Dentre as vegetações bem definidas do Piauí, a caatinga envolve 63 cidades e abraça 28,4% do total do Estado, com área de cerca de 50.150 km². Com um estigma de região seca e pobre, engana-se quem não observa a frutificação de tamanha riqueza, única por ser uma grande área de transição.
No entanto, nas regiões onde a caatinga é predominante, as cores da vegetação tão peculiar impressionam. “A caatinga do Piauí tem uma diferença clara: a maior parte está em solo sedimentar, diferentemente da caatinga do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba ou Pernambuco, que está assentada em solo cristalino. Nossa caatinga é muito mais rica em biodiversidade e número de espécies. Até nisso temos um presente da natureza”, explica Alberto Jorge, doutor em biologia vegetal pela Unicamp.
Para André Pessoa, autor das belas imagens que figuram essa página, a caatinga vive um eterno processo de transformação. “A caatinga tem essa dualidade. Durante seis meses ela está completamente seca, opaca e áspera, ao ponto de muitos duvidarem que ali tem vida. Mas nas primeiras chuvas ela explode em cores. Tudo isso é uma adaptação fisiológica e botânica, onde as plantas ficam adaptadas para perder menos água”, explica.
A adaptação das plantas permite essa transformação semestral. “As plantas se transformam, ao longo dos anos, as folhas em espinhos, que tem menos superfície para sofrer a ação do sol. Isso aconteceu ao longo de milênios. Isso também evita que os animais comam essas plantas. As fotos mostram um pouco disso, em um bioma exclusivamente brasileiro. É o nosso mais legítimo tipo de vegetação”, considera.
Caatinga se transforma ao longo do ano
André Pessoa dedica a maior parte da sua vida em registrar os fenômenos da caatinga. “Percebo neste tempo todo as diferentes etapas do ano. As fotos mostram as flores das primeiras flores da caatinga que começam a se transformar. Temos a flor do mandacaru, que é branca, a do caroá que é vermelha que sai do chão, umas das primeiras. Temos a branca da pernadema, a amarela do pente de macaco. É uma infinidade”, revela.
A fauna também surge durante esse período, como espécies de cobras, tamanduá e pássaros dos mais variados tipos e tamanhos. Os mocós, bem presentes na região, também aproveitam o período das chuvas para o acasalamento.
Piauí possui espécies únicas e pouco estudadas
O Piauí é um grande caldeirão de vegetações. Por ser uma área de ecótono, por aqui está misturada a caatinga e cerrado, além de áreas de florestas. Isso configura um ambiente único, repleto de espécies únicas e que nunca foram estudadas de forma aprofundada.
É o que explica Alberto Jorge Farias Castro, professor titular da Universidade Federal do Piauí (Ufpi) e doutor em biologia vegetal. “No Brasil só existem três grandes áreas de transição, que chamamos de ecótonos em ecologia. Em geografia, chamam de área de transição. Destes três, uma delas é no Piauí, exatamente a transição do cerrado com caatinga no qual somos beneficiados por essa mistura. É uma singularidade daqui”, define.
A principal característica deste ecótono é a mistura de vegetação e espécies, com a presença de indivíduos que só ocorrem nesta transição. “O ecótono dá condições ecológicas, bióticas e abióticas que permitem que espécies daquela região apareçam de uma forma diferente”, acrescenta o professor.