As centrais de regulação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na região de Teresina são alvo de um trote a cada 240 minutos (ou quatro horas), em média, seis ocorrências por dia. O Serviço contabilizou, pelo menos, 480 chamadas falsas atendidas no ano passado. Os casos aumentaram nas férias, quando o atendimento às ocorrências cresce. Os trotes são prejudiciais, diz o Samu, porque o tempo de resposta para uma ocorrência faz diferença na hora de salvar vidas.
Por mês, são mais de 4 mil ligações atendidas e 1% é trote. Em 2018, o Samu regional de Teresina, que também atende os municípios de Campo Maior e Piripiri como reguladores, registrou 48 mil ligações. Apesar do número ser menor em relação a outros estados que possuem 8% das chamadas em trotes, muitas pessoas agem por má-fé e prejudicam o atendimento.
“Apesar de representar 1% dos casos e ser pequeno, isso causa um desconforto muito grande para nós, do Samu. Já trabalhamos com um exagero no número de atendimentos e qualquer ocorrência liberamos ambulância e é um sufoco muito grande”, afirma o diretor Clínico do Samu, José Ivaldo.
Apesar da checagem de dados conferida pela equipe de telefonistas de plantão, o solicitante passa por uma série de especificações, como o registro de nome, endereço, até que as informações são transferidas para uma equipe com um médico. Só depois, o serviço chegará a quem recorrer da emergência.
“O solicitante 'maqueia' a solicitação, diz coisa com coisa e inverdades. Apesar de existir a ocorrência, não é como ele informou. Em certos casos, o técnico percebe o trote e a coisa não anda e acaba excluindo aquela solicitação. O que incomoda mais são pessoas que ligam e falam pornografias com os atendentes, elas ocupam as linhas. Isso não gera uma liberação de ambulância”, reafirma o diretor.
Outra circunstância que o diretor chama de trote trata-se das chamadas feitas por crianças e adolescentes, principalmente neste período de férias. Um mesmo número já ligou de cinco a seis vezes no mesmo dia como uma brincadeira, de acordo com o diretor.
“É preciso chamar atenção para que os pais tomem cuidado para que seus filhos não liguem, o que ainda é comum, e irrita o funcionário. Passamos pelos sinais rapidamente para chegar ao local e a ambulância poderia ser utilizada em outra ocorrência. Isso ainda causa um desconforto e estresse na equipe. Infelizmente, é relativamente frequente”, salienta José. Apesar das ligações falsas, muita gente ainda solicita o Samu apenas para eventuais situações de nervosismo. “Muitas vezes, não é necessário solicitar a ambulância, são apenas situações de ansiedade. Já fomos em uma ocorrência dizendo que a pessoa tinha sofrido uma agressão física e, na verdade, ela só tinha uma raladura. Então isso é um trote”, mensurou.
Trote é crime e há punição segundo o Art. 266 do Código Penal: “Interromper ou perturbar o serviço telefônico” é crime e o infrator poderá incorrer em pena de detenção de um a seis meses ou multa; e o presente artigo se enquadra em qualquer caso e vítima. Quem pratica tem seu número e identidade investigado pelos órgãos de segurança.
Traumas em acidentes e quedas correspondem a 30% dos acidentes
Entre o número de ocorrências registradas, 30% são clínicas, como casos de diabéticos e hipertensos que passam mal, além de AVC, infarto. Outras ocorrências são os traumas. “Acidentes automobilísticos, quedas, agressões físicas variam em mais de 30% dos casos. Frisando que o maior pico dos registros acontece nos fins de semana, durante a noite, de sexta a sábado, e no domingo, a partir das 16 horas. Costumamos dizer que o 'bicho pega'”, reconheceu o diretor.
O Ministério da Saúde estabelece que a qualidade ideal de ambulâncias é uma para cada 100 mil habitantes. Teresina possui 8 ambulâncias básicas e duas ambulâncias avançadas pelos MS, além de uma terceira avançada pela Fundação Municipal de Saúde (FMS), diferente de capitais como São Luis, que só possui duas. (V.P.)