Criado em meados de 2012, na zona rural do município de São Raimundo Nonato, o viveiro de espécies nativas da Caatinga, denominado de Mata Branca, já distribuiu gratuitamente milhares de mudas de árvores ao longo da sua breve história. Turistas, estudantes do Ensino Fundamental, Médio e Superior, além de pesquisadores, jornalistas, órgãos governamentais e pequenos empreendimentos privados da zona de entorno do Parque Nacional Serra da Capivara já foram beneficiados nesse período com as políticas de incentivo à recomposição florestal, devolvendo ao meio ambiente local as árvores que foram retiradas da natureza.
Rica e diversificada, frágil e ameaçada, a vegetação típica da Caatinga é reconhecida por alguns pesquisadores como um bioma global denominado de Floresta Tropical Sazonal Seca. Floresta? Sim, as matas exclusivas das terras nordestinas e do extremo Norte de Minas Gerais são verdadeiras florestas com seu importante papel ambiental. O problema é que a nossa sociedade nunca foi devidamente informada sobre a importância desse Bioma exclusivamente brasileiro, o único dos nossos ambientes naturais, que só ocorre nesse pedaço do planeta. Ou seja, a Caatinga é o nosso filho mais legítimo, uma verdadeira joia da natureza que, durante anos e anos, também em função da omissão da ciência, foi relegada a segundo plano pelas políticas de conservação.
“Dentro desse quadro de desconhecimento e degradação do Bioma Caatinga, o viveiro Mata Branca trabalha de forma voluntária, sem recursos públicos, apenas com a colaboração de voluntários, parceiros e empresas privadas para incentivar a cultura de plantio de espécies nativas do semiárido brasileiro”, disse a bióloga e pesquisadora com doutorado Melissa Gogliath, que coordena a instituição. Nesses sete anos de atividades, milhares de mudas nativas da Caatinga foram produzidas e distribuídas gratuitamente pelo Viveiro Mata Branca, um projeto do Instituto Ecológico Caatinga (IEC), uma ONG criada para coordenar os trabalhos na região.
Numa parceria firmada através do pesquisador José Alves de Siqueira Filho, ganhador do prêmio Jabuti de Literatura com a obra "Flora das Caatingas do Rio São Francisco", e coordenador do Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas (CRAD), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente e a Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), o viveiro Mata Branca recebe assessoria técnica e mantém um banco de sementes nativas doadas gratuitamente pelo pesquisador. O projeto também recebe sementes doadas pelo Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (NEMA), outra instituição pública de ensino e pesquisa ligada à UNIVASF.
Em 2017, o projeto do viveiro Mata Branca foi destaque durante uma exposição fotográfica na Alemanha, que foi aberta na sede da embaixada do Brasil em Berlim e ficou quase um ano em cartaz na Europa. Já em 2018, uma press trip (viagem de jornalistas) trouxe ao Brasil 11 repórteres de variados veículos da Alemanha, Áustria e Suíça para conhecer as reservas ambientais do Piauí. Um dos destaques da viagem foi uma visita dos jornalistas ao viveiro Mata Branca, onde tiveram a oportunidade de conhecer o projeto e plantar mudas nativas da Caatinga na zona de entorno da Serra da Capivara.
Empresa nacional colabora com projeto no Piauí
Com foco no fortalecimento das ações ambientais, mesmo em regiões onde não possui atividades econômicas, como é o caso do Piauí, empresas nacionais têm sido parceiras do projeto do viveiro Mata Branca. Através de suas equipes de sustentabilidade, o viveiro Mata Branca teve acesso a novas tecnologias de produção de mudas, além de participar do Diálogo Florestal, uma iniciativa de ONGs e empresas privadas para discutir novas políticas de produção de florestas plantadas e manutenção da biodiversidade.
A parceria entre o Instituto Ecológico Caatinga (IEC) e empresas privadas teve início através do projeto do viveiro Mata Branca, em meados de 2013, quando manteve a política de fortalecer projetos de sustentabilidade no território piauiense. Essa é uma das poucas iniciativas que aconteceram no Piauí com uma empresa nacional, que decide apoiar um pequeno projeto no semiárido, tendo em vista a sua importância socioambiental.
Semanalmente, estudantes do Ensino Fundamental e Médio de escolas de São Raimundo Nonato e dos municípios da microrregião levam seus alunos para conhecer o projeto de produção de mudas nativas no viveiro Mata Branca. Órgãos como a Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), campus Serra da Capivara, além de alunos do IFPI, da Universidade Estadual do Piauí e de escolas privadas também participam dos projetos de distribuição de mudas nativas.
Museu da Natureza ganha mudas da Caatinga
Além da inovação arquitetônica e das modernas técnicas de exposição científica, o Museu da Natureza, que é destaque na imprensa nacional como um dos mais interessantes do país, inaugurado no último dia 18 de dezembro na zona de entorno do Parque Nacional Serra da Capivara, também faz história ao utilizar em seu projeto paisagístico plantas exclusivas da Caatinga. Nesse sentido, o viveiro Mata Branca fez a doação de centenas de espécies nativas, como angico, aroeira, pau d'arco, imburana, gonçalo-alves, mulungu, tamboril, faveira de bolota, saboneteira, entre muitas outras.
As árvores estão sendo plantadas na área do imenso terreno que abriga o Museu da Natureza na zona rural do município de Coronel José Dias e nos próximos anos serão mais um dos atrativos desse magnífico instrumento de difusão da ciência, da cultura e de incremento ao turismo numa das áreas mais carentes do sertão nordestino. A doação das mudas para o Museu da Natureza foi possível graças à capacidade do viveiro Mata Branca, através do apoio da iniciativa privada de produzir centenas de mudas de espécies nativas a cada mês. Todas as mudas são distribuídas gratuitamente e o projeto é totalmente realizado sem fins lucrativos.