Assim, estamos vendo a viabilidade de ofertarmos o curso de Turismo, além de outras áreas que nosso estado também necessita”, detalha o docente.
O professor acrescentou ainda que o planejamento da Uapi é um esforço do governador Wellington Dias para universalizar a educação superior no estado. “A Uapi está indo para o segundo ano de execução, mas o planejamento para que isso acontecesse veio antes disso. Idealizamos com o governador, com o professor Arnaldo e a Seduc e foi a partir de muita conversa e planejamento que chegamos a um desenho final do que seria a Uapi. A parceria com o canal educação viabilizou tudo isso, o fato de podermos ter kits instalados em todas as escolas, em todos os municípios do Piauí fez com que pudéssemos tornar realidade essa proposta, que já está na segunda etapa”, destaca Vinícius.
Referência
A Universidade Aberta do Piauí é modelo e referência para outros estados por ser pioneira, dando suporte na criação da Universidade Aberta do Nordeste. O Piauí, hoje, praticamente universalizou o ensino superior, faltando apenas 62 municípios para alcançar todo o estado.
“O diferencial da nossa estratégia, e isso chama muito a atenção dos nossos parceiros, é a oportunidade de chegar aos 224 municípios criando uma possibilidade interacional. O nosso aluno, onde ele estiver, pode interagir tanto com o professor como com as outras turmas. Então, isso coloca a gente em uma lógica muito moderna, muito atual e que termina quebrando essas barreiras e essa frieza que toda a questão digital e que as novas tecnologias, por vezes, podem conferir. Portanto, não acreditamos que existem tantas diferenças de uma sala de aula presencial e virtual, esse foi o grande diferencial da nossa metodologia”, reitera Vinícius Oliveira.
A Uapi, no momento, oferta o curso de Administração a nível superior. Marco Aurélio é aluno no polo de Teresina, que funciona no Caic Professor Melo Magalhães, no bairro Promorar. Ele acaba de concluir o 2º período do curso e conta como ficou sabendo da modalidade de ensino. “Fazia Ciências da Computação no método presencial tradicional e tranquei quando vi que surgiu a possibilidade de fazer a distância o curso de Administração. O curso a distância me dá a disponibilidade de horário, não estando preso a um horário específico de aula, me possibilitando estagiar e realocar meu tempo de estudo conforme preciso. As aulas telepresenciais são aos sábados, de 15 em 15 dias, e tiramos dúvidas ao vivo com o professor. Não tenho nenhum prejuízo, a distância não atrapalha, a interação é direta com os professores pelo chat e pela plataforma, apesar de no início ter achado um pouco difícil, mas me adaptei rápido à metodologia de ensino”, conta o estudante.
De acordo com a superintendente Maria de Lourdes Lopes, há uma preocupação com a formação técnica e profissional também. “Apesar de estarmos ofertando somente o curso de Administração por enquanto, se eu me referir à mediação tecnológica temos outro braço que é o atendimento a cursos técnicos. O aluno pode ingressar na universidade ou por um caminho mais rápido para o mercado de trabalho como o curso profissional. Ofertamos, por três anos seguidos, um curso concomitante ao de Administração na área de vendas e cooperativismo, também com a metodologia da mediação tecnológica”, explica Maria.
Estrutura
Quanto à estrutura dos polos, Orisvaldo Rodrigues, gerente da Supes, fala sobre a inovação tecnológica que a UAB e Uapi tem levado aos municípios. “Os polos recebem uma estrutura de laboratório de informática com computadores conectados à internet para que os alunos possam acessar à plataforma, realizar as atividades e enviar os trabalhos. Tem também uma biblioteca e a sala de aula com o kit da mediação tecnológica. Quando o polo funciona em uma escola já existente, esta recebe essa melhoria, que está disponível também para o uso dos alunos em geral, aproveitando melhor os recursos”, comenta Rodrigues.
