O aumento da presença do eleitor nas redes sociais tornou este meio fundamental para as campanhas municipais. No entanto, as restrições impostas pela legislação eleitoral ao uso dessa mídia obrigam os candidatos a prestarem atenção no próprio comportamento virtual.
Esse impacto foi trazido pela Lei 13.165/15, apelidada de "minirreforma eleitoral", que permitiu e regulamentou o uso da internet, por meio de sites de campanha, redes sociais, aplicativos e mensagens – desde que não divulguem boatos, calúnias nem façam uso de robôs para enviar mensagem automaticamente.
A norma também proibiu pagar pela divulgação de mensagens. Uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (23.457/15) detalhou que, mesmo gratuita, é proibida a propaganda em site de empresas e organizações não governamentais ou em páginas oficiais da administração pública.
Para o cientista político Antônio Flávio Testa, o aumento da participação da população com as redes sociais força os candidatos a se prepararem melhor. “Ao mesmo tempo em que acontece a discussão política, o eleitor está participando. A sociedade muitas vezes se antecipa àquele debate pressionando os políticos”, disse Testa, que também é professor da Universidade de Brasília. Ele acredita que essa participação força os candidatos a propor “soluções factíveis e não promessas vazias”.
Descontrução
Testa alerta para os riscos das redes sociais de construir ou descontruir imagens. “Vimos nas duas últimas eleições presidenciais a tentativa de grupos de denegrir a imagem de um candidato. Vinculando a imagem com mensagens sem apelo social”, afirmou. Segundo ele, muitos candidatos ainda se preocupam mais em desconstruir a imagem de um oponente, em vez de trabalhar conteúdos propositivos.
Por outro lado, o resultado pode ser positivo caso o candidato consiga colocar questões de apelo social e vincular a discussão com a sua imagem. “Você constrói uma liderança digital muito poderosa. Essa é a grande vantagem do bom uso das redes sociais”, disse Testa.
Meios de Comunicação
O cientista político David Fleischer, também professor da Universidade de Brasília, disse que as redes sociais devem substituir a televisão e o rádio como meios preferenciais para a campanha. “Acho que vai acontecer. As pesquisas de opinião mostram que a audiência do horário gratuito no rádio e na televisão é muito baixa. O sujeito desliga e depois volta para ver o telejornal”.
Já Testa acredita que haverá uma diversificação dos meios de divulgação de campanha, sem o abandono de nenhum especificamente. “A tendência maior é você fazer um mix. Aquele candidato que tiver mais competência de usar os diversos veículos das redes sociais, usar a televisão e o rádio e outros mecanismos de comunicação, levará muito mais vantagem”.
O candidato também deve ter cuidado, segundo Fleischer, para não ofender certos segmentos da população. “Ele não [pode] desandar por religião, por gênero e por opção sexual. Tem de tomar muito cuidado para não ofender segmentos”, disse. Essas opiniões podem ser potencializadas pelas redes sociais.
Post Pago
Para o criador do Gabinete Digital e integrante do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política (Comp) da PUC-Rio, Vinicius Wu, fazer campanha nas redes sociais está mais difícil atualmente.
A razão é o sistema do Facebook para distribuir informação que direciona para o usuário conteúdos pelos quais já demonstra interesse. Isso dificulta os candidatos a alcançar novos públicos. A rede social usa essa estratégia para forçar o pagamento do recurso de impulsionar postagens, o que é vedado pelas regras eleitorais.