O plebiscito acabou com a vitória estrondosa do “não”, rejeitando a divisão do Pará, mas o sentimento separatista nas regiões de Tapajós e Carajás não acabou junto com a votação (novos projetos de criação dos Estados vão surgir). Vitoriosos e perdedores sabem disso. Após a derrota, Santarém decretou luto oficial nesta segunda-feira (12). Em Carajás, o autor do projeto de lei que deu origem ao plebiscito diz que fará uma nova proposta divisionista em 2012.
“Belém tem que ser agora muito cuidadosa na relação com Carajás especialmente, porque ela se identifica mais com Tocantins ou Goiás. O governo paraense vai ter que se descentralizar. Isso é evidente”, analisa Roberto Corrêa, professor de ciência política da UFPA (Universidade Federal do Pará).
A mesma opinião é emitida por uma das mais fortes lideranças do separatismo, a prefeita de Santarém, Maria do Carmo, que já foi candidata petista ao governo do Pará.
“Eu não queria estar agora na pele do governador [Simão Jatene, PSDB]. Ele pode querer colocar Carajás e Tapajós de castigo, mas é hora de um chamamento, de um acolhimento da voz emancipatória que essas regiões apontaram. Ele vai ter de descentralizar o governo de qualquer jeito”, afirma a prefeita da principal cidade à beira do rio Tapajós.
O deputado federal Giovanni Queiroz (PDT), o autor do projeto de lei que deu origem ao plebiscito, sobe o tom contra os políticos de Belém, em especial ao governador, e acredita que a derrota causará um "trauma" na população. " "O Pará já estava dividido em três regiões. Mas hoje politicamente está absolutamente rachado.
O governador [Simão Jatene, PSDB], que era apenas para ser um magistrado, entrou de cabeça na campanha. Ele não tem mais como ser acompanhado por ninguém aqui no sul. Ele vá procurar na terra dele, porque aqui ele não terá mais", atacou. Questionado de como iriam ficar as relações institucionais e dos políticos de Tapajós e Carajás pós-plebiscito, Queiroz voltou a atacar o governo do Estado e foi ainda mais incisivo nas críticas.
"Vai ficar coisa nenhuma. Aqui é radicalização. O governo só sobrevive no sul porque os prefeitos mantém a gasolina para as delegacias, ajudam na Fazenda, na Justiça. Quem mantém o Estado aqui é o prefeito. O governo não repassa há três meses o dinheiro aos municípios. Isso acontece porque é governado por esses que aí estão", afirmou.