Uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde revela que, em média, o consumo excessivo de álcool entre jovens brasileiros é quase o dobro dos outros países. E a consequência é mais grave do que parece. O consumo exagerado é responsável por, pelo menos, três milhões de mortes ao ano. Enquanto a média de consumo excessivo de álcool em outros países é de 7,5% no ano, no Brasil esse número é quase o dobro, chegando 12,5%.
O que assusta ainda mais é outro dado, revelado ano passado, onde Teresina aparece como a terceira capital do Brasil no consumo excessivo de álcool, de acordo com pesquisa da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. O levantamento foi realizado em 107 cidades e a capital piauiense ficou atrás apenas de Fortaleza e Salvador.
Essa realidade permanece nos dias atuais. Basta ir a alguma festa em Teresina para perceber o quanto as pessoas, sobretudo os jovens, bebem de forma exagerada, ao ponto de vomitar, desmaiar e passar vexame. Quando esse consumo de álcool se inicia cedo demais, a situação é preocupante, pois existe uma maior probabilidade da pessoa se tornar um alcoólatra.
De acordo com o médico hepatologista Antônio Barros, estudos mostram que quando a pessoa começa a beber ainda adolescente, o risco de se tornar dependente é cinco vezes maior. Segundo ele, isso acontece porque os circuitos neurológicos ainda não atingiram a maturidade, então a influência de uma substância que altera neurotransmissores tem um potencial maior.
“É por esse motivo que a maioria dos países têm legislação proibindo a venda e o uso de bebidas alcoólicas por menores”, explica o médico ao frisar que o consumo exagerado aumenta também o risco de violência, gravidez não desejada e doenças sexualmente transmissíveis, porque quem bebe se expõe a situações de risco”, completa.
Cresce o índice de “bebedores”
O Brasil tem pouco controle social. A frequência de consumo é grande e o controle social é pouco. Além disso, outro problema vem preocupando os especialistas na área. Houve um aumento do consumo de álcool entre homens e mulheres. Antônio Barros destaca que hoje não há diferença de consumo entre homens e mulheres. “Há 20 anos, para cada 10 homens tinha uma mulher que bebia. Hoje, para cada 3 homens, 1 mulher consome bebida alcoólica”, lamenta ao colocar que muitas pessoas entram em depressão por conta do consumo excessivo da bebida. “O álcool é classificado como uma substância depressora do sistema nervoso central, pois ele diminui a ação de um neurotransmissor, chamado serotonina”, diz.
Controle social pode ser a saída
A droga é considerada a maior causa de doenças e morte no país. O alcoolismo traz consequências negativas tanto para o consumidor de bebida alcoólica quanto para as pessoas que o rodeiam e a para a sociedade como um todo. É por isso que é necessário um controle social do álcool.
O controle social é um conjunto de medidas que já foram adotadas em alguns lugares do mundo, inclusive no Brasil, e que tiveram resultados. Antônio Barros destaca que a proibição não resolve, o que pode resolver é o controle social. A primeira medida a ser tomada, por exemplo, é fazer valer as leis já existentes.
“No Rio Grande do Sul, a fiscalização em relação ao cumprimento da Lei de que não pode ser vendida bebidas alcoólicas para menores de 18 anos, é feita com sucesso. Lá os fiscais vão descaracterizados, junto com menores e induzem os comerciantes a venderem para eles. Caso vendam, eles perdem o alvará de funcionamento e ainda recebem multas altíssimas”, relata Antônio Barros.
O médico sugere ainda a intensificação das Blitze, como acontece no Rio de Janeiro. Segundo ele, o Rio é o Estado que melhor teve resultados, porque lá funciona. “Quando eles fazem as Blitze diminuem em 20% o número de atendimento nos hospitais nesses dias”, coloca ao informar que uma outra opção é fazer propaganda na embalagem da bebida, assim como fizeram com o cigarro.
“O Brasil foi o país que mais reduziu o número de fumantes. Essa é a prova de que uma campanha bem feita tem resultados. Nas embalagens das bebidas deveria conter: “O álcool é a maior causa de adoecimento e morte” ou “20 % dos consumidores de álcool se tornaram dependentes”, finaliza.
“A lei é beber”
Pesquisas mostram que 50% dos adolescentes começam a beber entre 12 e 14 anos e que 80% dos casos acontecem em casa e na presença dos pais, é o que afirma o médico hepatologista e professor Antônio Barros. Em segundo lugar, em festas e casas de amigos; e em terceiro, em bares.
Além disso, entre todos os fatores de risco, ter um amigo que consome bebida alcoólica é o mais determinante para que um adolescente comece a beber. O estudante Aerton Uchôa, de 21 anos, é um dos jovens que começaram a consumir álcool bem cedo.
Como é o caso da maioria deles, que mesmo conhecendo os efeitos da bebida alcoólica no organismo e na vida social, ele começou a beber como uma maneira de autoafirmação e para ser aceito em seu ciclo de amigos.
“Meus amigos ficavam todo tempo falando para eu beber, para experimentar. Até que eu provei e até hoje bebo”, coloca ao frisar que bebe sempre que dá.
“Bebo mais é cerveja e uísque. De vez em quando bebo no meio da semana, às vezes, quando tem algum aniversário, quando vou assistir a um jogo ou mesmo em um bate-papo com os amigos depois da faculdade. Já no final de semana, é de lei: tenho que beber!”, acrescenta.
Para não passar vexame, Aerton conta que no momento em que vê que a bebida está lhe pegando, para um pouco e depois volta a beber. “Nunca passei mal a ponto de ter que ir para o hospital, mas vomitar e dormir já”, completa o estudante que afirma que quando bebe uísque não sente muita ressaca, porém, as vezes que tem é ruim demais.
Sente muita dor de cabeça, não consegue comer quase nada e ingere água o dia todinho.
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