36 mil pés de maconha, equivalentes a mais de 12 toneladas da planta, foram apreendidos junto de 120 quilos de maconha já prontas para a venda foram apreendidos em uma operação da Polícia Federal no município de Pedra, em Pernambuco.
Os números impressionam, mas a parte mais espantosa dessa história não é o desperdício de uma planta que pode servir como remédio para diversos males, nem a quantidade de dinheiro que o estado deixa de ganhar com a proibição de uma erva natural (e que poderia ser reinvestido em saúde e conscientização sobre seu consumo). O que espanta e revela bastante sobre a realidade do combate à droga é o que aconteceu com as duas pessoas presas na operação.
Foram detidos o dono da plantação, um fazendeiro de 43 anos que não teve sua identidade revelada, e um funcionário de 26 anos. Ambos são réus primários, sem passagens prévias pela polícia e possuem endereço fixo, mas enquanto o dono, um homem rico, foi solto no dia seguinte e responderá pelo processo em liberdade, o funcionário, um jovem pobre, está preso e permanecerá na cadeia até ser julgado. Nenhum motivo especial para a diferença no trato foi apresentado.
O combate às drogas se torna, em verdade, um combate aos pobres. Basta ter olhos para ver que quem possui minimamente meios para se defender permanece solto, independentemente da quantidade (vide o helicóptero de cocaína que não nos deixa mentir) e quem paga por crimes que já não deveriam ser crimes há muito tempo são os pobres envolvidos – seja no consumo da droga, seja na fabricação, como é o caso da fazenda de Pedra.
Ninguém advoga pela liberação das drogas para que as pessoas a consumam desenfreadamente – e nem isso aconteceu em nenhum país que tenha vivido a liberação. O consumo da maconha se dá e dará independentemente da sua legalização. A diferença é escolher se essa quantia abissal de dinheiro poderá ser empregada justamente para a saúde dos que consomem, transformando essa em uma questão de saúde (como de fato é), ou se permanecerá fomentando a violência e o crime – que acaba por também punir o mais pobre.