A Prefeitura de Tibau do Sul sabia dos riscos de desabamento das falésias na Praia de Pipa. Os perigos do trecho já haviam sido alertados em recomendações feitas pelo Ministério Público Federal do RN (MPF-RN). Uma delas fez com que o Município contratasse uma equipe de profissionais para mapear as áreas de maior ameaça.
"O Município contratou um geólogo, já fez esse mapeamento e está na fase final desse relatório. A partir da conclusão, haverá uma nova audiência do MPF para os encaminhamentos e como tratar de forma mais conclusiva o que está acontecendo", explicou o coordenador estadual de Defesa Civil, Marcos de Carvalho.
Nesta terça-feira (17), um casal e o filho de sete meses morreram após parte da falésia desabar na praia. Hugo Mendes Pereira, de 33 anos, Stela Silva de Souza, de 32, e o filho Sol de Souza Pereira moravam em Pipa, um dos principais destinos turísticos do estado, e aproveitavam um dia de folga.
Após o acidente nesta tarde, equipes da Defesa Civil do RN e de Tibau do Sul estiveram em Pipa para decidir sobre uma possível interdição do trecho. Os estabelecimentos do topo da falésia passaram por inspeção e, por conta da maré alta, só na manhã de quarta-feira (18) haverá uma avaliação da área onde aconteceu o acidente.
"Sabemos que existe uma ocupação no topo da falésia e que pode causar algumas instabilidades no topo. Isso que viemos fazer aqui. Após essa vistoria terá uma reunião com o chefe executivo do município para a possibilidade de decretação de situação de emergência", disse Marcos Carvalho.
A secretária de Meio Ambiente Urbanismo de Tibau do Sul, Ieda Cortez, explicou que o município tem trabalhado na conclusão do relatório técnico e acredita que o desabamento foi intensificado pela ação forte da maré.
"Nós vínhamos fazendo um levantamento das falésias. Isso se soma a um fator de ação das marés. As marés dos dois últimos meses estão muito violentas", disse.
Ela confirmou que há inquéritos a nível federal e estadual em relação a ocupação das praias - tanto nos topos das falésias, quanto nos "pés" delas, na faixa de areia.
Segundo a titular da pasta, sem as diretrizes que serão determinadas após o relatório, a prefeitura trabalhava com medidas preventivas, como instalação de placas e presença de fiscais para alertar sobre os riscos.
"Nós estávamos tomando providências paliativas, preventivas. Nós fizemos em julho uma vistoria com a Defesa Civil Estadual e percorremos esse ponto até a Baía dos Golfinhos em relação a essa sinalização. Pusemos algumas placas com riscos de quedas. Hoje nós tínhamos um fiscal de praia. Colocamos fiscais de praia para alertar os banhistas disso", disse.
Segundo o secretário de Serviços Urbanos de Tibau do Sul, Francisco Albuquerque Neto, a Prefeitura havia colocado uma placa também no trecho em que o acidente aconteceu, mas ela foi destruída pela ação do mar.
"A gente coloca placas de advertência, mas vendo que há uma dificuldade pela falésia ser muito próxima da praia, que faz ela ser retirada pela natureza mesmo", disse.
Nesta tarde, o Ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho disse que determinou que a "Defesa Civil apoie o município no levantamento das causas e no enfretamento do problema. Queremos evitar que tragédias como essa voltem a se repetir. Pipa é uma das principais praias do Brasil, vamos trabalhar para garantir segurança dos frequentadores."
Moradores costumam orientar banhistas
Moradores e trabalhadores da praia de Pipa contaram que costumam alertar os banhistas sobre os riscos de desabamento das falésias. Segundo o empresário de passeio náutico, Igor Caetano, que presenciou o acidente, a própria família tinha sido alertada sobre a possibilidade de desabamento.
"O mar avançou bastante e acabou cavando o pé da falésia, deixando instável. Já tínhamos avisado a outras pessoas para saírem de perto da falésia e até mesmo o pessoal que veio a óbito com a criança já tinha sido avisado do risco, mas infelizmente eles ficaram lá e aconteceu essa tragédia", disse.
O autônomo João Marinho, primo de Stela Souza, uma das vítimas do acidente, sempre morou em Tibau do Sul. Ele conta que os próprios moradores da cidade têm o hábito de pedir para os banhistas se afastarem das falésias, principalmente se forem turistas, que desconhecem o perigo.
"Muitas vezes a gente passa na praia e vê os turistas lá. Eles põem as toalhas e ficam debaixo da falésia. A gente vai lá e pede para eles saírem, porque eles estão correndo risco. A gente percebe que as barreiras estão caindo", disse.
Segundo ele, o desabamento de partes das falésias aumentou nos últimos anos na região. "Sempre aconteceu isso. Só que de uns anos pra cá, foi cada dia aumentando mais, com o mar vindo e destruindo a falésia. Todo dia está caindo uma parte. Eu, com sete, oito anos, a falésia era bem afastada do mar, mas chegou ao ponto de começar a bater e cair".