Satélites do Copernicus, programa da Agência Espacial Europeia (ESA) detectaram os primeiros sinais que indicam a chegada do El Niño, fenômeno climático caracterizado pelo aquecimento anormal e persistente da superfície do Oceano Pacífico na região da Linha do Equador, que provoca ondas de calor e secas extremas em diversas regiões do mundo, inclusive no Brasil.
Os sinais ocorreram entre o início de março e fim de abril deste ano. Foram as chamadas ondas de Kelvin, que se formam no Pacífico Equatorial e que se propagam, levando calor para outras áreas. Com o radar altímetro, o Sentinel 6 verificou que as ondas de Kelvin tiveram altura entre 5 e 10 centímetros e larguras de centenas de quilômetros, que se movimentaram de oeste para leste através do Pacífico Equatorial, em direção à costa ocidental da América do Sul. No dia 24 de abril, foram registradas zonas de acúmulo de calor nas costas do Peru, Equador e Colômbia.
Os pesquisadores também observaram o enfraquecimento dos ventos alísios, que sopram de leste para oeste na região equatorial, responsáveis por gerar condições mais frescas e úmidas no sudoeste dos Estados Unidos e estiagens nos países do Pacífico Ocidental, como Indonésia e Austrália. Para os especialistas do Jet Propulsion Laboratory da Nasa, que fornecerem três dos instrumentos usados pelo satélite europeu, essas ondas, no período da primavera, são consideradas "precursores claros" do El Niño.
Recentemente, os especialistas do Copernicus - e da Comissão Europeia - haviam previsto que o El Niño chegaria na segunda metade de 2023, previsão semelhante feita pelos profissionais da Organização Meteorológica Mundial, da ONU. No início deste mês, a Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu um alerta sobre a alta probabilidade do fenômeno El Niño ocorrer este ano, o que poderia resultar em novos recordes de temperatura em escala global. Segundo Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), o mundo precisa se preparar para as possíveis consequências, como ondas de calor e outros efeitos que podem impactar o planeta em 2024.
As estimativas apontam que será um período de temperaturas recordes e secas intensas. Pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Impacto Climático de Potsdam, na Alemanha, estimam que "será um evento de moderado a forte - acima de 1,5°C".
Impactos do El Niño no Brasil
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o El Niño aumenta o risco de seca na faixa norte das regiões Norte e Nordeste; já no Sul do país, o fenômeno tende a provocar grandes volumes de chuva.
"Logo, no meio do Oceano Pacífico, chove muito e com frequência durante o El Niño. Durante as chuvas, esse mesmo ar quente, agora mais seco, continua circulando e, dessa vez, desce no norte da América do Sul, inibindo a formação de nuvens e, consequentemente, a ocorrência de chuvas em parte do Norte e Nordeste do Brasil. Afinal, o ar que provoca a formação de nuvens é aquele que sobe da superfície terrestre para a atmosfera e não o contrário.", informou o INMET.
Ainda de acordo com o Instituto, na Região Sul, o El Niño aumenta a probabilidade de chuvas acima da média. "A circulação dos ventos em grande escala, causada pelo El Niño, também interfere em outro padrão de circulação de ventos na direção norte-sul e essa interferência age como uma barreira, impedindo que as frentes frias, que chegam pelo Hemisfério Sul, avancem pelo País. Logo, as frentes ficam concentradas por mais tempo na Região Sul do Brasil", informou.
Com informações da ANSA via UOL