Ramiro José Perotto é um padre de Carlinda, município do Estado do Mato Grosso localizado a 774 km de Cuiabá. Ele se envolveu em uma grande polêmica após comentar em uma rede social que a menina capixaba de 10 anos que ficou grávida após ter sido estuprada pelo tio teria "compactuado com o estupro". Ela teve a gravidez interrompida nesta segunda-feira (17), em Pernambuco, após autorização judicial. O post do religioso foi publicado no dia seguinte. As informações são do G1.
O religioso divulgou nesta quinta-feira (20), após a repercussão do comentário, em seu perfil no Facebook uma nota na qual escreveu: "Àqueles que se sentiram ofendidos, só resta meu pedido de perdão". Ele também excluiu a conta na rede social.
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O padre havia compartilhado uma mensagem do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, lamentou a interrupção da gravidez da menina. Diversas pessoas comentaram o post de Perotto, algumas criticando. Uma delas disse que "obrigar uma criança vítima de estupro a seguir com a gravidez era repugnante" e falou em hipocrisia.
Em resposta ao comentário, o padre disse que duvidava que uma criança abusada por vários anos deixaria de comentar o caso. "Aposto, minha cara. Ela compactuou com tudo e agora é menina inocente. Gosta de dar então assuma as consequências", escreveu.
Mais tarde, ele postou uma mensagem dizendo que iria sair do Facebook. "Você acredita que a menina é inocente? Acredita em Papai Noel também. Seis anos, por quatro anos, e não disse nada. Claro que estava gostando", afirmou no post antes de excluir a conta da rede social.
Na nota divulgada nesta quinta, o padre disse que assume a responsabilidade pelas postagens e que não quer condenar e nem julgar ninguém. "Assumo a responsabilidade de ter proferido palavras desagradáveis, e justifico que compartilho da defesa da vida, nunca condenar e tirar julgamentos. Não foi minha intenção proferir palavras de baixo calão, as quais não comungam com minha fé e minha crença na pessoa humana. Àqueles que se sentiram ofendidos, só resta meu pedido de perdão", escreveu no comunicado.
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No trecho seguinte, ele justificou a exclusão da conta na rede social: "Excluí meu Facebook por não querer mais ofender e ser ofendido. Precisamos ser fraterno. Sempre preguei isso. As vezes que não fui, que Deus me perdoe. Lutemos pela vida, ela é dom de Deus".
O caso
A menina de dez anos da cidade de São Mateus, no Espírito Santo, engravidou após ser estuprada pelo tio desde o seis anos de idade. A garota não denunciou porque disse que era ameaçada. O homem suspeito do crime foi preso nesta terça, em Betim (MG). Depois de detido, ele teria confessado "informalmente" o abuso aos policiais que fizeram a prisão.
Após decisão judicial que autorizou o aborto (veja mais no vídeo acima), a criança chegou a ser internada no Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), em Vitória, mas a equipe médica do Programa de Atendimento as Vítimas de Violência Sexual (Pavivi) se recusou a realizar o procedimento no sábado (15). Com isso, ela viajou para Pernambuco.
O procedimento de interrupção da gravidez foi feito no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), no Recife. A menina precisou à capital pernambucana para interromper a gravidez porque, no estado de origem, os médicos do hospital em que ela foi atendida afirmaram que não tinham capacidade técnica para fazer o procedimento.
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Nesta terça, a direção da instituição informou que a garota estava bem e tinha condições de ter alta médica, mas que isso só podia ocorrer depois que fossem adotadas medidas para preservar a integridade da vítima. O diretor do Cisam afirmou que, após o procedimento, a menina voltou a sorrir. A saída da criança do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam) foi confirmada nesta quarta-feira (19), mas a data e horário da alta e o destino da menina não foram divulgados.
No domingo (16), dia em que a menina chegou a Pernambuco, religiosos protestaram contra a interrupção da gestação e tentaram invadir a maternidade depois que a extremista de direita Sara Giromini violou o Estatuto da Criança e do Adolescente publicando na internet o nome da vítima e o local onde ela seria atendida.
No Recife, a assistente social Bruna Martins, que atendeu a menina, disse que nem ela nem a avó, que é a referência materna da criança, ouviram os protestos em frente ao Cisam. Manifestações que defendiam o direito da criança ao aborto também ocorreram na frente do hospital, no mesmo dia.