Com cinco anos de um trabalho exemplar no Piauí, O Centro Integrado de Reabilitação ? Ceir - comemora muitas conquistas e leva aos seus pacientes as melhores formas de superar as deficiências. A reabilitação desportiva aplicada no Centro é fonte também de esperança e mudança de vida para a muitas pessoas que são reabilitadas. Não se restringe apenas ao desenvolvimento do organismo, mas de resgate da autoestima. Ao todo, são 200 pessoas sendo atendidas com a reabilitação e cinco delas estão em processo de treinamento para competições.
As modalidades oferecidas são natação, capoeira, hidroginástica, futebol de amputados, dança, basquete de cadeira de rodas. A natação é um dos esportes onde estão saindo premiados paratletas e eles encaram a situação como momentos de superação.
Benjamim Pessoa Vale é presidente voluntário da Associação Reabilitar, entidade social sem fins lucrativos que administra o Ceir desde a fundação e acredita ainda que o esporte é essencial para a inclusão.
"Com o trabalho desempenhado aqui no Ceir, podemos comprovar que o esporte está entre as principais formas de inclusão social e de resgate da autoestima de quem possui algum tipo de dificuldade de locomoção.
Além dos benefícios físicos, a prática desportiva desenvolve o relacionamento interpessoal entre os pacientes e os encoraja a superar os próprios limites".
O instrutor de educação física do Ceir, Childerico Lopes, explica como o esporte é inserido no processo de reabilitação. O paciente utiliza a prática esportiva através de propostas de tratamento acrescentadas através de avaliação médica e da equipe que cuida do paciente e que necessita de total adesão do reabilitado.
?O paciente só entra em processo de treinamento de acordo com a evolução e o interesse que ele demonstra pelo esporte e os benefícios são numerosos. Para a pessoa amputada, melhora o condicionamento físico para quem usa próteses, que exigem um preparo para que ele aprenda a suportar o peso, além do fundamental controle do peso?, disse o educador físico.
Atletas da natação
Há cinco anos na reabilitação esportiva do Ceir, Ana Cássia,15 anos, é uma grande aposta para as competições de natação. Há três anos competindo com jeito de profissional, já contabiliza 15 medalhas, sendo duas de ouro, além de excelentes colocações em paraolimpíadas escolares de nível nacional. Diariamente a adolescente divide o seu tempo entre as raias do Centro, a escola e o sonho de ser uma atleta olímpica. Todo este empenho e coragem está direcionado para as competições de 2016 no Rio de Janeiro. Com apenas uma das pernas, Ana Cássia faz o que poucos se propõem: acredita.
?Hoje eu me sinto muito diferente. Por conta do que aconteceu, nunca imaginei que iria estar onde eu estou hoje?.
Da infância, a garota tem lembranças duras. Com apenas seis anos teve uma das pernas amputadas durante um atropelamento, em que um veículo sem controle invadiu a calçada de sua casa.
Quem também agarrou a sua forma de reabilitação como um passo para a mudança de sua vida foi a nadadora Naiara Maria Linhares, 21 anos, há cinco em reabilitação no Ceir e três em treinamento. Desde o início de sua rotina de competições, a jovem ganhou 14 medalhas, cada uma com importância inestimável.
A jovem tem paralisia cerebral, o que comprometeu a sua locomoção. Ela foi submetida a sete cirurgias e logo iniciou a natação como forma de reabilitação. ?Foi nadando que eu consegui me desenvolver fisicamente, aumentar meu equilíbrio e força, pois eu andava só na cadeira de rodas e hoje eu já consigo caminhar com a ajuda do andador?.
De longe os profissionais do Centro enxergaram o seu potencial para o nado, além de um forte espírito de competição. "A minha palavra para o que eu faço é superação?.
Além do esporte, a moça se dedica aos estudos para entrar em uma faculdade de Psicologia, considerada o seu mais importante objetivo de vida, assim como competir nas Olimpíadas de 2016.
Time de amputados é estrela no esporte do CEIR
Outra estrela do esporte no Centro de Reabilitação é o time de futebol de amputados, formado por ex-jogadores que recuperaram uma nova maneira de viver bem e fazer o que tanto gostavam. O time também faz parte de um projeto maior idealizado pelo educador físico Childerico Lopes. Juntos viajam pelos municípios para mostrar a reabilitação desportiva e sensibilizar gestores e profissionais para a riqueza dos esportes para as pessoas com deficiência. O primeiro a receber o grupo foi José de Freitas no mês de junho e o próximo será Valença, ainda em julho.
?Nós queremos despertar o desejo nessas pessoas pelo interior e resgatá-las da falta de possibilidades, pois sempre vai haver demanda de pessoas que necessitam da reabilitação. Pretendemos propor ao poder público local que projetos de reabilitação sejam implantados no local, além de incentivar estudantes de educação física de outros municípios para que desenvolvam projetos nesses locais?, disse o educador físico Childerico Lopes, que trabalha com reabilitação há 14 anos.
Muita ginga e berimbau
A prática da capoeira é outra grande fonte de diversão para crianças em reabilitação. Com aulas semanais, cerca de 15 crianças se reúnem em uma roda de capoeira com direito a toda a ginga e berimbau. Crianças com qualquer tipo de deficiência física podem participar deste momento.
Com apenas 10 anos de idade Emilly Emanuele sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e cedo demais teve de enfrentar uma realidade pesada. Com uma das pernas afetadas e dificuldades grandes de locomoção, ela iniciou tratamento do Ceir e há alguns meses participa das capoeiras. Hoje, aos 12 anos já comemora as primeiras evoluções e muitos amigos que conheceu durante o tratamento.
O pai da garota, Jean Carter Elegance, disse que os problemas motores da menina já melhoraram em 10% desde o início da prática, mas os benefícios estão além. ?Por causa da capoeira ela tem muita convivência com pessoas e melhorou muito; antes era muito agitada e pensava negativamente, depois começou a se desenvolver e ficou mais tranquila?, disse o pai.
Convidado especial para as atividades do dia, o capoeirista mestre Touro aprova o uso da capoeira na reabilitação e motivação dessas crianças. ?Nós podemos ver a amplitude nas áreas cultural, social e esportiva, no entanto a área de reabilitação ainda é pouco conhecida, mas é um trabalho importante que envolve a pessoa, principalmente na autoestima. Os métodos da capoeira ajudam muito no dia a dia e qualquer pessoa com deficiência pode participar, mas para isso é importante ter um professor capacitado com conhecimentos tanto sobre capoeira e reabilitação para cruzar as duas áreas. É o caso do professor Childerico?, disse o mestre de capoeira.
Ao longo destes cinco anos, o número de profissionais na reabilitação desportiva aumentou, assim como as modalidades esportivas ofertadas. Isso porque o Ceir e a Associação Reabilitar acreditam neste tipo de tratamento. "Estamos sempre revendo o que pode ser melhorado para atender a demanda, que cresce a cada dia", disse o presidente Benjamim Pessoa Vale.