Existe um ditado bastante popular que diz que a grama do vizinho é sempre mais verde, no sentido de que a vida dos outros sempre parece ser melhor do que a sua. O casamento, a situação financeira, a inteligência, a relação com a família, a popularidade, a carreira, às vezes, tudo dos outros parece ser melhor e com as redes sociais as pessoas têm exibido cada vez mais apenas os recortes de momentos bons, felizes e de conquistas. Mas as perguntas que ficam são: será que é sempre assim mesmo? As pessoas postam o que vivem? Ou vivem o que postam? Qual a distância entre a realidade que se vive e a que se quer mostrar nas redes sociais?
Especialistas orientam que independente do momento que se está vivendo, seja real e feliz por completo. Faça o bem para sua saúde mental e não se compare com os outros. Tudo pode ser lindo dentro do enquadramento das telas, mas e fora? Muitas vezes essa grama do vizinho é mais frágil do que se imagina. Por isso, cada indivíduo só deve ser base para si mesmo.
"Percebemos que a sociedade tem hoje o movimento de fugir da realidade e as redes sociais se tornam uma ferramenta bastante útil e eficaz nesse processo. Sabemos que os altos índices de depressão e ansiedade vêm aumentando ao longo dos anos e isso tem muita a ver com a falta de habilidade das pessoas em lidar com algumas emoções, principalmente a frustração”, destaca Renata Bandeira, psicóloga.
A especialista afirma que nesse processo, as redes sociais acabam maquiando o que de fato é real e as pessoas passam a mostrar aquilo que gostariam de ser ou ter. “É importante que ao encarar a realidade, eu comece a aceitar quem eu sou, comece a aceitar minha vida e quem sabe trabalhar de forma positiva para melhorar a minha situação”, acrescenta. Ainda de acordo com Renata Bandeira, quando se é real nas redes sociais, cada um passa a trabalhar a sua auto aceitação, autonomia e até sua autoestima.
"A autoestima é a opinião que eu tenho de mim mesmo, então se vou nas redes sociais e vejo pessoas com 'corpos perfeitos', ‘vidas perfeitas’, eu acabo me comparando e a minha opinião sobre quem eu sou, pode muitas vezes ser influenciado por isso. A gente precisa entender também que atualmente as pessoas utilizam-se de filtros. Nas redes sociais, temos o comportamento de postar só coisas positivas e nem sempre isso é a totalidade da vida, talvez aquilo seja 10%, ou talvez tenha uma edição, então é muito importante encararmos a realidade para que a gente tenha uma saúde mental que seja pautada na vida saudável e real”, pontuou.
Mídias sociais são terreno fértil para comparações.
Na atual sociedade tecnológica, as comparações ficaram ainda mais frequentes. As redes sociais são um terreno fértil para as comparações. A vida do outro sempre vai parecer melhor do que a própria quando você se limita a enxergá-la apenas por um ponto de vista. Ver o outro por apenas um ângulo o impede de identificar os pontos negativos e os defeitos que toda pessoa e situação carregam.
Segundo o psicólogo Rodrigo Lopes da Silveira, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, muitas pessoas vão para as redes sociais e visualizam a vida do outro melhor do que a sua, por isso precisam mostrar uma realidade que não condiz com a que vive, devido a uma obrigação de querer passar a ideia de que está tudo bem, onde na verdade não está bem.
“Vários estudos realizados nos últimos anos, principalmente em momentos de pandemia, demonstraram que usuários das redes sociais de vários países tentam passar uma vida que não existe. O Brasil foi o país campeão em números de pessoas que estão infelizes no seu dia a dia e utilizam as redes sociais para mostrar algo que não existe, por exemplo, a ideia de um casamento perfeito, viagens, a compra de um carro novo, realização profissional, ou seja, uma vida fake, porque a pessoa só exibe aquilo que ela quer passar do seu dia”, esclarece.
“Vida fake” cresce na sociedade cada vez mais conectada
De acordo com o psicólogo Rodrigo Lopes, muitas pessoas se questionam se vale a pena mostrar sua vida por inteiro. Além disso, pensam que exibir problemas e momentos negativos do seu cotidiano não vai garantir curtidas e comentários em suas publicações, e isso acaba gerando frustrações, adoecimento emocional e um sentimento de solidão extrema.
“Os resultados dos estudos mostram que as pessoas vivem num processo de especulação e expectativa de curtidas para se sentirem aceitas pela sociedade, para serem vistas, para sentirem felizes. A humanidade hoje busca constantemente essa felicidade e passa até mesmo acreditar nessa vida fake. Se percebermos no Instagram, por exemplo, você não vê nada de negativo de ninguém, porque as pessoas querem mostrar apenas que tem dinheiro, sucesso, amigos, uma excelente relação amorosa, que estão sempre felizes a todo instante e sabemos que não é bem assim, né?”, indaga.
O especialista acrescenta que essa é uma realidade que atinge a maioria das pessoas atualmente, pois sentem essa necessidade de publicar apenas momentos felizes, onde a felicidade depende muito dos números de likes ou comentários que recebe, inclusive, em alguns casos, se ela não receber um número específico de curtidas, não vai ficar feliz naquele dia, já envolvendo quadros de adoecimento psicológicos e psiquiátricos.
“A cada segundo alguém está postando um momento feliz nas redes sociais e isso é algo muito comum, a pessoa está numa festa, um jantar com os amigos, comprando roupa nova, mas é impressionante como não aparece nada de negativo. Nesse sentido, podemos falar de vida fake, as pessoas buscam pelo reconhecimento do outro para se sentir feliz, onde esse reconhecimento está mais com aquela própria pessoa e não com realidade que ela realmente vive. É muito claro como a felicidade hoje se tornou uma obrigação, eu tenho que ser feliz para ser aceito e essa felicidade depende da minha popularidade nas redes sociais. Isso está muito envolvido como eu vou ser visto e curtido, sempre proporcionando uma ideia de bem estar momentâneo”, finaliza.