Quatro policiais foram formalmente acusados nesta segunda-feira (30) no inquérito sobre o espancamento de um produtor negro em Paris, na França — um caso de violência policial em meio ao debate sobre um projeto de lei de segurança. Dois desses suspeitos foram detidos.
O juiz de instrução acusou três dos quatro policiais de "violência voluntária por parte de pessoa depositária da autoridade público" e de "mentir em documento público", como solicitou o Ministério Público de Paris. Informações do site G1
Os acusados são os três policiais que aparecem em um vídeo divulgado na quinta-feira e que foi gravado pelas câmeras de segurança do estúdio musical: as imagens mostram os agentes espancando o produtor Michel Zecler, um ato que foi chamado de "vergonha" pelo presidente Emmanuel Macron.
Além deles, o policial suspeito de lançar gás lacrimogêneo no estúdio foi formalmente acusado por "violência voluntária" contra o produtor musical, assim como contra outros nove jovens que estavam no subsolo do estúdio.
O Ministério Público havia solicitado a detenção provisória dos três primeiros e uma medida de controle judicial para o quarto. O juiz, porém, decidiu pela detenção de dois deles. Os advogados de três dos acusados, Anne-Laure Compoint e Jean-Christophe Ramadier, se recusaram a comentar a decisão.
A detenção dos agentes deve "evitar o risco de que façam algum tipo de acordo" entre eles ou "pressionem testemunhas", argumentou o promotor Rémy Heitz ao explicar o pedido de prisão provisória.
Os três principais acusados admitiram à polícia especial que "a agressão não tinha justificativa e que reagiram principalmente por medo", segundo o promotor. Alegaram "pânico" pelo sentimento de que estavam presos na entrada do estúdio de Zecler, que resistia, segundo eles.
Os policiais negaram "ter dirigido palavras racistas", como assegura Zecler, que declarou ter sido chamado de "negro sujo", um insulto que também foi ouvido por um dos jovens que estava no subsolo do estúdio. Os agentes também rejeitam o caráter "mentiroso da declaração".
O presidente convocou nesta segunda-feira o gabinete de ministros e líderes parlamentares para uma reunião de crise com o objetivo de desenvolver rápidas "sugestões para restabelecer a confiança" entre a polícia e a população, de acordo com fontes do governo.
O ministro do Interior, Gerald Darmanin, responderá hoje a perguntas de uma comissão parlamentar sobre a nova lei de segurança, que restringiria a divulgação de imagens de policiais em serviço, seja por parte da imprensa ou de usuários de redes sociais.
Dias antes, Darmanin, havia prometido o afastamento dos policiais que "mancharam o uniforme da República".
O caso, que veio à tona graças à divulgação dos vídeos gravados pelas câmeras de segurança do local, parece ter dado argumentos aos opositores da lei de segurança global, cuja principal medida é limitar a possibilidade de filmar as forças de segurança.
Mais de 130 mil pessoas protestaram no sábado, segundo o ministério do Interior, e mais de 500 mil segundo os organizadores, contra a lei em toda a França. Em Paris foram registrados confrontos violentos com agentes de segurança.
O balanço do ministério do Interior indica que 98 policiais foram feridos e 81 pessoas foram detidas. Em Paris, um fotógrafo independente sírio, colaborador da AFP, foi ferido no rosto.
"Estamos comovidos pelas lesões sofridas por nosso colega Ameer Al-Halbi e condenamos esta violência não provocada", declarou no domingo Phil Chetwynd, diretor de informação na AFP.
Al-Halbi encontrou dificuldades para ser transferido a um hospital para se recuperar.
"As imagens da Síria vieram no meu pensamento, era o passado que ressurgia" vendo sangue por todos os lados, disse Al-Halbi.
A polícia abriu uma investigação interna sobre o incidente.
Nesta semana, a evacuação brutal de um campo de migrantes em pleno centro de Paris na segunda-feira passada e a divulgação do vídeo de espancamento de Zecler provocaram indignação e elevaram o tom do debate. Os vídeos dos dois casos foram assistidos milhões de vezes nas redes sociais.