Mais um suspeito de ter participado do linchamento da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, que morreu na segunda-feira (5), em Guarujá, se entregou para a polícia. Com os vídeos do espancamento em mãos, a polícia chegou a identificar cinco pessoas. Três já haviam sido presas anteriormente. Fabiane morreu após ficar dois dias internada no Hospital Santo Amaro. Ela foi confundida com uma sequestradora de crianças que fazia magia negra com as vítimas, após um boato divulgado em uma rede social.
Segundo informações da Polícia Civil, o quarto suspeito se chama Jair e foi um dos cinco identificados por meio dos vídeos gravados no momento do linchamento. O sobrenome dele ainda não foi revelado. Jair chegou na delegacia ao lado do advogado, por volta das 12h, e foi direto prestar depoimento sobre o caso. A polícia deve pedir a prisão preventiva de Jair durante a tarde desta sexta-feira (9).
Na noite desta quinta-feira (8), outros dois suspeitos foram presos. Lucas Rogério Fabrício Lopes, de 19 anos, e Carlos Alex Oliveira de Jesus, de 23 anos, se juntaram ao pintor Valmir Barbosa, que havia sido preso na última terça-feira (6).
Quem são os outros presos
Os outros três suspeitos presos são Lucas Rogério Fabrício Lopes, de 19 anos, Valmir Barbosa, de 48, e Carlos Alex Oliveira de Jesus, de 23. Segundo a polícia, os três confessaram participação no linchamento da dona de casa. Jesus, Lopes e Barbosa estão entre os cinco suspeitos identificados com a ajuda de imagens gravadas e publlicadas na internet por moradores do bairro Morrinhos, onde o crime aconteceu.
Lopes foi preso na madrugada de quinta-feira, após uma denúncia anônima recebida pela Polícia Militar. O rapaz é suspeito de ter passado por cima da dona de casa com uma bicicleta. Ele passou a madrugada na Delegacia Sede de Guarujá. Em depoimento à polícia, o homem se disse arrependido. "Peço desculpas à família, estou muito arrependido. Desculpa mesmo. A gente vê a nossa mãe em casa, nossa tia, e imagina que poderia ter sido com elas. O que pesa mesmo é a consciência", afirmou.
Já Barbosa alegou que tem filhos e que participou da ação por acreditar que as acusações à vítima ? de que ela sequestrava crianças para rituais de magia negra ? fossem verdadeiras. "Aconteceu e aconteceu. Não posso fazer mais nada", disse o suspeito.
O último detido foi Carlos Alex Oliveira de Jesus, de 23 anos, preso no fim da tarde desta quinta-feira (8). Ele foi identificado pela polícia quando apareceu em um vídeo segurando a vítima pelos cabelos. Ele alegou que usava cocaína no momento da agressão e que não chegou a golpear Fabiane, já que foi segurado por duas primas.
O dono da página Guarujá Alerta, que divulgou o boato que levou ao espancamento e à morte de Fabiane, prestou depoimento na terça-feira (6). Segundo o advogado Diego Scarpa, seu cliente está sendo muito ameaçado. "São ataques injustos, estão atacado ele de forma injusta. Em momento algum, será comprovado que meu cliente postou ou incitou a população", defendeu.
Enterro
Centenas de pessoas acompanharam, na manhã de terça-feira, o enterro de Fabiane, que deixou marido e dois filhos ? um de 12 anos e outro de 1 ano. A cerimônia reuniu familiares e amigos, que não se conformam com a crueldade do crime.
O enterro foi realizado no Cemitério Jardim da Paz, em Morrinhos. O marido de Fabiane, Jaílson Alves das Neves, disse que não sente ódio dos suspeitos. ?Para mim, a ficha não caiu. Apesar da brutalidade, não guardo ódio, não guardo esse sentimento ruim no coração. Espero que não aconteça com mais famílias. Essas pessoas que a agrediram e as que assistiram e não tiveram a coragem de salvar uma pessoa inocente não deram nem tempo de defesa para minha esposa. Quero que eles reflitam e que isso não aconteça nunca com a família deles?, explica.
Protesto
Após o enterro de Fabiane, dezenas de amigos e familiares fizeram uma passeata pelo o bairro Morrinhos. Os manifestantes levaram faixas e cartazes com pedidos de justiça.
A população não quer que a imagem do local fique manchada por causa do crime brutal. "Minha maior revolta é que eles fizeram com que a imagem do meu bairro fosse destruída. Eles acabaram com a imagem das pessoas que moram aqui e que são honestas e de bem", lamentou Maria José Dias, que era amiga da vitima há 25 anos.
Maria José foi a última pessoa a ver a dona de casa ainda com vida. "Ela foi buscar uma Bíblia que tinha esquecido na igreja. Tinha pedido para que eu não esquecesse de rezar por ela. Ela estava bonita no sábado, tinha acabado de cortar e pintar o cabelo. Ela se despediu e disse que ia ao médico. A Fabiane nunca fez mal a ninguém. Tiraram o direito de uma bebê crescer ao lado da mãe. Isso não se faz. Essas pessoas chutaram uma mãe indefesa", afirmou.
Revolta de internautas
Dezenas de usuários do Facebook criticaram duramente o administrador da página Guarujá Alerta, e um deles chegou a dizer que o perfil seria tão culpado pela morte da dona de casa quanto seus agressores. Em alguns comentários, os usuários condenaram a publicação do retrato falado, mesmo sabendo que se tratava apenas de um boato.
Em uma publicação feita no fim da tarde de segunda-feira, o dono da página disse que está colaborando com as investigações e que não irá se pronunciar sobre o caso para não atrapalhar o trabalho da polícia.
Confusão
De acordo com o inquérito, o retrato falado atribuído a Fabiane havia sido feito por policiais do Rio de Janeiro, da 21ª DP (Bonsucesso), em agosto de 2012. Na ocasião, uma mulher foi acusada de tentar roubar um bebê do colo da mãe em uma rua de Ramos, na Zona Norte da cidade.
Imagens de câmeras de segurança divulgadas na época mostraram uma mulher passando com a filha de 15 dias no colo e sendo seguida pela suspeita. A vítima estava levando o bebê para fazer o teste do pezinho em um posto de saúde. Ao sair da unidade, foi surpreendida pela sequestradora.