O percentual de brasileiros endividados no País segue alcançando recordes históricos e nunca se reforçou tanto a necessidade de se ter educação financeira como hoje, sobretudo em meio à crise gerada pela pandemia da Covid-19, quando milhares de famílias perderam seus empregos e se viram sem dinheiro para sobreviver.
Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada em maio de 2021 pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 68% do total de famílias estavam endividadas, índice mais alto da série histórica (iniciada em 2010).
Nesse sentido, uma parceria firmada entre o Ministério da Educação (MEC) e Comissão de Valores Mobiliários (CVM) quer mudar a realidade brasileira ao promover um curso de educação financeira aos professores das redes pública e privada de ensino do Brasil.
A formação visa oferecer conhecimentos básicos sobre finanças pessoais de forma interligada às disciplinas da grade curricular dos estudantes. A expectativa inicial é capacitar, em três anos, 500 mil professores que poderão levar o tema a mais de 25 milhões de estudantes.
O diretor de Formação Docente e Valorização dos Profissionais da Educação do MEC, Renato Brito, afirma que o acordo entre o Ministério e a CVM está previsto para ser assinado em julho deste ano. A formação será oferecida de forma virtual e gratuita, e poderá ser realizada por todos os profissionais que atuam na educação básica, independentemente de sua licenciatura.
“A educação financeira vai para além de um professor que é licenciado em matemática. Um professor de matemática pode não estar capacitado para trabalhar com educação financeira, por exemplo. Quando falamos em formação continuada, é porque o professor já finalizou a sua licenciatura, às vezes nem é licenciado em matemática, mas se vê no papel em que precisa trabalhar com educação financeira na escola, então vamos possibilitar que ele obtenha essa formação. O grande forte aqui é essa formação voltada para a educação básica, que tem um senso de urgência muito grande”, disse Renato Brito.
Monitoramento de resultados
Renato ressalta ainda que o MEC não vai interferir na autonomia das redes municipais e estaduais. O MEC e a CVM proporcionarão o acesso de todos os professores da rede pública e privada, além de acompanhar e conceder certificação aos profissionais que realizarem o curso. Nesse sentido, a parceria também objetiva monitorar e avaliar os resultados da formação. Brito afirma, portanto, que o MEC não ditará as regras, mas sim fará o papel de escutar as escolas para entender as necessidades apresentadas.
A formação, que tem a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como referência, deve ser implementada a partir do segundo semestre deste ano. Os anos finais do ensino fundamental serão os primeiros focos da formação. José Alexandre Vasco, superintendente de Proteção e Orientação aos Investidores (SOI) da CVM, e o diretor Renato Brito, justificam essa priorização apresentando o fato de que os anos finais do ensino fundamental possuem o maior índice de evasão.
“A educação financeira é uma competência fundamental para formar poupadores e permitir o crescimento em bases sólidas do número de investidores no Brasil. Sendo tão essencial ao cidadão, deve ter início o mais cedo possível, preferencialmente na escola, como recomenda a OCDE. A iniciativa configura uma oportunidade única de disseminar o tema nas salas de aula brasileiras”, afirma o superintendente da CVM.
Um estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) intitulado por Financial Education in Schools mostra que o conhecimento de educação financeira na infância ajuda a formar adultos capazes de administrar melhor as suas vidas, pois evitam assumir dívidas incontroláveis, promovem cuidados com a velhice e com a saúde.
Para o diretor de Formação Docente e Valorização dos Profissionais da Educação do MEC, a educação financeira está ligada à educação empreendedora, a um projeto de vida. E afirma que oferecendo a formação aos professores dos anos finais do ensino fundamental, o MEC propiciará uma consciência em relação às finanças pessoais, formando, assim, uma sociedade financeiramente saudável.