Por José Osmando de Araújo
No ano de 2003, em seu primeiro mandato, o presidente Lula - inspirado na invenção de um pedreiro da Bahia-, implantou no Brasil o programa de Cisternas, começando aí uma rede de proteção contra a seca e a sede, que secularmente sempre atingiram os nordestinos.
A ideia de Manoel Apolônio de Carvalho, o seu Nel, consistia num modelo de placas pré-moldadas, capazes de promover eficientemente o armazenamento d’agua, tendo um efeito vantajoso na contenção da desertificação no Nordeste.
Cada cisterna para consumo humano tem 16 mil litros, é semienterrada e armazena água das chuvas captada do escoamento dos telhados das casas. A cisterna para agricultura tem 52 mil litros, é enterrada e armazena água das chuvas captada do solo, canalizando as enxurradas.
Pois bem. Em 2003, o Governo Lula mandou construir as 6.497 primeiras cisternas, que em 2007 já seriam 72.234, saltando para 91.517 em 2011, último ano de seu segundo mandato. Com Dilma Roussef na Presidência, o programa de cisternas prosseguiria, chegando a 116.207 em 2015. Com Lula e Dilma o Brasil ganhou algo em torno de 1 milhão e 200 mil cisternas, com um efeito quase que milagroso no abastecimento d’agua para as famílias da região, para suas lavouras e para matar a sede de animais.
COMBATE A FOME
Tamanho é o sucesso desse sistema brasileiro de abastecimento que, em 2017, a Convenção das Nações Unidas para Combate à Desertificação, considerou ser essa a segunda melhor política do mundo de combate à seca e à desertificação. O programa foi olhado como aquele que mais valoriza o conhecimento da região, promove a troca de experiência entre agricultores e partilha conhecimento sobre como estocar água, para servir nos momentos de seca, ajudando na alimentação humana e de animais, na preservação de sementes e na prosperidade das lavouras. A ONU reconheceu que o programa mata a sede e a dependência, produz alimentos e combate a fome.
PUNIÇÃO AOS NORDESTINOS
Todo esse trabalho de enorme êxito foi jogado fora. O programa foi abandonado com Bolsonaro no governo. Basta observar o que os órgãos de fiscalização e controle descobriram: Em 2022, por exemplo, em todo o Brasil foram implantadas apenas 3.698 cisternas, praticamente metade das que foram construídas no primeiro ano de implantação (2003), quando se criaram as primeiras 6.497 cisternas. E um detalhe: nenhum contrato novo sob Bolsonaro foi efetivado. Apenas se deu sequência mínima ao que determinavam contratos celebrados em governos anteriores. Esse foi o menor número do programa em toda a sua série histórica. E carrega todas as características de algo devidamente programado, uma espécie de castigo/punição aos nordestinos
QUALIDADE DE VIDA
Essa poupança de água permitida com a implantação do programa de cisternas, serviu para evitar situações-limite a que eram submetidas as famílias do semiárido nordestino, e contribuiu de maneira visível para melhorar a qualidade de vida e elevar a autoestima da população, eliminando a triste paisagem da lata d’agua na cabeça.
PERDAS AGRÍCOLAS
Essa desastrosa constatação de que o governo passado abandonou o programa de cisternas no Brasil, vem numa hora dramática, diante da estimativa levantada por pesquisadores da real possibilidade da presença do El Niño no Brasil. Esse fenômeno, que atua desde 2020 no Oceano Pacífico Equatorial, poderá se alongar por três anos, registrando perdas agrícolas e falta d’agua. As previsões são de que 2023 seja um ano bem mais quente que os anteriores. Isso pode trazer consequências fatais.