Segundo o professor Vinícius, o comprometimento do professor é fundamental para que o processo de ensino e aprendizagem funcione. “Hoje, temos um grupo de tutores que acompanha essa realização em cada sala de aula de cada município e os professores formadores, que são responsáveis por cada disciplina ministrada. Nesse processo, temos as mesmas preocupações de uma sala de aula normal, como fazer com que o aluno preste atenção, que ele seja bem avaliado e, principalmente, fazer com que ele tenha motivação para continuar no processo de aprendizagem”, destaca o professor.
Aliando teoria à prática
Quando a Uapi foi idealizada, um aspecto fundamental dos cursos é o preparo para a prática da profissão, bem como o empreendedorismo. “Outro diferencial é a disciplina de Seminários Temáticos, a mais dinâmica de todo o processo, que fecha cada semestre pegando o conceitual teórico e levando para a prática. A cada semestre temos nos municípios exposições de um modelo de negócio criado pelos alunos, que gravam e fotografam e enviam aos professores para que possam ser avaliados. Eles elaboram um negócio, um produto, fazem o marketing e divulgação. Nessa disciplina já foram criados aplicativos, ou seja, é isso que mostramos lá fora e é isso que está chamando a atenção de outros estados e outros países”, diz o professor Vinícius Oliveira.
A professora formadora Samaira Souza ministra a disciplina de Seminário Temático I e conta que a experiência é uma oportunidade de levar o conhecimento aos alunos nos municípios mais distantes e de que eles tenham a experiência empreendedora. “A ideia do curso como um todo é trabalhar a ideia empreendedora aliando a teoria à prática para a execução de um empreendimento. A posposta da disciplina é que eles tragam ideias empreendedoras, que saiam com essa bagagem prática de criar um empreendimento, de analisar como funciona esse processo e que saiam com experiências”, explica a docente.
O curso é de Administração de Empresas. É um curso de Administração, agregando o associativismo e empreendedorismo. As disciplinas são voltadas para estimular uma análise de mercado, visualização do cenário macroeconômico em uma perspectiva bem ampliada, isso é o esperado dos alunos e é o perfil que é dado ao curso.
Perfil do aluno
O professor Vinícius frisa que o aluno que assume o compromisso de fazer um curso superior a distância tem uma visão empreendedora ou procura um aperfeiçoamento de sua profissão. “Temos alunos que estão fazendo sua primeira graduação, no qual a Uapi é um pontapé para tentar um concurso ou abrir o seu próprio negócio, já que o curso é muito voltado para o empreendedorismo, um diferencial do nosso processo de formação; mas temos também muitos alunos que estão fazendo uma segunda graduação, como funcionários públicos municipais, pequenos empresários, para essas pessoas, a Uapi vai funcionar como aperfeiçoamento”, acrescenta Oliveira.
Ele conta ainda que o ensino por meio da mediação tecnológica está impactando positivamente e mudando a vida dos piauienses. “Nas viagens de monitoramento que fazemos aos municípios do interior do estado, vemos o impacto que a Uapi está fazendo na vida das pessoas, que enfrentam adversidades, mas não deixam de comparecer nos dias das aulas, filhos que estudam com pais e vice-versa, um incentivando o outro, são histórias diversas que mostram que estamos no caminho certo”, destaca Vinícius.
Empregabilidade
Segundo Vinícius Oliveira, uma das finalidades da Uapi é o incentivo à empregabilidade e geração de renda na região. “Uma das questões que pensamos quando estávamos planejando a Uapi foi exatamente um método que evitasse tirar o aluno da cidade dele, permitindo que as pessoas tenham a possibilidade de fazer um ensino de qualidade na sua própria cidade e as boas cabeças permaneçam e ajudem a desenvolver o município”, destaca o professor.
“Despertamos o potencial criativo dos alunos. A ideia de negócio que nasce de um projeto pedagógico pode se transformar na renda da família e sair da sala de aula para a vida. É fantástico ter a interação deles, o feedback tem sido muito positivo”, afirma a professora Samaira Souza.
O aluno Marco Aurélio já faz planos para o futuro após terminar o curso de Administração. “Na disciplina de Seminário Temático, no qual apresentamos ideias empreendedoras, o meu grupo desenvolveu um negócio voltado para a tecnologia por meio de startups que pretendemos levar adiante depois do curso e pretendo também fazer uma especialização, possivelmente em Recursos Humanos ou Marketing”, conta o estudante.
Acácio Lacerda, que mora em Araripina, no Pernambuco, acabou de concluir o curso de Licenciatura em Matemática pela UAB e assistia às aulas presenciais no polo de Simões, na região sudeste do Piauí. Na cerimônia de colação de grau, ele contou que procurou o curso pelo aperfeiçoamento profissional e que vai lhe possibilitar avançar na sua carreira.
“Já sou formado em Ciências Biológicas e o curso de Matemática, como era EaD, viabilizou que me aperfeiçoasse na área porque leciono há nove anos. Procurei uma universidade que tivesse respaldo no âmbito estadual, regional e nacional e a Uespi nos proporcionou isso. Os encontros eram de 15 em 15 dias e as atividades eram baixadas na plataforma online, algumas disciplinas tinham videoaulas, não foi fácil, mas tive o apoio da minha família e daqui para frente pretendo fazer mestrado, doutorado e concurso público”, comenta o estudante.
Visibilidade
O trabalho da Universidade Aberta do Piauí foi revelado agora para o mundo. Com o apoio do Governo do Estado, o professor Vinícius Oliveira apresentou trabalho científico na Conferência Internacional em Formação e Inclusão, em 2018, em Lisboa, Portugal, e agora a pesquisa foi publicada pela editora da Universidade Aberta de Lisboa.
O estudo é um relato de caso que apresenta a união de esforços de órgãos da Administração Pública do Estado do Piauí para expandir o ensino superior, com a utilização da mediação tecnológica, para descentralizar e ampliar vagas, assim com a possibilidade de alcançar os 224 municípios. Como resultado, vê-se que estudantes originários de distintos municípios estão superando adversidades de toda a ordem para aproveitarem esta oportunidade de estudar com qualidade, não necessitando deslocarem-se para os grandes centros.
“A oportunidade que tivemos de nos reunirmos com representantes de outras universidades de outros países, que trabalham na perspectiva de educação a distância foi uma troca de experiências em uma semana muito rica em que nós tivemos acesso a casos de outros países que envolvem outros tipos de metodologias, mas também ficou muito claro para nós como o processo que estamos fazendo aqui é diferenciado, no qual países de dimensões muito grandes como o Brasil têm dificuldades maiores a serem superadas quando se fala do acesso à educação e a educação a distância se coloca como primordial nesse sentido”, diz ele.
Mediação tecnológica também da educação básica
A mediação tecnológica, antes de ser destinada ao ensino superior já era utilizada na educação básica e Educação para Jovens e Adultos (EJA). No Ensino Médio, observando a carência de profissionais com qualificação para atender todos os municípios, essa possibilidade é utilizada a fim de oferecer ao aluno um ensino com qualidade. “Muitos municípios que não possuem professores qualificados para aquela determinada área, a escola tem a opção de realizar essa aula transmitida via Canal Educação”, explica a superintendente Maria de Lourdes Lopes.
Na sétima etapa da EJA, todas as disciplinas são pela mediação tecnológica exatamente para atender aqueles municípios que possuem demanda, mas não podiam fazer o curso porque não tinham professores qualificados e com a ida da mediação a esses municípios, aquele curso pôde se tornar realidade. “Muitas vezes o aluno não estuda por não ter condições de ir para outro município, a mediação tecnológica possibilitou isso. Temos municípios que antes não tinham ensino médio nem EJA e hoje eles têm por meio da mediação tecnológica”, diz ela.
A previsão é que o Piauí chegue, no segundo semestre deste ano, aos 62 municípios que faltam com a oferta de vestibular e início das aulas no primeiro semestre de 2020. Assim, o Piauí vai ser o único estado a ter o ciclo completo da educação, desde a educação básica ao ensino superior, no Brasil.
Universidade Aberta do Nordeste
A Uapi é modelo para a criação da Universidade Aberta do Nordeste - Consórcio Nordeste. O Piauí recebeu representantes de todos os estados da região nordeste para conhecer o projeto e a metodologia utilizada na Universidade Aberta do Piauí, e o progresso que ela está gerando em todo o estado.