As regalias flagradas nesta segunda-feira, durante uma operação no Batalhão Especial Prisional (BEP), não saíam de graça para os policiais militares detidos na Unidade Prisional da PM, que fica em Benfica, na Zona Norte do Rio. A denúncia anônima que motivou a inspeção e o início de uma investigação da Auditoria de Justiça Militar, obtida com exclusividade pelo EXTRA, detalha uma tabela de preços para uma série de serviços oferecidos aos PMs.
De acordo com o documento, os presos tinham direito ao uso de ar-condicionado depois de desembolsarem R$ 200 para que o climatizador entrasse no BEP. Também havia valores a serem pagos para ter acesso a geladeiras (R$ 250), micro-ondas (R$ 100), impressoras (R$ 200), computadores portáteis (R$ 500) e roteadores para acesso à internet banda larga via conexão 3G (R$ 150). Na fiscalização feita na segunda-feira de carnaval, foram recolhidos 12 aparelhos de ar-condicionado, 12 micro-ondas, dois tablets, um notebook, cinco celulares e uma antena de TV por satélite.
Suplementos alimentares eram vendidos
Para bebidas alcoólicas, como as 70 latinhas de cerveja também apreendidas durante a inspeção na Unidade Prisional da PM, o custo dependia do produto. A denúncia menciona ainda a entrada de suplementos alimentares de alto padrão no presídio, com preço fixado ?conforme o plantão?. O documento cita, também, ?perfumes importados sendo vendidos no interior da unidade com permissão da direção, após pagamento de propina?.
Durante a fiscalização ? quando os presos ameaçaram iniciar um motim e tomar dois policiais como reféns, com o intuito de ganhar tempo para esconder as mordomias ?, o material só foi encontrado graças às informações contidas na denúncia anônima. O documento também usa o termo ?cafofos? para descrever os esconderijos, ou seja, paredes, armários e tetos com fundos falsos, além de uma lixeira no segundo andar utilizada para camuflar os aparelhos de ar-condicionado.
PM vai instaurar inquérito nesta quinta-feira
O comando da corporação informou ontem, por meio de nota, que a Corregedoria Interna da PM vai instaurar um Inquérito Policial Militar amanhã, para apurar as responsabilidades pelas regalias denunciadas no BEP. Também reiterou que ?continuará trabalhando em parceria com as Promotorias de Justiça junto à Auditoria de Justiça Militar e à Coordenadoria de Inteligência do Ministério Público realizando fiscalizações frequentes na unidade?.
A denúncia foi remetida pelos Correios à promotoria da Auditoria de Justiça Militar e à Vara de Execuções Penais (VEP) do Estado do Rio, na segunda semana de fevereiro. A decisão de deflagrar a ação durante o carnaval teve a intenção de surpreender os detentos, que haviam inclusive programado churrascos comemorativos para segunda e terça-feiras. O denunciante afirmou ter tomado conhecimento das irregularidades por intermédio de um detento, e justificou que a opção pelo anonimato foi ?para garantir sua integridade física?.