População vive mais tempo, mas com menos saúde, diz estudo

Um conjunto de estudos publicados ontem pela revista médica “Lancet” avaliou o impacto das doenças na população global.

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O aumento da expectativa de vida da população mundial nos últimos 20 anos veio acompanhado de uma má notícia: os anos a mais estão sendo vividos com menor qualidade de vida por causa de problemas de saúde.

Um conjunto de estudos publicados ontem pela revista médica "Lancet" avaliou o impacto das doenças na população global. Pesquisadores de 50 países, Brasil inclusive, analisaram um grande volume de dados, como incidência de doenças, motivos de internação hospitalar e mortalidade em todos os cantos do mundo para produzir um retrato das condições de saúde em 2010.

Um dos artigos, liderado por Joshua Salomon, da Escola de Saúde Pública de Harvard, mostra o descompasso entre a vida longa e a vida saudável. O trabalho comparou as condições de saúde entre 1990 e 2010 em 187 países. Os resultados mostram que um ano a mais de vida corresponde, na verdade, a 0,8 ano vivido com saúde. E quanto mais a expectativa de vida aumenta, maior é o degrau entre a longevidade e a qualidade de vida.

Em 2010, a expectativa de vida saudável média era de 58,3 anos para um homem e de 61,8 anos para uma mulher. Em relação a 1990, isso representou um ganho de quatro anos com saúde, mas a expectativa de vida total cresceu bem mais nesse período (4,7 anos para eles e 5,1 anos para elas).

Isto é, todos vivem mais mas com menos qualidade.

O problema, dizem os autores, é que os ganhos na saúde observados nas últimas décadas se deveram mais à redução da mortalidade infantil do que ao combate às doenças crônicas e suas consequências.

Transtornos mentais como a depressão são responsáveis por metade dos anos vividos com alguma sequela incapacitante, segundo os pesquisadores Alan Lopez e Theo Vos, da Universidade de Queensland, na Austrália.

A pressão alta é, agora, o maior fator de risco para doenças, causando 9,4 milhões de mortes em 2010, seguido pelo tabagismo e o consumo excessivo de álcool.

Os dados devem servir como alerta para a comunidade global, diz a equipe de Harvard. "As Metas do Milênio [estabelecidas pelas Nações Unidas] se concentraram na redução da mortalidade por causas específicas como HIV, tuberculose e malária. Enquanto isso, a prevalência de doenças incapacitantes mudou pouco."

Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, afirma, no entanto, que o enfrentamento às doenças crônicas começa a ganhar a visibilidade devida. Ele lembra que, no ano passado, a ONU realizou uma reunião de cúpula para discutir o impacto das doenças crônicas e que, em maio de 2013, devem ser estabelecidas metas para o combate a doenças como câncer, diabetes e problemas cardíacos.

Segundo Barbosa, que foi entrevistado para a série de estudos, podem ser decididos requisitos para o acesso a exames de mamografia e câncer do colo do útero, redução no consumo de sal e mortalidade precoce.

"Se não atacarmos as doenças crônicas, as pessoas vão viver mais mas com sequelas de AVC (acidente vascular cebral), amputação por causa de diabetes, diálise."

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