Portugal abre campanha eleitoral em meio à crise e o resgate

Sem cartazes e com menos propaganda os políticos lusos iniciaram oficialmente a campanha com rodízio de comícios.

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Sob o calor da pior crise econômica em quatro décadas de democracia e a austeridade imposta pelo recente resgate financeiro, Portugal abriu oficialmente neste domingo a campanha para as eleições antecipadas de 5 de junho, cujo resultado é incerto em todas as pesquisas.

Os dois partidos que governaram o país desde a Revolução dos Cravos de 1974, o Socialista (PS) e o Social-Democrata (PSD, centro-direita) são novamente os favoritos a vencer a votação, embora o empate técnico nas pesquisas possa complicar a formação de um Executivo.

Sem cartazes e com menos propaganda para honrar a austeridade que impera nesta nação de 10 milhões de habitantes, os políticos lusos iniciaram oficialmente a campanha com rodízio de comícios e concentrações iguais aos que, de fato, já tomavam conta das cidades lusas há semanas.

Os grandes protagonistas do confronto eleitoral são o primeiro-ministro interino, José Sócrates, de 53 anos, e o líder conservador, Pedro Passos Coelho, de 46, que demonstra certeza de que vai acabar com os seis anos de Governo socialista.

As pesquisas, no entanto, dão pouco mais de 30% das intenções de voto, com até dois pontos percentuais de diferença com relação ao PS e tendência de baixa nas últimas semanas.

Sócrates, que perdeu a maioria absoluta nas eleições de 2009, enfrenta outro teste eleitoral com o desgaste de ter adotado os mais drásticos ajustes econômicos que lembram os portugueses, mas com o apoio total de seu partido, que o reelegeu secretário-geral em março com 96% dos votos.

PS e PSD estão comprometidos no cumprimento do programa de ajuste financeiro e reformas do Estado exigido por Bruxelas e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para salvar o país do colapso com o empréstimo de 78 bilhões de euros aprovado esta semana.

Apesar da pouca margem de manobra que a crise e os compromissos internacionais darão ao próximo Governo português, ambos os partidos se enredaram em críticas mútuas sobre as reviravoltas de seus respectivos programas eleitorais e a responsabilidade pela crise.

Coelho atacou neste domingo o primeiro-ministro pelo suposto descumprimento das primeiras medidas de austeridade vinculadas ao resgate financeiro e o acusou de não preocupar-se com o desemprego, situado em percentual recorde para Portugal, acima de 12%.

Por sua vez o primeiro-ministro voltou à carga sobre os supostos planos do PSD para destruir o Estado social e a ambição de poder que levou a vetar o quarto plano de austeridade do Governo e forçou, em março, sua queda e o pedido de ajuda externa.

Além dos dois maiores partidos, nos 13 dias de campanha disputam o voto outros 15, embora só três deles - dois marxistas (com 20% de apoio eleitoral) e um democrata cristão (com 12%) - têm possibilidades de chegar ao Parlamento.

Está última formação, o Centro Democrático Social-Partido Popular (CDS-PP) a mais conservadora, pode ter a chave do próximo Governo.

Os democrata-cristãos, frequentes aliados do PSD, estão dispostos a governar com Coelho, embora o líder conservador somou-se ao critério de Sócrates que, em consonância com a tradição lusa, deve formar Executivo quem ganhe, porém com maioria exígua.

Ao contrário do PSD, os socialistas precisam do apoio de outras forças por seu enfrentamento com as formações marxistas, Bloco de Esquerda e do Partido Comunista, que fazem campanha contra o PS mais do que contra os conservadores.

No meio de um panorama eleitoral que ameaça reinstalar em Portugal um Governo frágil, o grande vencedor de 5 de junho pode ser uma abstenção prevista em torno de 40%.

O descontentamento pela crise e o desencanto político gerou um movimento juvenil que há dois meses protagonizou uma grande manifestação em Lisboa.

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