Ainda são muito altos os índices de violência contra a mulher, mesmo com a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), que coíbe tal ato, e até programas sociais engajados nessa causa.
É o que confirma o balanço realizado em 2014, pela Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), que registrou 485.105 atendimentos, uma média de 40.425 atendimentos ao mês e 1.348 ao dia. Desde a criação do serviço em 2005, foram mais de 4 milhões de atendimentos.
A pesquisa, que em 2014 atendeu as 27 unidades federativas, destaca ainda que o Distrito Federal foi o que mais procurou o “Ligue 180”, foram 158,48% das ligações, logo em seguida o Mato Grosso, 91,61%, e ocupando o terceiro lugar está o Rio de Janeiro, com 91,18%.
Apesar do Piauí não se encontrar no topo do ranking, o índice é um tanto quanto elevado. Em busca de reduzir tais números, conscientizar e orientar, que foi lançada na manhã dessa quinta-feira (23), no auditório da Fetag/PI, no centro de Teresina, a segunda versão do Projeto Maria Flor, iniciativa da Cáritas Brasileiras, com apoio da Cáritas Arquidiocesana do Piauí, Fetag/PI e Feministas do Piauí (Serve), que há dois anos trabalha com mulheres em situação de violência, agora se propõe a enfrentar a realidade do tráfico humano em rede de solidariedade.
Segundo Luciana Alves, representante do projeto Juventude Empreendedora, a parceria com o projeto Maria Flor pretende formar um grupo de produção para que essas mulheres possam ter garantia de renda.
“O projeto Maria Flor vai se desenrolar ao longo de dez meses e no final do projeto a gente quer montar um grupo de produção para que essas mulheres possam ter uma renda. Daqui para o próximo mês o projeto vai ter início.
Com foco maior no tráfico de mulheres, queremos que elas conheçam os artifícios a favor delas, pois não existe apenas a violência de bater, existe também a violência psicológica, que muitas vezes [acontece] sem ao menos se dar conta”, explica.
Luciana Alves garante que mais de 50% das mulheres que fazem parte de algum projeto da Cáritas no Piauí confessam sofrer violência doméstica e que o índice é maior ainda em cidades interioranas do Estado.
“No nosso Estado o índice é altíssimo. Só para se ter noção, das mulheres que são atendidas pela Cáritas, mais de 50% afirmam sofrer ou já ter sofrido violência doméstica. Como na Cáritas tem vários projetos, a gente tem detectado dentro dos projetos.
E imagina as que não fazem parte do projeto, então é bem maior. Esse número é maior ainda no interior, porque lá as mulheres têm medo dos esposos, têm toda aquela cultura patriarcal”, esclarece Luciana Alves.
Já Marcilene Sousa, coordenadora do projeto Juventude Empreendedora, explica que a contribuição do projeto para com as mulheres em situação de violência será feita em grupos de formação e produção de materiais que gerarão renda a elas.
“O objetivo é fortalecer cada vez mais as ações para que elas aconteçam de forma sistemática, para que a gente possa empoderar as mulheres dentro desse processo.
Vamos trabalhar com encontros para formações e também disponibilizando insumos para contribuir com a produção, que elas se identificarem, pode estar ligada a culinária ou ao artesanato, o grupo é quem vai decidir”, pontua Marcilene Sousa.
O projeto Maria Flor, em segunda versão, que tem a sede no Bairro Dirceu II, na zona Sudeste de Teresina, está previsto para ter início em maio deste ano e vai funcionar, além da capital, nos municípios de São Raimundo Nonato, Parnaíba e Bom Jesus.