O Trânsito nas grandes cidades está cada vez mais caótico, com o número de mortes crescente, principalmente no Brasil. Somente nos últimos 16 anos, cerca de 600 mil pessoas foram vítimas fatais no trânsito no país, segundo dados do Ministério da Saúde. Mais da metade dos acidentes ocorreram por conta da alta velocidade dos veículos, que por muitas vezes excedem o limite de velocidade da região ou a via não possui condições de segurança para evitar que os motoristas corram e até mesmo a engenharia de tráfego na cidade indica um limite de velocidade inadequado para a local.
De acordo com a ONG Embarq Brasil, que promove soluções sustentáveis em transporte e mobilidade urbana para melhorar a qualidade de vida nas cidades brasileiras, a maioria dos acidentes de trânsito ocorre em ambiente urbano, onde há um ambiente mais complexo e com uma maior concentração de usuários vulneráveis, como os pedestres que são alvos constates dos veículos. Há também uma relação entre o aumento da velocidade dos veículos, o aumento do risco de acidentes e a gravidade das lesões.
Ainda segundo a Embarq Brasil existe uma relação direta e exponencial entre velocidade e mortes relacionadas ao trânsito. Em um acidente envolvendo um veículo a 40km/h e um pedestre, as chances de o pedestre sobreviver é de 75%, a 50Km essa chance cai para 45% e a 60km, apenas 15% das pessoas sobrevivem, ainda assim, com sequelas gravíssimas.
Para a engenheira de transportes Brenda Medeiros da Embarq Brasil, vários acidentes de trânsito poderiam ser evitadas se as autoridades promovessem ambientes viários que propiciassem velocidades mais adequadas. “Existem várias vias com velocidades inadequadas no Brasil, como avenidas que possuam uma maior quantidade de pedestres circulando diariamente e que possuam a velocidade média de 80km, por isso que a quantidade de atropelamentos nesses lugares são altíssimos. Não podemos ter uma via de constante circulação de pessoas, com um limite de velocidade tão alto”, explica.
Brenda ressalta que as autoridades também devem realizar fiscalizações mais eficientes, através de fiscalizações sejam ela física com agentes de trânsito ou a utilização de radares. Mas também existem medidas simples para moderar a velocidade dos veículos que já estão sendo utilizados em grandes cidades como aumentar as sinalizações, barreiras que diminuam a velocidade e ferramentas que ajudem os pedestres a transitar com segurança . “Em Nova York, por exemplo, a companhia de trânsito organizou e reforçou as sinalizações de trânsito apenas com tinta e adesivos que conseguiram reorganizar o trânsito caótico que existia. Várias faixas foram pintadas nas laterais que eram pouco utilizadas em avenidas, assim o condutor tem a impressão de estar em um local de menor passagem, dando a impressão de que a via ficou mais estreita, forçando-o a ir mais devagar”, explica a engenheira de trânsito.
A Avenida Raul Lopes, em Teresina, local de constante circulação de pessoas realizando atividades físicas, é um exemplo de via com velocidade e sinalizações ineficientes para a área. No começo de agosto um casal foi atropelado enquanto caminhava em direção ao calçadão por um carro com a velocidade acima dos 60 km/h permitidos.
Nem mesmo o semáforo localizado embaixo da Ponte Estaiada é barreira para os motoristas, pois ignoram o sinal vermelho. Segundo as pessoas que praticam atividades físicas no local, é no horário da madrugada entre sexta-feira e domingo, quando os jovens voltam das festas, que é mais comum ver os veículos em mais de 100km/h.
Em sete meses, mais de cinco mil registros de excesso de velocidade
Nas rodovias piauienses, os motoristas também insistem em ultrapassar a velocidade permitida. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), só nos primeiros sete meses de 2014, 5 mil imagens de radares registraram o excesso de velocidade dos motoristas e 1.706 acidentes ocorreram no mesmo período, segundo o inspetor da PRF Fabrício Loiola, todos estão relacionados à alta velocidade. “A velocidade do motorista está diretamente ligada aos acidentes ocorridos no trânsito, podemos ter noção disso pelo tipo de acidente que acontece. Foram 369 colisões frontais, 117 colisões laterais e 47 capotamentos. Acidentes gravíssimos que poderiam ter sido evitados se os condutores tivessem mais prudência”, explica.
Segundo a PRF, os locais com maior incidência de acidentes são a entrada de Teresina, um trecho da BR-343 em Piripiri, por ser 22 km de reta, e o trecho até o litoral do Piauí. Os períodos festivos e os meses de férias também são os mais perigosos. No mês de julho ocorreram 197 acidentes com 18 vítimas fatais e 7.275 autuações.
O inspetor Fabrício explica que uma pessoa dirigindo em uma velocidade muito alta reduz a velocidade de reação que impede o acidente de acontecer. “Em situações normais, uma pessoa leva 0,75 segundos para iniciar a reação a uma situação de risco, ou seja, um motorista que esteja a uma velocidade média de 72km/h, o carro ainda vai rodar 15 metros para ele esboçar uma reação, então você imagina se o pneu estiver careca, a pista molhada ou o condutor desatento, para que ele reaja o tempo vai ser muito maior. Isso é a diferença entre a vida e a Morte”, revela.
Para evitar que os veículos excedam a velocidade, a Polícia Rodoviária possui equipamentos que identificam a infração do motorista. São três tipos de radares utilizados: os radares estáticos, que são fixados em determinados locais da rodovia; os portáteis, que têm formato de pistola e são manuseados pelos agente; e os móveis, que ficam dentro das viaturas. “Os nossos radares são muito precisos. Para se ter uma ideia, os estáticos possuem um alcance de dois mil metros, então, quando o motorista percebeu a ferramenta, ele já foi flagrado há algum tempo, não tem como escapar”, aponta o inspetor Almir Bílio.
O trânsito é uma questão de educação, para os inspetores a conscientização da população é a única forma para acabar com os acidentes de trânsito e os bons exemplos devem ser ensinados para os filhos. “As pessoas têm que ter uma noção de coletividade no trânsito, elas perderam essa noção. Se eu estou atrasado para algum compromisso, eu não posso correr para chegar a tempo, isso sempre ocorre com as pessoas. Além de repassar esses valores para os mais jovens, que irão achar que isso é normal”, completa o inspetor Fabricio.
Pessoas com sequelas de acidentes lotam os centros de reabilitação
As maiores vítimas de trânsito que chegam ao CEIR são jovens em idade produtiva, muitas vezes estudantes universitários, os profissionais que utilizam motocicleta também são os pacientes mais comuns.
Leonardo ressalta que é constante as vítimas estarem relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas, o que provoca perda das capacidade de reação, além de estarem com excesso de velocidade. “Infelizmente a única prevenção é ter prudência no trânsito, depois que você sofre um acidente grave, nem mesmo a nossa tecnologia e tratamentos mais avançados darão as condições de vida que os pacientes tinham antes”, finaliza o fisioterapeuta.
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