Situação absurda. Na Unidade Escolar Professor Edgar Tito, bairro Memorare, zona Norte da capital, alunos e professores vêm sofrendo uma série de constrangimentos por parte dos vândalos e usuários de drogas que se apossaram do complexo esportivo da escola.
Eles nem sequer podem realizar as atividades práticas da disciplina de Educação Física ou promoverem os tradicionais torneios esportivos e gincanas, com medo de retaliações, já que o espaço se tornou propriedade do tráfico e da prostituição. Os alunos que se arriscam a utilizar o que sobrou das quadras para alguns amistosos, o fazem por conta e risco, vigiados pelos olhares de usuários de drogas e traficantes.
Ao chegar no local, a equipe de reportagem do Jornal Meio Norte flagrou dois jovens utilizando drogas na entrada da quadra de futsal. Os jovens não se constrangeram com a presença da equipe e continuaram a ação, apenas mudaram de local e acompanharam de longe esta apuração. Ao verem a equipe, alguns alunos se sentiram encorajados a entrar no espaço para denunciar a situação.
“Acho que isso já está assim há uns cinco anos. A Secretaria de Educação vem aqui, mas não faz nada. A quadra está sendo usada pelos usuários de drogas que já quebraram tudo por aqui, não tem luz, nem vestiários, nem nada”, diz Bruno Saraiva, 17, aluno do 3º ano do ensino médio.
“Isso é culpa do governo, um grupo de alunos já se reuniu para reivindicar esse espaço de volta para a escola. Aqui é muito perigoso por conta dos usuários de drogas. Às vezes a polícia até vem aqui, mas não adianta muito”, relata Mariana de Sousa, 17, aluna do 1º ano do ensino médio.
Professores não realizam prática esportiva no local
O diretor da unidade escolar, Lourival Mesquita, afirma que o local é realmente propriedade do tráfico de drogas. Ele lamenta profundamente a situação e diz que se sente impotente, pois já acionou a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) inúmeras vezes, mas nada foi feito. O gestor diz que os professores de educação física da instituição deixaram de realizar as atividades práticas da disciplina por medo de utilizar o local e afirma que estes já forma intimidados pelos usuários de drogas que frequentam o espaço.
“Não foi uma ou duas vezes que eu procurei a Seduc. Durante esses três anos como gestor dessa escola eu já levei diversos ofícios, portfólio com fotos, mostrando a realidade dessas quadras. Só mandaram um engenheiro para ver o local e fazer um projeto de reforma, mas até agora mais nada. Os professores de educação física deixaram de utilizar o espaço por medo, pois já foram abordados pelos vândalos”, afirma.
A professora de educação física Atelania Lima diz que realiza as práticas esportivas no pátio ou dentro da sala, lógico, as que são possíveis. Ela diz que não leva mais os alunos para as quadras porque já sofreu alguns constrangimentos e teme por sua vida e pela vida dos estudantes. “Temos deixado de fazer as práticas, ficamos só nas aulas teóricas. Os alunos cobram e é um direito deles. Toda vez que fomos utilizar as quadras tinham pessoas usando drogas, já vi gente até fazendo sexo lá dentro. Não posso ir para lá e colocar a minha vida e a de meus alunos em risco”, diz.
O outro professor de educação física, Juremelves Campos, conta que não levou mais as turmas para o complexo, porque os vândalos determinavam o tempo das aulas nas quadras. O professor diz que muitos alunos já deixaram a escola por conta do problema. “Estamos perdendo alunos por causa disso. Eu já não levo mais nenhuma turma para lá. Os vândalos ficavam ditando para a gente a quantidade de tempo que deveríamos passar na quadra. Somos reféns dos vândalos, eles se acham os donos”, relata.
O diretor da unidade teme que alguns alunos já estejam envolvidos com drogas. Ele afirma que a determinação da escola é que eles não frequentem o local, mas que mesmo assim, muitos insistem em utilizar o espaço. “Acredito que alguns alunos já estejam envolvidos com drogas. Eles frequentam o local por conta e risco. A determinação da escola, para o bem deles mesmo, é que não frequentem aquele espaço”, diz.
Espaço está completamente depredado
Para acessar o espaço das quadras não se entra por uma porta, mas por um buraco em uma das paredes que o cercam. O local é asqueroso, está tomado pelo mato, lixo e mau cheiro, resultado das fezes e urina dos usuários de drogas que o frequentam. Logo na entrada, após atravessar a passagem tosca, existe muito lixo depositado clandestinamente no espaço.
Só se percebe que no espaço funcionavam quadras esportivas por causa das carcaças de traves e cestas de basquete que ainda existem no local. Os alambrados já não existem, o piso está quebrado e o teto da quadra de futsal comprometido. O campo de futebol está irreconhecível. Os vestiários foram completamente destruídos e, hoje, servem de abrigo para vândalos e usuários de drogas. A cena é realmente caótica.
“A gente entra por um buraco na parede, nem entrada pela escola existe. A fiação, já levaram, os vestiários estão destruídos, viraram foi a casa desse pessoal que usa droga. A gente vem para cá porque é o jeito”, diz o estudante Bruno Saraiva.
“Ali era para ser um campo de futebol, mas é um lixão”, lamenta o aluno Kássio Jardel, 17.
A Seduc foi procurada pelo Jornal Meio Norte para esclarecimentos. Em resposta, a secretaria garante que existe um projeto para a reforma completa do complexo esportivo da Unidade Escolar Professor Edgar Tito e que este se encontra em processo licitatório. A Seduc estima que até o final deste mês o processo seja finalizado e que a reforma total seja realizada até o final deste ano. Com a reforma será construído um acesso ligando a escola às quadras, evitando a entrada de outras pessoas ao local.
A secretaria ainda informa que até o final da próxima semana será realizada a capina e limpeza do espaço.
Repórter: João Cunha