Um candidato inseriu uma receita de macarrão instantâneo no meio da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e obteve 560 pontos na prova (a nota máxima é 1.000 pontos). O estudante postou a prova no seu perfil do Facebook junto com as justificativas dos corretores do exame com o comentário ?Bela avaliação?. O caso foi destacado na edição desta terça-feira (19) do jornal "O Globo". Em entrevista, o estudante mineiro Carlos Guilherme Ferreira, de 19 anos, disse que escreveu um parágrafo com a receita ?para testar o novo sistema de avaliação do Enem?.
A redação foi considerada "adequada" pelos corretores do Enem. Segundo o MEC, o texto não apresentou discrepância de nota acima de 200 pontos entre os dois corretores e não precisou ir para um terceiro corretor.
A redação tem os dois primeiros parágrafos dissertando sobre o tema "Movimento imigratório para o Brasil no século 21".. Em seguida, o texto diz: "Para não ficar muito cansativo vou agora ensinar a fazer um belo miojo, ferva trezentos mls de água em uma panela, quando estiver fervendo coloque o miojo, espere cozinhar por três minutos, retire o miojo do fogão, misture bem e sirva." O texto termina com mais um parágrafo sobre o tema da imigração.
"Escrevi a receita para testar o novo método de avaliação dos corretores, já que falaram que em 2012 seria diferente, a prova passaria por três corretores diferentes", afirma Ferreira. Ele explica que se inscreveu no Enem quando estava sem estudar, mas no meio do ano entrou no curso de engenharia civil do Centro Universitário Lavras (Unilavras), e resolveu fazer o exame do MEC sem muito compromisso.
O jovem espera que com a repercussão de sua redação inusitada, os critérios para o próximo Enem sejam mais rigorosos. "Acho que vendo essa redação, esse ano a correção vai ser ainda mais rigorosa e isso é bom né?"
A redação do Enem deve obedecer cinco competências previstas no edital. A realização da prova de redação deveria cumprir as exigências de cinco competências determinadas no edital do MEC:
1ª competência: Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita.
2ª competência: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.
3ª competência: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
4ª competência: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários à construção da argumentação.
5ª competência: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando
Na correção, o estudante recebeu 40 pontos de um total de 200 na competência V: ?Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos?. Segundo a correção da prova, o candidato atingiu 20% da Competência 5, atendendo aos critérios definidos a seguir. O participante elabora proposta de intervenção tangencial ao tema ou subentendida no desenvolvimento da argumentação.
Em nota, o Ministério da Educação alegou que "o texto, em sua totalidade, não fugiu ao tema, e não feriu os direitos humanos. Tampouco cabe dizer que o participante teve a intenção de anular sua redação, uma vez que dissertou sobre o tema e não usou palavras ofensivas".
Ainda segundo a nota, "o participante dissertou sobre o tema sugerido, obtendo nota final (560 pontos). No processo de avaliação das redações, a presença de uma receita no texto do participante foi detectada pelos corretores e considerada inoportuna e inadequada, provocando forte penalização especialmente nas competências III (selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista) e V (elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos e considerando a diversidade sociocultural)".
Ainda de acordo com o MEC, a redação em questão possui 24 linhas, sendo vinte referentes ao tema, atendendo às competências, e quatro referentes à receita, com o que sofreu severa penalização.