Em decorrência da pandemia do novo coronavírus, o Projeto Guapiaçu, iniciativa da Reserva Ecológica de Guapiaçu (Regua), situada no município de Cachoeiras de Macacu, na região metropolitana do Rio de Janeiro, decidiu aproveitar a Semana do Meio Ambiente para lançar uma trilha virtual, dedicada a estudantes e a amantes da natureza. O passeio virtual foi a forma encontrada pelo projeto de não interromper o trabalho de educação ambiental realizado há muitos anos com alunos da rede pública de ensino da região sobre a Mata Atlântica, disse à Agência Brasil a coordenadora executiva do projeto, Gabriela Viana.
Com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e apoio das prefeituras de Cachoeiras de Macacu e Itaboraí, o projeto já atingiu mais de 26 mil pessoas com atividades de educação ambiental, incluindo visitas, seminários e cursos, sendo 10 mil estudantes, e restaurou 160 hectares de áreas degradadas, com o plantio de 300 mil mudas de espécies nativas da Mata Atlântica.
A iniciativa da trilha virtual permite que as pessoas interessadas, sem sair de casa, aproveitem o isolamento social para percorrer a trilha Grande Vida, primeira da região com acessibilidade para cadeirantes e pessoas com deficiência visual. A trilha tem 1.400 metros e recebeu placas interpretativas com conteúdo de educação ambiental, como formação do solo, biodiversidade, espécies da Mata Atlântica, ciclo hidrológico. “A cada ano fazemos uma melhoria, com o objetivo de oferecer aos estudantes, principalmente das redes públicas municipais e estaduais, uma vivência em uma área de Mata Atlântica”.
Educação lúdica
Gabriela destacou que embora a maioria desses estudantes viva na área rural, não tem o hábito de fazer uma trilha e de receber esse conteúdo de forma lúdica. “Esse é o objetivo da trilha”. O projeto continua agora ampliando a ação para atender a alunos do município de Itaboraí. Como a pandemia impediu os dirigentes do projeto de receber fisicamente esses estudantes, a opção foi criar uma trilha virtual que permita aos jovens, mesmo em casa, terem contato com a natureza.
O tour (visita) virtual oferece imagens de alta resolução, com narração de todo o conteúdo e sons da natureza para que os jovens tenham esse contato com a Mata Atlântica e, inclusive, se sintam estimulados a, após o retorno à normalidade, fazer a visita ao vivo, sentindo o cheiro do mato, ouvindo os pássaros e conhecendo o que existe na trilha e em toda a reserva, disse a coordenadora. Lembrou que, em momentos de isolamento, especialmente nas cidades, educadores observam que a falta de contato com a natureza pode criar mais ansiedade, principalmente entre os jovens.
Ganhos de escala
Gabriela disse que com o patrocínio da Petrobras, o Projeto Guapiaçu ganhou escala e pôde oferecer aos alunos da rede pública de ensino oportunidade de lazer e passeios. “Em tudo que a Regua fazia em termos de restauração florestal e educação ambiental houve um ganho de escala. Nós ampliamos muitas áreas de restauração e também as atividades de educação ambiental. As melhorias na trilha foram decorrentes desse patrocínio”. Foi aumentada ainda a capacidade de receber mais alunos. Atualmente, a reserva trabalha desde a educação infantil até o ensino médio. “É um programa integrado”.
Para as crianças mais novas, a estratégia envolve trabalhar com personagens, entre eles um casal de antas, animais cuja reintrodução na natureza é feita pela reserva, em parceria com o Instituto de Educação Federal e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Gabriela afirmou que há mais de 100 anos não era feita reintrodução de antas na floresta. A educação para essa faixa etária é feita por meio de jogos interativos de tabuleiro que, devido à covid-19, são colocados no site do projeto, https://www.projetoguapiacu.org envolvendo contação de história sobre a importância da natureza para a vida das criaturas de todas as espécies.
A partir de 7 anos, as crianças são recebidas na trilha. Para os mais velhos, que estão cursando o ensino médio, foi estabelecido um programa de monitoramento dos recursos hídricos, que funciona como ferramenta de educação ambiental. Foram selecionados agora mais de 50 estudantes da rede pública que receberiam capacitação dentro da reserva.
Com a pandemia, foi criada uma plataforma de capacitação virtual. Durante 24 meses, eles vão acompanhar os técnicos da Regua coletando água em 12 pontos dos rios Macacu, Guapiaçu e Caceribu, que passam por análise físico-química e biológica. “É uma forma de sensibilização dos estudantes sobre a importância de cuidar dos recursos hídricos”. Gabriela lembrou que atualmente a equipe da reserva conta com duas educadoras ambientais que foram capacitadas pelo projeto.
Dentro da floresta
A coordenadora disse ainda que quando os estudantes entram na trilha se sentem como em uma grande floresta. Lembrou, no entanto, que a área foi reflorestada há apenas15 anos. “É a primeira área que foi reflorestada pela Regua, justamente para dar a mensagem de que o homem não é só capaz de destruir. O homem é capaz de construir também, de recuperar o meio ambiente”.
A trilha virtual em 360 graus tem duração média de 25 minutos. Na presencial, gasta-se cerca de uma hora para percorrer toda a trilha. Para acessá-la, a pessoa deve entrar no site do projeto, se cadastrar e iniciar o passeio. Gabriela Viana afirmou que o cadastro é importante para que a reserva possa entrar em contato depois com as pessoas e ver se há interesse de fazer também visitas presenciais após o fim da pandemia.
Em sua terceira fase, iniciada este ano, o Projeto Guapiaçu pretende reflorestar mais 100 hectares, ou o equivalente a cerca de 100 campos de futebol, com 130 mil mudas produzidas no viveiro da reserva, em sua maioria plantadas com sementes coletadas na região. A reserva conta hoje com 32 pessoas entre veterinários, biólogos, geógrafos, guias florestais, pedagogas, historiadores e reflorestadores.
A Reserva Ecológica de Guapiaçu (Regua) é uma organização não governamental (ONG) com mais de 16 anos, situada na sub-bacia do Rio Guapiaçu, em Cachoeiras de Macacu. O principal objetivo é proteger a Mata Atlântica e sua biodiversidade do desmatamento, da caça e da exploração predatória de recursos naturais. A proposta inclui ainda restaurar habitats nativos, reintroduzir espécies extintas, inventariar a biodiversidade local e fazer um trabalho de educação ambiental com a comunidade.
Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro