A primeira audiência do processo sobre a morte do menino Bernardo Boldrini, marcada para esta terça-feira (26), em Três Passos, na Região Noroeste do Rio Grande do Sul, terá reforço policial, bloqueio de vias no entorno e restrição à imprensa. Tudo para proteger e minimizar efeitos externos às testemunhas de defesa e acusação arroladas pelo juiz Marcos Luís Agostini, responsável pelo caso. Dos quatro réus, apenas a assistente social Edelvânia Wirganovicz e o irmão dela, Evandro Wirganovicz, optaram por comparecer. O pai, Leandro Boldrini, e a madrasta, Graciele Ugulini, pediram dispensa.
O corpo de Bernardo foi localizado no dia 14 de abril enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen, a cerca de 80 quilômetros de Três Passos, onde ele residia com a família. O menino estava desaparecido desde 4 de abril. Leandro, Graciele, Edelvania e Evandro estão presos e respondem por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.
Ao todo, serão ouvidas 33 testemunhas, de defesa e acusação. São familiares, vizinhos, amigos e outras pessoas que possam colaborar com a Justiça. Entre os nomes considerados mais importantes estão: as delegadas que trabalharam no caso, Caroline Bamberg Machado e Cristiane de Moura Baucks, a ex-babá de Bernardo, Elaine Rader – que relatou uma tentativa de asfixiamento da madrasta ao garoto – a professora dele, Simone Müller, e um casal que possuía forte vínculo afetivo com o garoto, Carlos e Juçara Petry. A ex-secretária de Leandro Boldrini, Andressa Wagner, e a avó de Bernardo, Jussara Uglione, também foram convocadas.
Cerca de 40 policiais militares farão a segurança da audiência na parte interna e externa do Fórum de Três Passos. Destes,15 serão deslocados de outras regiões do estado, como Santa Rosa e Frederico Westphalen, municípios próximos a Três Passos. Nas ruas, a polícia fará isolamento de uma quadra e não permitirá aproximação do público com receio de protestos em frente ao prédio.
Registros fotográficos, filmagens e gravações serão permitidos somente nos primeiros 15 minutos da audiência. As exigências foram impostas pelo próprio juiz Marcos Agostini. Não fosse a intervenção do desembargador presidente do Conselho de Comunicação do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), Túlio Martins, o encontro seria fechado. Martins observou a relevância do caso e destacou a importância da presença da imprensa no local.
A audiência tem início previsto para as 9h15 e não tem horário para terminar. Se houver necessidade, uma nova data será marcada para prosseguir com os depoimentos das testemunhas do caso. Na semana passada, o juiz Marcos Luís Agostini negou um pedido do advogado Jader Marques, que defende Leandro, para adiar a audiência.
Os réus Leandro Boldrini, pai de Bernardo, e Graciele Ugulini, a madrasta, não estarão presente na audiência. Os pedidos de dispensa foram atendidos pelo juiz. O magistrado entendeu que é direito dos acusados optarem por não ser conduzidos ao encontro, salvo naquela em que serão interrogados.
Entenda
Conforme alegou a família, Bernardo teria sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No dia 6 de abril, o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.
No início da tarde do dia 4, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. Graciele trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
O pai registrou o desaparecimento do menino no dia 6, e a polícia começou a investigar o caso. No dia 14 de abril, o corpo do garoto foi localizado. Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem de um sedativo e depois enterrado em uma cova rasa, na área rural de Frederico Westphalen.
O inquérito apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Ainda conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita Leandro e Graciele arquitetaram o plano, assim como a história para que tal crime ficasse impune, e contaram com a colaboração de Edelvania e Evandro.
Depois de encerrada a primeira etapa, novas audiências serão realizadas. Foram 25 testemunhas arroladas pelo Ministério Público (MP) e 52 pelas respectivas defesas, totalizando 77 pessoas. Após o depoimento das 33 em Três Passos, o restante será ouvido por carta precatória, conforme o local onde residem. Haverá testemunhas em Frederico Westphalen, Campo Novo, Coronel Bicaco, Santo Augusto, Palmeira das Missões, Rodeio Bonito, Ijuí, Santo Angelo, Porto Alegre e Florianópolis (SC).
Cumpridas todas as precatórias, será designada uma nova audiência para ouvir alguma testemunha de defesa que possa ter ficado para trás por motivos como atestado médico, viagem, etc. Na sequência, haverá alegações pelas partes e a sentença do juiz para avaliar se é caso de pronúncia (se vai a júri ou não).