Projeto de Educação Popular é foco e alternativa no Brasil

O projeto nasce articulado a uma concepção de que a educação sempre é um ato político.

TELMO | Pesquisador propõe reflexão sobre a colonização do saber. | Reprodução Jornal MN
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Superar o atual estado das coisas e da sociedade para que a partir da valorização dos saberes os povos da América Latina sejam sujeitos da sua história. É assim que começa a utopia deste continente a partir da Educação Popular.

Em entrevista ao Jornal Meio Norte, o professor doutor Telmo Adams, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos- Rio Grande do Sul) fala sobre o que é esse projeto de educação alternativa e também como a economia solidária se propõe como espaço de novas construções possíveis, para um outro mundo possível.

Para os propulsores da Educação Popular não há como falar de América Latina sem compreendê-la como uma promessa para o futuro, que é projetado pedagogicamente num presente de construções e organizações populares, por isso é utópico, não porque não é possível, mas porque propõe um caminhar para o futuro.

O professor Telmo Adams conta que o projeto de educação popular nasce articulado a uma concepção de que a educação sempre é um ato político. Deste ponto de vista, a mesma educação deve ser canalizada para construir a emancipação das classes populares. ?Projetar um outro tipo de vida, com outros valores, projetando assim um outro tipo de sociedade?, diz Telmo.

A educação popular tem como um de seus baluartes o então patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire, que se preocupava em elaborar metodologias que problematizassem a realidade. Por isso, Adams explica que esta concepção de educação vai se preocupar, além de identificar, também criar espaços de confronto com todos os tipos de opressões, sejam elas de gênero, raça ou entre classes sociais.

O escritor e pesquisador lembra ainda que no primeiro momento os espaços da educação popular eram informações, no chão das fábricas, principalmente os círculos de cultura de Paulo Freire. A partir da década de 80 começa-se a reivindicar que a educação popular seja vista não apenas como metodologias nos espaços informais, mas seja uma concepção da educação pública e que possa fazer parte do dia a dia das escolas formais.

Proposta rompe com colonização do saber

Para intervir na realidade, estudiosos na América Latina começaram a perceber que o Brasil, por exemplo, foi construído a partir dos paradigmas do Norte (Europa e Estados Unidos, principalmente). Busca-se então a valorização do saber local, dos povos locais, das comunidades, partindo dos próprios trabalhadores, para que se construa um saber próprio.

?Como construir saber que problematize a realidade do povo, se esse saber vem colonizado de fora? Aqui começou-se a entender que a nossa colonização não era apenas territorial, mas também há uma dominação dos saberes, dos conhecimentos e da cultura. As epistemologias a partir da ótica do Sul (América Latina e Caribe) valorizam as possibilidades de construir caminhos emancipatórios e endógenos, próprios?, explica.

Adams conta que é daí que se encontram as utopias latino-americanas, pois a partir da revalorização dos povos que se constroem as alternativas. Gabriel Lomba Santiago, também estudioso da educação popular, teoriza que as utopias manifestam-se como negação do domínio presente e no imaginário social, propondo alternativas de mudanças.

Os princípios destas pedagogias que nascem deste processo de organização do povo é a horizontalidade do saber, não um professor que sabe e despeja o conhecimento no saber sem história. O estudante é respeitado a partir de sua história, de seus conhecimentos, por isso tem como princípio também a dialogicidade, o diálogo, a partir da troca.

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