No Piauí, seis pessoas morreram vítimas de acidentes no trabalho até esta terça-feira, 09 de abril de 2019. Das mortes registradas, cinco foram acidentes de trabalho que estão relacionadas a situações que envolvem altura e trajeto no trânsito e uma das mortes ocorreu no setor da indústria da construção civil. A auditora fiscal do Trabalho no Piauí e coordenadora do Projeto de Prevenção de Acidentes do Trabalho, Flávia Lopes, alerta que os dados são preocupantes e poderiam ter sido evitados.
"Estamos muito preocupados com os altos índices de acidentes de trabalho que temos tido no Piauí. Observamos que, em 2018, tivemos 23 mortes e já em 2019 estamos com 6 só no primeiro trimestre, e isso demonstra que vamos superar os dados do ano passado, por um motivo: a flexibilização das relações de trabalho que levou à terceirização. Observamos que temos que trocar essa cultura de remediação pela de prevenção de acidentes de trabalho. É preciso pensar a segurança do trabalho de uma forma preventiva, para que se previna acidentes graves e até fatais e de pequeno porte", alerta a auditora fiscal do Trabalho no Piauí, Flávia Lopes.
Os dados da Auditoria-Fiscal do Trabalho no Estado detalham as situações geradoras de tais óbitos: 03 mortes por queda de altura (queda de telhado de farmácia, em Teresina-PI; queda de torre em Baixa Grande do Ribeiro-PI); 02 por choque elétrico (matadouro em Caracol-PI; draga para extração de areia em Teresina-PI); 01 por descarga atmosférica (fazenda em Baixa Grande do Ribeiro-PI). Segundo o levantamento, ainda não há dados disponíveis acerca de acidentes de trajeto e de acidentes típicos no trânsito.
Segundo Flávia Lopes, quase todos os acidentes de trabalho estão relacionados a situações que envolvem altura e que a maioria dos acidentes ocorreu com empregados terceirizados, além disso, o relatório da Auditoria-Fiscal apontou que a maior parte das empresas terceirizadas não tem condição de arcar com os custos em segurança aos empregados. "Esses números têm crescido porque a terceirização está irrestrita, desde que foi aprovada a lei da terceirização e a informalidade tem crescido sem limites no Estado", afirma.
Das 23 mortes registradas no ano passado, 22 foram acidentes de trabalho típicos, sete das quais ocorreram na indústria da construção. Além disso, houve, em 2018, nove mortes em acidentes de trajeto. Assim, computando-se acidentes de trabalho típicos e de trajeto.
Cultura da prevenção
Para diminuir os índices, Flávia relata que as empresas devem adotar uma cultura permanente e efetiva de prevenção de acidentes e gerenciamento de riscos. "A segurança do funcionário tem que ser pensada de forma coletiva e preventiva. O que evita a segurança do trabalho é pensar no risco e a exposição que aquele trabalhador vai ter em sua atividade e há necessidade de que a empresa invista em segurança, em programas exigidos por lei", menciona ela.
Fiscalização
Flávia Lopes destaca ainda que este ano a fiscalização nos setores de construção civil, panificação, postos de combustíveis e de saúde será intensificada. "Iremos fazer palestras para cada um desses setores, mostrando o que temos encontrado, principalmente na construção civil, porque a maioria dos acidentes fatais ocorre nesse setor. Também fiscalizaremos padarias, porque é um setor que tem um maquinário muito antigo e pode levar a acidentes graves de trabalho com mutilações. Nos postos de combustíveis, já vínhamos fiscalizando, como o uso de proteção do bico da bomba, usos de uniformes e iniciamos uma fiscalização bem planejada no setor de saúde, porque ele está em 3º. lugar em acidentes de trabalho em nosso Estado, com 175 benefícios no INSS", avisa.
Campanha nacional quer conscientizar a segurança no trabalho
O Brasil possui índices consideráveis de acidentes de trabalho. Números oficiais apontam a ocorrência de mais de 549.000 acidentes de trabalho em 2017, com óbitos, mutilações, afastamentos e incapacitações permanentes e temporárias. A Organização Internacional do Trabalho divulgou que acidentes e doenças consomem 4% do PIB mundial. Tal índice implica, em nosso país, valores acima de R$ 200 bilhões de reais por ano.
Em todo o país, durante o mês de abril, são desenvolvidas ações em memória das vítimas de acidentes de trabalho com a Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes no Trabalho/2019 (Canpat), promovidas pelo Núcleo de Segurança e Saúde no Trabalho desta SRTb-PI, com o tema: "Gestão de Riscos Ocupacionais – O Brasil contra Acidentes e Doenças do Trabalho". No Piauí, a campanha teve abertura na manhã da terça, onde foram apresentados para a sociedade, órgãos federais e estaduais pontos que visam à promoção de uma cultura de segurança e saúde no trabalho, despertando a consciência da população para os danos que tais eventos causam na sociedade. Além disso, a Canpat 2019 compreende, também, a necessidade de se trocar a cultura de remediação pela de prevenção de acidentes para se investir na segurança dos trabalhadores e levará seminários para profissionais de segurança, engenheiros, advogados, auditores até o dia 3 de maio.