Após o término da pandemia, a liberdade de poder sair de casa novamente tem impulsionado uma significativa demanda por shows e eventos no Brasil. Esse cenário tem levado as plataformas de venda de bilhetes on-line a alcançarem resultados impressionantes, com um aumento de mais de 100% no volume de vendas em comparação com o período pré-pandemia. Exemplificando esse fenômeno, o show "Numanice", da renomada cantora Ludmilla, realizado em São Paulo no dia 3 de julho, teve seus ingressos esgotados em impressionantes 35 minutos. Da mesma forma, as apresentações da icônica cantora americana Taylor Swift, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, tiveram todos os ingressos vendidos em menos de 40 minutos. Esses eventos marcantes refletem o desejo do público em reviver experiências culturais e musicais ao vivo, sinalizando uma retomada entusiasmada do entretenimento após um período desafiador para a indústria e para os fãs.
Com o objetivo de não perder o interesse dos consumidores que poderiam ficar desestimulados pelos preços elevados dos shows, as empresas têm adotado estratégias para tornar os eventos mais acessíveis. Uma das abordagens tem sido a possibilidade de parcelar os pagamentos em até dez vezes, buscando aliviar o impacto financeiro e permitindo que mais pessoas tenham a oportunidade de participar das apresentações. A plataforma Sympla está experimentando um notável crescimento em sua movimentação mensal de ingressos. Atualmente, a empresa registra uma média de 4,1 milhões de ingressos vendidos por mês, um aumento significativo em comparação com o patamar de 1,8 milhão de ingressos vendidos em 2019.
Impulsionada pelo mercado aquecido, a Ticketmaster, empresa controlada pela americana Live Nation, deu início à sua operação no Brasil em uma fase piloto no ano anterior e já conquistou uma sólida posição no segmento de eventos de grande porte. Nesse curto período, a empresa firmou parcerias com diversos eventos renomados, incluindo o Rock in Rio, The Town e Lollapalooza Brasil.
Além disso, a Ticketmaster alcançou um marco significativo ao vencer uma concorrência acirrada envolvendo nove empresas para a venda de ingressos do tradicional Carnaval do Rio na Marquês de Sapucaí, que comemorará 40 anos no próximo ano. Essa vitória reforça a confiança e reconhecimento que a empresa tem obtido no cenário nacional, consolidando sua presença como uma das principais plataformas de venda de ingressos para eventos de grande escala no Brasil.
“O que a gente já conseguiu para o ano [de projeção de ingresso e faturamento] supera em mais de três vezes a nossa perspectiva anterior para 2023”, disse Donovan Ferreti, diretor-geral da Ticketmaster no Brasil.
A Eventim, segunda maior do mundo no setor, também vê uma forte procura por eventos neste ano, contou o CEO da operação no Brasil, Jorge Reis. “Mas começa a ter uma curva de encontro com o poder aquisitivo diante da questão econômica. Ao mesmo tempo que as pessoas querem ir aos shows, elas já estão gastando muito”, afirmou. Ele destacou que, embora a demanda das classes A e B continue sólida, as demais têm demonstrado dificuldade. “Temos de ver o quão perene vai ser a demanda reprimida. Mas eu achei que este ano seria mais fraco do que o ano passado e na verdade foi superior”, acrescentou.
Em fevereiro passado, a Eventim tomou medidas para fortalecer a demanda, permitindo aos clientes a opção de parcelar o valor dos ingressos em até dez vezes. Anteriormente, essa possibilidade estava limitada a apenas três parcelas em alguns eventos selecionados. Atualmente, aproximadamente 30% dos compradores optam por efetuar o pagamento integral dos ingressos no ato da compra, enquanto o restante prefere parcelar o valor. Dentre aqueles que optam pelo parcelamento, cerca de 25% escolhem a opção de dividir em dez vezes.
Segundo Tereza Santos, presidente da Sympla, observa-se uma tendência crescente de produtores de eventos antecipando suas iniciativas na plataforma devido ao cenário de elevação dos custos na indústria. Paralelamente, os clientes estão enfrentando o aumento dos preços das passagens aéreas, o que tem impulsionado uma maior busca por organização prévia.
“Antes, as vendas de festas do fim do ano começavam mais para perto do início de agosto. Neste ano, em abril a gente já tinha organizadores abrindo lotes para o ano novo”, disse, referindo-se a casos como o do Revéillon Amoré, em Pernambuco.
A tendência de compras antecipadas está impulsionando o desenvolvimento de produtos financeiros especializados na área de eventos. A Sympla planeja lançar em agosto um seguro que garantirá a devolução do dinheiro em situações adversas, como cancelamento de voos, remarcação de datas de provas e questões climáticas. O percentual a ser acrescentado no valor do ingresso para a cobertura do seguro ainda não foi definido. Por sua vez, a Ticketmaster está conduzindo um modelo piloto de seguro, o qual adiciona uma tarifa adicional de 3,3% ao valor do ingresso, visando oferecer aos clientes uma proteção semelhante em caso de imprevistos durante o evento.
Atualmente, o código de defesa do consumidor no Brasil estabelece que é garantido o reembolso em caso de desistência da compra de ingressos até sete dias após a aquisição, desde que seja realizado com antecedência mínima de 48 horas do evento em questão. De acordo com a Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), o setor de cultura e entretenimento apresentou um crescimento significativo, movimentando R$ 57 bilhões no primeiro semestre, o que representa um aumento de 14,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Somente em junho, esse segmento alcançou a marca de R$ 9,6 bilhões em receita, estabelecendo-se como o melhor mês da série histórica do indicador, que teve início em 2019.
A transição dos ingressos físicos para o ambiente digital, apesar de ter facilitado o acesso do consumidor, também trouxe consigo desafios relacionados a golpes e cambistas. No entanto, a Ticketmaster implementou uma solução para combater essas práticas, introduzindo no país uma tecnologia de QR code dinâmico. Essa medida visa evitar fraudes e garantir maior segurança nas transações, proporcionando uma experiência mais confiável para os clientes.
“No mundo digital, esse é um desafio e as empresas precisam encontrar uma saída”, disse Rodrigo Tritapepe, diretor de atendimento e orientação do Procon-SP. Ele cita como exemplos de medidas a validação de CPFs e ferramentas de bloqueio à operação de robôs.
A revenda de ingressos não é proibida no Brasil, mas a atividade de cambistas viola a lei ao prejudicar o consumidor, impedindo-o de ter acesso a um bem ou serviço. “O consumidor é vulnerável. Se eu, consumidor, sou prejudicado por uma empresa que usa a tecnologia para ter mais acesso aos ingressos, temos um abuso de poder econômico”, disse. A crítica recai sobre sites que revendem ingressos na internet muitas vezes por um preço bastante acima do oficial.
(Com informações do Valor Econômico/Globo)