Piauí registrou 25 casos de feminicídio em 2018

Nas Delegacias de Teresina, foram registradas 4.702 denúncias

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2018 foi um ano violento para mulheres. De acordo com dados do Núcleo de Estatística e Análise Criminal da Secretaria de Segurança Pública do Piauí, 25 feminicídios foram registrados no ano passado, no Estado. O número corresponde a 45,45% dos casos de crimes violentos letais e intencionais contra mulheres. Reforçando as estatísticas, somente nas Delegacias da Mulher, em Teresina, foram registradas 4.702 denúncias de ameaça, injúria ou violência física contra mulheres na capital.

A delegada Eugênia Villa fala que essa média de casos de feminicídio no Estado vem se mantendo desde 2015, no entanto, isso não significa que essa manutenção seja algo positivo para a sociedade.

“Isso ainda significa que ainda existem mulheres sendo mortas apenas por serem mulheres, é um dado estarrecedor. Este ano, ainda não se tem conhecimento de assassinato de mulheres aqui no Estado, mas já temos um registro no nosso plantão de gênero, onde em um mesmo caso, foi constatado tanto ameaça como lesão corporal. É preocupante ver que essa realidade de violência contra a mulher já se mostra presente em um ano que mal começou”, fala a delegada.

Outro ponto destacado pela delegada são os registros das Delegacias da Mulher na capital, que ainda apontam números elevados de casos onde está presente tanto a violência psicológica como a violência física, propriamente dita. As ameaças, por exemplo, aparecem como o principal registro de ocorrências nas delegacias especializadas. Somente em 2018, dos 4.702 registros em delegacias, 2.166 foram por ameaças, número bastante elevado se comparado aos 652 registros de violência física. A injúria aparece em segundo lugar, com 1.884 registros.

“Esses números ainda nos revelam outro ponto preocupante. Quase 100% dos registros, tanto de violência contra a mulher como de feminicídio, têm um mesmo perfil, é o companheiro ou alguém de confiança que acaba matando ou violentando a mulher. A violência doméstica é a porta de entrada para situações mais graves e até mesmo o óbito. Precisamos mudar isso, precisamos ensinar aos nossos jovens como é errado agredir as mulheres, para começarmos a ter uma mudança desde a infância deles”.

Zona rural é o local com maior número de feminicídios

A mulher negra, adulta, com mais de 29 anos e trabalhadora rural aparece como principal vítima do feminicídio no Piauí. Alguns estudos apontam o feminicídio e a violência doméstica como um problema urbano, mas segundo a delegada Eugênia Villa, essa não é a mesma realidade do Estado. Essas vítimas se concentram, em sua maioria, no ambiente rural, onde precisam conviver com a cultura machista, cuja figura masculina ainda é tida, muitas vezes, como o líder e definidor do que é certo ou errado.

“A violência contra a mulher não é algo urbano. Você não vê uma Delegacia da Mulher em comunidades rurais, e por isso não existem tantos registros desse casos, mas é nessas comunidades onde a situação se complica. Com a chegada da Delegacia da Mulher do campo, da floresta e das águas, poderemos mensurar mais precisamente esses casos e reduzir ainda mais esse problema”, fala Eugênia Villa. (J.M.F.)

Ações de combate ao feminicídio devem ser ampliadas

A delegada Eugênia Villa aponta que, para o ano de 2019, as ações da secretaria devem reforçar o combate a esse crime, focando também em casos onde não existe relação da vítima com o agressor. “Nestes casos, a principal motivação vem devido a um menosprezo que o criminoso sente pelo fato da vítima ser uma mulher, e, assim, se achando superior, ele acredita que pode realizar o crime”, fala Eugênia Villa.

“Queremos ainda romper com a romantização que muitos fazem desses casos, tentando justificar as ações por ciúmes, por exemplo. Queremos mostrar que o crime aconteceu não por uma afeição, mas sim porque o culpado perdeu o controle de uma situação que ele achava estar no comando”.

Além disso, ela destaca o uso da Plataforma Salve Maria como uma importante ferramenta para esse novo ano, já que o aplicativo será muito importante para conseguir atingir os locais de mais difícil acesso, como núcleos familiares reclusos, onde a violência doméstica é algo quase que diário.

“Queremos chegar até as mulheres que estão presas dentro de um ambiente familiar nada saudável e que colocam em risco a integridade delas. O aplicativo é importante, pois ele passa a ter o ambiente murado, que muitas vezes esconde a violência, a partir disso, ela pode notificar abusos e assim receber a ajuda que precisa”, explica a delegada Eugênia.(J.M.F.)

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