SALVADOR NOGUEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O engenheiro de produção Victor Correa Hespanha, 28, será o segundo brasileiro a ir ao espaço. Não como um astronauta de agência espacial, mas como turista. O voo ainda não tem data, mas ocorrerá em breve, ainda neste ano, a bordo de uma cápsula New Shepard, da empresa americana Blue Origin, na missão NS-21, a quinta a levar pessoas.
A exemplo das anteriores, será uma viagem suborbital. Ou seja, em vez de a nave entrar em órbita, ela alcança a borda do espaço, ultrapassando o limite de 100 km de altura, e desce logo em seguida. No trajeto, os ocupantes da cápsula experimentam cerca de três minutos de imponderabilidade -a sensação de ausência de peso.
O voo se dá por meio de um foguete de estágio único movido a hidrogênio e oxigênio líquidos (na queima, o resultado é emissão de água). A cápsula se solta após a fase propulsada do voo e cruza a chamada linha de Kármán (100 km), onde a atmosfera já é rarefeita demais para sustentar voo aerodinâmico. Então traça uma parábola guiada pela gravidade e, em queda livre, volta ao planeta. O foguete pousa de volta com seu próprio motor, e a cápsula desce suavemente nos arredores, minutos depois, de paraquedas.
Como as missões anteriores, esta partirá do centro da Blue Origin no Texas. A essa altura, a empresa espacial de Jeff Bezos já levou 20 pessoas até a borda do espaço. No primeiro voo tripulado, em julho de 2021, o próprio Bezos fez a viagem, acompanhado por outras três pessoas. A partir da terceira missão com humanos a bordo, o número total de passageiros subiu a seis. O voo NS-21 também levará um sexteto.
Com o voo, Hespanha se tornará o primeiro turista espacial brasileiro. Antes dele, apenas o então astronauta Marcos Cesar Pontes, como representante da Agência Espacial Brasileira, havia chegado ao espaço, em 2006. Na ocasião, Pontes realizou uma missão de trabalho na Estação Espacial Internacional, viajando a bordo de uma cápsula russa Soyuz. O astronauta brasileiro passou dez dias no espaço.
E ele se sente pronto para voar? "Acho que só vou me sentir pronto quando estiver embarcado e com o foguete decolando", disse Hespanha à reportagem, aos risos. "Minha família está bastante ansiosa, assim como eu. Todos animados e ansiosos. Como muitas crianças brasileiras, já sonhei em ser astronauta. Confesso que não ser um tema que acompanhava diariamente, mas sempre tive bastante curiosidade, acompanho alguns canais de tecnologia e ciência e me chamou atenção o quão infinitas são a exploração espacial e as oportunidades que temos para desenvolvimento de tecnologia e alternativas de inovação."
SORTEIO
Diferentemente do que se possa imaginar, Hespanha não entrou nessa como mais um dos magnatas a ir ao espaço. Pelo contrário, foi o vencedor de um sorteio, após investir em um NFT (sigla para Non-Fungible Token), algo como uma propriedade única que só existe no mundo virtual, da Crypto Space Agency.
O investimento daria direito à participação em um sorteio, e Hespanha foi o ganhador. "Comprei pensando no potencial de valorização, nunca imaginei que seria sorteado. Estou realizando um sonho de criança por meio de um NFT, a ficha ainda está caindo", completa.
O tema não deixa de ser controverso. Há muitas críticas em torno do conceito dos NFTs, que exigem grande poder computacional para se tornar itens digitais únicos e, por conta disso, podem ter impacto ambiental considerável (computadores gastam energia, que tem de vir de alguma fonte que pode não ser limpa). No caso em questão, a Crypto Space Agency afirma que se trata de um NFT de uma imagem em formato JPG, que implica baixo impacto ambiental.
O engenheiro está ansioso para poder ver a Terra do espaço e dividir a experiência. "Com certeza, compartilharei o que puder ao longo dessa jornada e posteriormente quero dividir mais sobre essa experiência incrível que a Crypto Space Agency está me proporcionando."
O custo real da viagem não é conhecido, já que a Blue Origin no momento ainda não tem um preço de tabela por assento. Eles são negociados individualmente.
Sua principal concorrente, a Virgin Galactic, realizou um único voo com lotação total da cabine (seis pessoas), levando seu proprietário, Richard Branson, e outros passageiros, em julho de 2021.
O veículo VSS Unity da companhia é um avião-foguete, que atinge altitude pouco superior a 80 km (definição americana da fronteira do espaço) e nunca voa sem pilotos (diferentemente do New Shepard). A empresa retomou a venda de passagens, a um custo de US$ 450 mil por assento, mas deve voltar a voar apenas em 2023.