População denuncia que existe 'ditadura do gás' em comunidades do RJ

Eles contam que quem tenta comprar fora das comunidades é ameaçado. Botijão chega a custar quase R$ 30 mais caro.

botijão de gás | reprodução
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Moradores de comunidades do Rio vivem reféns de traficantes e milicianos. Além da insegurança, os criminosos determinam o preço de tudo, inclusive dos botijões de gás que, em alguns casos, chega a ser quase R$ 30 mais caro. E quem tenta comprar fora da comunidade é ameaçado.

Os criminosos e milicianos percorrem as comunidades de moto para vigiar os moradores e coagem quem tenta burlar as regras impostas por eles.

População denuncia que crimonosos estão cobrando altos preços pelo gás (Foto: reprodução)

Há relatos em Rio das Pedras e na Muzema, na Zona Oeste, no Pavão-Pavãozinho e no Parque da Cidade, na Zona Sul, e na Tijuquinha, na Zona Norte. Quem decide pagar o gás no cartão, o preço é ainda mais caro.

Confira abaixo os preços:

Rio das Pedras e Muzema – R$ 119 no dinheiro; R$ 121 no cartão;

Tijuquinha – R$ 116 no dinheiro; R$ 119 no cartão;

Parque da Cidade – R$ 124 no dinheiro; R$ 128 no cartão;

Pavão-Pavãozinho – R$ 115.

Veja abaixo alguns relatos de moradores que, com medo, optaram por não se identificar. “Aqui na nossa região o monopólio do gás é um absurdo. É o preço que a milícia dita. Vivemos a ditadura do gás. Eu não acredito que as autoridades não enxerguem isso, esse lado do Rio das Pedras, Muzema, Tijuquinha. Estamos à mercê deles. Um botijão a R$ 120. Isso é um absurdo".

"A pessoa trabalhar um mês todinho. Aí tem que pagar R$ 120 no botijão de gás. Aí tem que pagar luz que é com eles também, vaga na rua que é deles também”.

“Se você pegar a sua bicicleta e for comprar em outra comunidade e eles verem, eles abordam você, te ameaçam, falam que tem que comprar na comunidade. Eles ficam pra baixo e pra cima andando de moto, sem placa, sem capacete, com a arma em vista pra botar medo em você pra que você não possa sair pra comprar em outro lugar. Um absurdo”.

“Aqui a gente só vê a prefeitura agindo quando passa a Comlurb porque se não for isso... E o estado só passa quando uma viatura passa porque o restante é tudo com a milícia. A gente não aguenta mais esse gás a R$ 120. A gente tá pedindo socorro, a comunidade tá pedindo socorro”.

No fim de 2020, o governador Cláudio Castro disse que iria lançar um plano de segurança pública e que conseguiria entrar em diferentes comunidades para coibir crimes como esse, mas o plano ainda não saiu do papel.

Procurado pelo Bom Dia Rio, o governo do estado informou que vai lançar o programa batizado de “Cidade Integrada” no dia 25 de janeiro, mas não deu mais detalhes sobre a iniciativa.

Já a Polícia Civil disse que mesmo com as restrições impostas vai continuar fazendo operações em comunidades para combater a ação de traficantes e de milicianos.

O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás (Sindigás) falou que desconhece a dinâmica comercial que é feita em áreas em que o estado não tem controle.

Especialista: bandidos tentam eliminar a concorrência

Uma especialista em Segurança Pública diz que o domínio armado em comunidades do Rio permite que milicianos e traficantes ampliem a exploração ilegal de atividades econômicas.

“O monopólio territorial armado exercido por grupos criminosos no Rio de Janeiro tem permitido a expansão e a diversificação de negócios ilegais que vão além das drogas, como a construção civil, o transporte informal, a gasolina adulterada, os serviços de vigilância. É esse controle armado monopolista nos territórios que tenta eliminar a concorrência, com disputas violentas que impõe a população e seus fornecedores exclusivos preços abusivos sobre serviços essenciais, como é o valor que tem sido cobrado pelo bujão de gás”, disse Jacqueline Muniz, professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF).

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