Sentir a discriminação na pele. Esse é mais um dos sintomas que muitos pacientes diagnosticados com dermatite atópica (DA) são obrigados a conviver. Além das coceiras, manchas e lesões, essas pessoas sentem um impacto emocional causado pelo preconceito, que por sua vez, nasce na falta de informação sobre a doença.
A dermatite atópica é uma doença crônica, diagnosticada a partir da análise clínica e do histórico familiar, que acomete até 20% das crianças e 9% dos adultos no Brasil. Cerca de 60% dos casos de dermatite atópica surgem na infância e podem sumir ou piorar com o passar dos anos, mas estimativas apontam que 15% da população urbana sofre com a doença.
Essas lesões, apesar de muito comuns, necessitam de acompanhamento médico e tratamento adequado. Em crianças, ela aparece em manchas avermelhadas e descamativas; em adolescentes e adultos, a pele fica mais grossa, áspera e escurecida. As dobras da pele são as regiões mais atingidas, mas podem aparecer em outras áreas. A persistência e o grau de incômodo dessas manchas determinam se você deve procurar um especialista.
“O que há de mais profundo no ser humano é sua pele”, disse o escritor francês Paul Valéry. Tão profundo quanto o preconceito pelo qual esses pacientes passam. Em crianças, o impacto dessa falta de informação é maior, segundo pesquisa feita junto ao grupo de apoio do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, cerca de 60% dos pais relatam terem sofrido alguma discriminação.
O empresário André Corsi Rodrigues, de 39 anos, convive com a DA desde os primeiros anos de vida. Foi a partir de um quadro de bronquite e asma que a dermatite se manifestou. “Na verdade, eu mesmo tinha preconceito das feridas e tentava sempre evitar que elas ficassem expostas. Deixei de frequentar piscina, de participar de eventos dependendo de onde apareciam. Claro que nem sempre dava para esconder ou muito menos deixar de ir a lugares, e aí sim pessoas perguntavam o que eu tinha e eu sempre respondia que era uma alergia”, conta.
Para poupar os filhos do preconceito, muitas vezes, mães e pais superprotegerem suas crianças. Essas crianças geralmente são afastadas de atividades em grupo, não conseguem brincar com outras na escola ou na rua e têm dificuldades para levar uma vida normal. Com isso, podem se tornar fechadas e reclusas.
Um fator complicador é que o estresse emocional pode ser um dos gatilhos das crises de dermatite atópica. Um dos primeiros estudos globais[3] sobre esse impacto foi publicado em abril deste ano, reunindo pesquisadores de sete países que decidiram estudar a relação entre depressão e DA. A pesquisa identificou que quadros de depressão estão presentes em 52% desses jovens e 39% relatam ter sido vítimas de bullying por causa da DA em algum momento da vida. Durante as crises, metade deles se preocupa com ser vista em público e 36% dizem que têm a autoconfiança abalada.
Para a coordenadora de vendas Mayara Souza, de 27 anos, que começou a ter alergia do próprio suor aos 7, e aos 15 as primeiras lesões, durante as crises seu lado emocional é o mais afetado. “Em crise fico extremamente fadigada, com dores na pele dependendo do movimento que faço. É uma batalha trabalhar quando estou em crise, meu humor fica alterado, fico impaciente e extremamente irritada. Procuro não demonstrar, mas nem sempre consigo. Nesses períodos procuro utilizar roupas que não me exponham, mas que também não me deixem pior”, diz.
A questão emocional pode se tornar ainda mais complexa. Outro estudo feito com 3.775 pessoas entre 18 e 19 anos concluiu que 15,5% daquelas com eczema reportaram ideação suicida comparados com 9,1% dos que não tinham o problema de pele. Quando a doença estava associada à coceira, a ideação suicida estava presente em 23,8% dos jovens.
Tanto para André quanto para Mayara, a falta de conhecimento sobre a doença é o que gera o preconceito. “Não se importe com a fala dos outros e os olhares que te cercam, você é maior que isso. Não se esconda. Você sofre diariamente com dor, toma comprimidos enormes e usa cremes caríssimos, quem não quiser te ver que feche os olhos. Liberte-se, viva!”, finaliza