Dezenas de sobreviventes das enchentes, desesperados por notícias de parentes desaparecidos, fizeram fila em frente ao necrotério no município de Teresópolis neste sábado. Enquanto isso, críticas à resposta das autoridades para um dos maiores desastres naturais do país estão aumentando.
Quase quatro dias depois que as chuvas provocaram enchentes e gigantescos deslizamentos de terra, autoridades da cidade serrana ainda estão lutando para lidar com a grandeza da catástrofe que matou centenas de pessoas na região norte do Rio de Janeiro.
Cemitérios em Teresópolis estão dominados pela dor, em meio ao grande número de corpos, e nas áreas mais isoladas os próprios moradores tiveram que enterrar as vítimas.
Autoridades do necrotério em Teresópolis, onde o número de mortos passa de duzentos, estão usando dois caminhões refrigerados - normalmente utilizados para o transporte de peixes - para manter dezenas de corpos que ainda não foram identificados.
Muitos moradores temem que parentes ainda estejam soterrados sob a água, lama e pedras que abriram um caminho de destruição em alguns vilarejos nos arredores da cidade, sugerindo que o número de mortos poderia aumentar consideravelmente. Autoridades não deram estimativas do número de desaparecidos.
Wemerly Moraes, de 37 anos, estava aguardando sua esposa em frente ao necrotério na manhã de sábado para identificar um corpo que poderia ser do filho de dois anos de sua irmã, cujo corpo já foi enterrado. "Isso ocorreu na manhã de quarta-feira. Quando eu fui lá na quinta-feira, ainda não havia ninguém trabalhando para encontrar as vítimas", disse o trabalhador de 37 anos. Teme-se que cerca de metade das vítimas do desastre sejam crianças, disse a ONG Save the Children.
Uma torrente de terra e água varreu a região, principalmente de comunidades pobres, esmagando casas e matando famílias inteiras enquanto dormiam. Alguns corpos em Teresópolis foram encontrados alguns quilômetros de distâncias de suas casas. Equipes de emergência ainda estão se esforçando para chegar a algumas áreas e precisam cavar os destroços com as próprias mãos, pois os veículos e equipamentos pesados não conseguem chegar ao local. Fortes chuvas dificultaram ainda mais os esforços de resgate.
Jorge Alfonso, um cozinheiro de 42 anos disse que perdeu 14 membros da família quando um deslizamento de terra arrastou o vilarejo de Campo Grande, incluindo sua mãe, duas irmãs, um irmão e dois filhos adultos. Por enquanto, apenas seis dos corpos foram encontrados. "Não tenho palavras," disse Alfonso, que estava indo e voltando entre o cemitério, para enterrar seus parentes, e o necrotério, onde tentava identificá-los desde o desastre.
Desafio para Dilma Rousseff
O tamanho da destruição se tornou um desafio para a nova presidente Dilma Rousseff, que decretou luto oficial de três dias a partir de sexta-feira pelas vítimas dos temporais. A tragédia expôs grandes falhas no planejamento de emergência e prevenção contra desastres no país, que busca ser uma nação desenvolvida nos próximos anos.
Dilma visitou a região na quinta-feira e prometeu um esforço de ajuda imediata que ainda precisa ser bem-sucedida nas áreas mais atingidas, mas as críticas têm sido principalmente voltadas às autoridades estatais e municipais. O governo federal destinou 780 milhões de reais à ajuda de emergência, e doações estão chegando de diversas parte do país.
Chuvas na região serrana
As fortes chuvas que atingiram os municípios da região serrana do Rio nos dias 11 e 12 de janeiro provocaram enchentes e inúmeros deslizamentos de terra. As cidades mais atingidas são Teresópolis, Nova Friburgo, Petrópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), choveu cerca de 300 mm em 24 horas na região.