No Piauí, cinco pessoas morreram vítimas de acidentes no trabalho até esta sexta-feira, 31 janeiro, ano que mal começou. Das mortes registradas, o funcionário público municipal Antônio Alves do Nascimento morreu de choque elétrico em manutenção de bomba de piscina, na zona rural de Barras, na terça, 28. Um dado que chama a atenção, embora seja apenas a concretização de um cenário antecipado, é a tendência de preponderância, entre as vítimas, de trabalhadores que prestavam serviços na condição de autônomo ou como terceirizados.A auditora fiscal do Trabalho no Piauí e coordenadora do Projeto de Prevenção de Acidentes do Trabalho, Flávia Lopes, alerta que os dados são preocupantes e poderiam ter sido evitados.
"Estamos muito preocupados com os altos índices de acidentes de trabalho que temos tido no Piauí. Observamos que já estamos com 5 mortes só neste mês, e isso demonstra que vamos superar os dados do ano passado, por um motivo: precarização das relações de trabalho que levou à terceirização. Se a gente multiplicar pelos 12 meses do ano, teremos possivelmente mais de 50 mortes. Os principais fatores de mortes este mês são queda e choque e há a necessidade quando se tenha segurança antes de se executar aquela atividade, para que se possa prever quais são as medidas para evitar os acidentes, se é um trabalho em uma altura é preciso verificar o cinto de segurança, em caso da necessidade de energia elétrica é necessário ter toda segurança e corte de energia para realizar o trabalho", afirmou a Auditora-Fiscal do Trabalho no Piauí, Flávia Lopes.
Em 2017, ocorreram 12 mortes; 2018, 23 óbitos, e em 2019, a Auditoria-Fiscal do Trabalho registrou, no Estado do Piauí, 24 mortes, destes 18 acidentes de trabalho típicos (trajetos, trânsito) e 11 das quais ocorreram na indústria da construção. Em muitos casos, quando não leva à morte, o trabalhador pode ficar invalidado.
Os dados da Auditoria-Fiscal do Trabalho no Estado detalham as situações geradoras de tais óbitos em 2019: 03 mortes por queda de altura (01 queda de telhado de farmácia, em Teresina-PI; 02 por queda de torre em Baixa Grande do Ribeiro-PI); 08 por choque elétrico (matadouro em Caracol-PI; draga em Teresina-PI; terceirizado da Cepisa em Piracuruca-PI; contato com rede de distribuição em limpeza de fachada, em Teresina-PI; substituição de lâmpada de poste em Jatobá do Piauí; canteiro de obras, em Água Branca-PI; choque elétrico em serviços de concretagem, na fachada, em Parnaíba-PI; choque durante manutenção de torre de internet, em Floriano-PI); 01 por descarga atmosférica (fazenda em Baixa Grande do Ribeiro-PI); 02 com máquina automotriz (esmagamento por trator em fazenda de Uruçuí-PI; esmagamento por trator em Palmeirais-PI); 03 por tombamento de caminhão, em transporte irregular de trabalhadores (Coronel José Dias-PI); 03 por soterramento em poço (atividade rural em Guaribas-PI); 01 por violência física (ataque com faca), durante roubo em supermercado (em Teresina-PI); 01 por explosão de válvula; 01 por lesão causada por máquina portátil.
Conforme a auditora, quase todos os acidentes de trabalho estão relacionados a situações que envolvem empregados sem registro, falta de equipamentos de segurança, situações que envolvem altura. Além disso, segundo aponta o levantamento da Auditoria-Fiscal, a maior parte das empresas terceirizadas não tem condição de arcar com os custos em segurança aos empregados. "Esses números têm crescido porque a terceirização está irrestrita".
Prevenção.
Flávia esclarece que as empresas devem adotar uma cultura permanente e efetiva de prevenção de acidentes e gerenciamento de riscos para diminuir os índices de acidentes, onde é necessário trocar essa cultura de remediação pela de prevenção de acidentes de trabalho. "É preciso pensar a segurança do trabalho de uma forma preventiva, para que se previna acidentes graves e até fatais e de pequeno porte. A segurança do funcionário tem que ser pensada de forma coletiva e preventiva. O que leva à segurança do trabalho é pensar no risco e a exposição que aquele trabalhador vai ter em sua atividade e há necessidade de que a empresa invista em segurança, em programas exigidos por lei", caracteriza ela.
Fiscalização.
A Auditoria-Fiscal do Trabalho do Estado realiza fiscalização nos setores de construção civil, panificação, postos de combustíveis, entre outros. "A fiscalização, na verdade, parte das denúncias na Superintendência Regional do Trabalho, onde é uma fiscalização compatível", avisa Flávia. Além disso, os auditores levam palestras para cada setor, buscando-se evitar que mais acidentes fatais ocorram.