Os países ricos mostraram má-vontade e deram um mau exemplo nas negociações da Rio+20, disse à Reuters nesta quinta-feira uma alta fonte da delegação brasileira que participou das discussões sobre o texto final da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável.
"Para entender o interesse deles, basta ver que na Eco-92 todos os chefes de Estado do G7 estavam aqui. Agora, só tem um", disse a fonte, sob condição de anonimato, lembrando a presença de todos os principais líderes mundiais na reunião realizada há 20 anos na cidade.
O documento aprovado nas negociações prévias à reunião de cúpula da Rio+20, que foram lideradas pelo Brasil, recebeu críticas de ambientalistas e de delegações internacionais, principalmente da Europa, que apontaram uma falta de ambição no texto.
A delegação brasileira considera, no entanto, que as críticas não podem ser consideradas sem levar em conta que alguns desses mesmos países se recusaram a disponibilizar aportes para programas de desenvolvimento sustentável, disse a fonte.
Os países ricos, que atribuíram à crise econômica a impossibilidade de se comprometerem com recursos para o meio ambiente, "estão jogando para a galera e vendendo um discurso para opinião pública, mas nos bastidores das negociações têm sido tímidos nas propostas e negligentes em alguns casos", disse a fonte.
"Tem gente falando uma coisa e fazendo outra, literalmente", acrescentou.
O presidente francês, François Hollande, o único líder das nações do G7 presente à Rio+20-- também criticou, na quarta-feira, a falta de ambição do documento.
A fonte brasileira rebateu com firmeza as críticas de Hollande. "Participei de reuniões em que ele estava e, em nenhum momento, ele falou em colocar um centavo para a sustentabilidade", disse.
Apesar das críticas ao texto final da Rio+20, a fonte sinalizou pontos que considera avanços no documento, como a inclusão a partir de 2015 de medidas de sustentabilidade e no cálculo do PIB dos países o compromisso de erradicação da pobreza e iniciativas de mudança no padrão de consumo mundial.
"Isso é uma vitória. Conseguimos colocar o dedo na ferida. Já imaginou mudar o padrão de consumo da classe média norte-americana?", disse.
"Dentro do que era possível, tivemos avanços. Os meios de discussão da ONU são muito complexos, difíceis e exaustivos. Chegamos aqui (à Rio+20), depois de dois anos de discussão, com apenas 37 por cento do texto aprovado... um sinal de que muita gente não queria muita coisa".