O preconceito pode estar fazendo com que os bancos de sangue do Brasil tenham estoque insuficiente. Isso porque, baseado na portaria Nº 2.712/2013, que redefine o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos, homens que tenham tido relação sexual com outro homem é considerado inapto a fazer doação por pelo menos um ano.
Pedindo igualdade e direito à doação de sangue, o movimento nacional Igualdade na Veia defende que a orientação sexual não pode ser parâmetro para definir quem está apto ou não para praticar doação sanguínea. Uma petição eletrônica está reunindo assinaturas para que a portaria seja revogada.
No Piauí, o Grupo Matizes há cinco anos luta para que o governo federal faça a revogação do impedimento. Carmem Ribeiro, coordenadora da entidade, conta que em 2011 representantes da entidade se reuniram com o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para protestar contra a portaria.
“Na época, lançamos a campanha Nosso Sangue Pela Igualdade e foram feitas algumas alterações no documento, como a retirada da expressão ‘grupo de risco’”, comenta Carmem.
A representante do Matizes, organização que defende causas LGBT, destaca que não entende como uma vida pode deixar de ser salva por conta da “discriminação” nos bancos de sangue. “Me lembro de um episódio em que um homoafetivo procurou o Matizes porque foi impedido de doar sangue para um amigo”, lamenta Carmem Ribeiro.
Um estudo publicado no ano passado pela Universidade da Califórnia comprova que caso a doação sanguínea de homossexuais fosse permitida nos Estados Unidos, o estoque total de sangue teria um aumento anual de 2% a 4%.
Considerando um cálculo da Cruz Vermelha que diz que cada doação pode ajudar a salvar a vida de até três pessoas, o número total de vidas salvas desde a proibição seria de mais de 1,8 milhão de pessoas.
A supervisora de coleta externa do Centro de Hematologia do Piauí ( Hemopi), Hortência Rocha, explica que o procedimento de doação no local é feito baseado na resolução do Ministério da Saúde.
“Ainda com a restrição, o estoque de sangue do Hemopi está atendendo a demanda. É uma preocupação diária, mas atendemos todos os hospitais do Estado”, disse.