O Piauí deu mais um passo na luta contra o preconceito. Na noite da quarta-feira (06), a Ordem dos Advogados Seccional Piauí (OAB-PI) entregará a carteira profissional de Flávia de Sousa Cunha, a primeira advogada trans do Estado a receber o documento. A advogada vê o recebimento da carteira como a abertura de novas portas para a advocacia do Estado.
Flávia iniciou o curso de Direito em 2014 e em abril do ano passado prestou o exame da OAB e teve êxito na aprovação. Tendo o seu primeiro contato com a advocacia através da tia e madrinha Edna Viana, também advogada, Flávia conta que desenvolveu admiração pela tia e pelo trabalho, mas o direito ainda não estava no seu radar. "Eu sempre quis ser professora e também tinha uma paixão pelo jornalismo, mas não tive êxito no vestibular. Sete anos depois, voltei a fazer o ENEM e obtive uma pontuação muito boa, e consegui entrar na faculdade de Direito. Hoje já estou formada em Direito", fala a advogada.
Ela fala ainda que, mesmo entrando na advocacia, o sonho de lecionar ainda existe. "O magistério ainda está nos meus planos, porque é uma área que se comunica muito bem com a advocacia", comenta.
Flávia atua na área civilista e tem a especialidade em direitos da família. "Atualmente, eu faço parte da Comissão de Direito da Família da OAB e farei pedido para continuar na comissão durante a próxima gestão. Eu já recebi o convite do presidente Celso Barros Neto para presidir a Comissão da Diversidade Sexual, mas no momento eu não tenho pretensão de entrar na presidência", diz Flávia de Sousa Cunha.
Ela fala ainda que o preconceito não foi um obstáculo durante o trajeto para se tornar advogada. "Essa é uma questão muito frequente, mas ao invés de ter problemas desse tipo, o preconceito quase não existiu. Desde o início, o curso foi receptível. O maior desafio veio da parte do estudo, como toda área que necessita de um estudo mais pesado, mas com foco e convicção todas as barreiras foram superadas", destaca.
Flávia reforça que a pessoa precisa ter foco para alcançar os objetivos e que ficar com medo de lutar pelo que quer por causa de preconceitos não é mais uma opção. "Sonhar com algo e abandonar esse sonho por causa de preconceitos não é algo saudável. Minha dica é deixar o preconceito de lado e focar nos estudos, se esse foco for mantido, os objetivos serão atendidos. E se o preconceito persistir, é uma questão que já pode ser concluída judicialmente", finalizou.