O professor exerce uma das funções mais importantes para uma sociedade. Compartilhar um conhecimento e fazer o outro crescer é a habilidade desse profissional, que para atuar de uma maneira presente no atual âmbito educacional brasileiro, necessita de um esforço físico e mental.
Na propagação de informações, que conduz caminhos e influencia vidas e projetos, está um profissional pouco amparado pelo estado. A desigualdade social é reproduzida pelo mesmo sistema que instrui a educação e ascensão social dos brasileiros.
Norma Beatriz Brito é professora da rede estadual de ensino há 15 anos. Ela relata que dentre seus principais desafios está a indisciplina de alguns alunos, falta de segurança e a precária estrutura das escolas. Além disso, outra situação abala esses profissionais
“O salário anda longe de suprir as necessidades de um professor. Nós trabalhamos de segunda à sábado, com carga horária puxada e o salário não corresponde às nossas expectativas”, disse Norma Beatriz.
Salário
O Brasil possui uma realidade dolorida que não deixa dúvidas que o profissional da área da educação é desvalorizado e tem sua importância invisibilizada pelos dirigentes de educação do governo e também pela população, que se cala diante da situação vivida por mais de 2,5 milhões de docentes. O atual piso salarial dos profissionais do magistério público da educação básica é de R$ 2.557,74.
Segundo o Anuário Brasileiro de Educação Básica 2019, em 2018, a média salarial dos docentes é de R$ 3.823,00, enquanto a do conjunto dos trabalhadores brasileiros graduados consta R$ 5.477,05. O rendimento médio dos professores da Educação Básica corresponde a 69,8% do salário médio dos profissionais com curso superior.
Esse desafio de uma melhor remuneração aos professores ainda deve persistir. Tendo em vista que o salário constatado na pesquisa não compreende à remuneração de grande parte dos professores de educação básica. Cerca de 10% dos municípios brasileiros, por exemplo, ainda não têm plano de carreira para seus professores.
'Desestrutura'
Outros empecilhos, também formam grandes obstáculos para o professor exercer seu trabalho de forma digna. Há 10 anos, Norma trabalha no Centro Estadual de Tempo Integral Padre Joaquim Nonato Gomes, que venceu o prêmio nacional de Boas Práticas na Gestão 2018.
No entanto, o CETI, que era localizado no bairro Bela Vista, está cedido na escola Alberto Silva, localizado no bairro Morada Nova, pois a unidade do Bela Vista está há 4 anos em reforma e, segundo a professora, a atual unidade não tem estrutura para comportar uma instituição de tempo integral.
“Essa escola não tem capacidade para receber quase 300 alunos, não são suficientes os banheiros, falta água frequentemente e a quadra não é coberta para os alunos praticarem esportes”, falou.
Este ano, a instituição recebeu novos climatizadores, no entanto, a rede elétrica não foi capacitada e a energia cai constantemente. “O meu maior desejo é que a gente volte para nossa escola no Bela Vista, para dar uma estrutura melhor tanto para os professores, quanto para os alunos. Se sem estrutura, a escola já se destaca, imagine se os alunos tivessem todas as condições de aprender com uma escola boa, para que eles pudessem se desenvolver melhor”, pediu.
Mesmo com essas dificuldades, a professora não desiste de capacitar pessoas da melhor maneira “Eu amo ser professora. Sempre gostei de estar próximo às crianças e passar o que eu sei para elas. Eu tento mostrar que o aluno de rede pública têm condições de concorrer ao mesmo pé de igualdade de um aluno de escola particular”, relata.
Qualificação
Francisco das Chagas Rodrigues é pedagogo e mestre em Educação. Filho de agricultores do interior do estado, confessa que no início não teve muitas escolhas, foi para a educação, onde acreditava que conseguiria uma vaga para estudar. Depois, começou a gostar e compreender a importância de ser educador em um país injusto e desigual, acreditando que poderia fazer a diferença.
“Quando assumi a sala de aula na educação pública, há 18 anos, logo vi que a realidade era longe daquilo que me fizeram acreditar na academia. Vi também que a formação ofertada pelo sistema era insuficiente para dar conta dos desafios surgidos no percurso das rotinas diárias de um professor”, relata Francisco.
Apesar da assistência pedagógica ofertada pela escola, ele revela que havia um grande vazio que precisava ser preenchido pelo professor. “Faltava material para pesquisa e materiais mais básicos como papel para atividades, por exemplo. Mas reconheço que a maior dificuldade, vinha mesmo da fragilidade da formação inicial na universidade, que não preparava para a realidade de uma educação pública de periferia”, relatou.
Os desafios externos que o pedagogo Francisco das Chagas enfrenta atualmente é a evasão escolar, ausência da família de alunos, alunos sem preparo e ainda a falta de espaço de discussão e formação dentro da escola
“Eu tenho experiência na formação de professores e sinto falta dessas discursos e formações no interior da escola, pois seria um grande ganho para os professores. Atualmente os desafios, considero um estímulo indispensável, pois é diante deles que encontro a motivação para a superação, criatividade e consequentemente o sucesso dos meus alunos”, informou
Ele também reconhece o privilégio de ter atuado em escola particular e também por ter sido oportunizado pela prefeitura, como formador em programas para professores. Estes ganhos, foram frutos do aperfeiçoamento com especialização e mestrado voltado para prática em sala de aula.
“O preparo da formação inicial continua insuficiente, formações continuadas não dão conta dos desafios enfrentado no dia a dia da escola e o gestor embora tenha boa vontade , nem sempre tem condições de apoiar seus professores como gostariam”
Para aquele professor que assume o compromisso de garantir a aprendizagem de todos os seus alunos, o salário do professor ainda está longe do ideal, frisa Francisco
“Hoje um grande porcentual de professores da educação básica, necessita trabalhar três turnos para sobreviver. Diante de uma carga horária dessa, como ele vai se planejar? Não sobra tempo. Os alunos é que pagam o preço com professores estressados, sem tempo para pesquisas, simpósio, fóruns e atividades para os alunos”, exemplificou.
As dificuldades na implementação e no conhecimento sobre da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por exemplo, é uma falha na educação de professores. “Qual será o motivo? É falta de tempo, de condições e a gente conclui que ainda precisa melhorar muito para que o professor tenha o salário que possa ser condigno com a carga que ele desempenha junto com seus alunos”, enfatiza.